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Inquebrável

Summary:

Após três anos de sua festa de aniversário que marcava o início de sua reação para recuperar-se, a vida do cavaleiro de Andrômeda sofreu com mudanças positivas e o primeiro a cruzar a barreira da amizade para o amor romântico respeitosamente havia sido o santo de Peixes, Afrodite. O amor calmo e bonito dos dois estava prestes a enfrentar mais uma difícil prova. Seria o amor deles inquebrável?

Chapter 1: Prólogo

Chapter Text

Os cavaleiros seguiram a pista encontrada por Seiya no Japão. O grupo formado por Ikki, Afrodite e Shion foram para a base militar russa desativada a qual o grande mestre pôde rastrear pelo cosmo de Hyoga que estava de alguma forma instável. O grupo ao chegar lá por teletransporte conseguiu comprovar a suspeita de que Shun havia realmente sido sequestrado pelo cavaleiro de bronze. O estado do virginiano era deplorável e o aquariano parecia que tentava reanima-lo até perceber as presenças no recinto.

- Mal posso acreditar em tamanho descaramento! – Afrodite estava furioso como nunca se vira antes – Vocês foram baixos demais! Não consigo entender a motivação dela, mas, a sua? Lutasse de forma justa e limpa! O amor não é imposto e sim conquistado.

- Calado! – respondeu o outro loiro – Vocês não compreendem – mantinha preso a si seu refém – Eu tentei entender o que eu sentia e quando finalmente consigo vi que foi tarde demais. Eu queria uma chance, uma oportunidade que fosse para conseguir chegar ao coração dele. Estava preparado para desistir até encontrar Lana.

- Bom, acho que chegou a minha vez de falar aqui – pronunciou-se Lana - A minha motivação é realizar um simples teste para comprovar se minha teoria estava correta.

- Então resolveu brincar com a vida de um inocente? – o grande mestre tentava controlar seu temperamento ante a cena – Sinto a presença de seu cosmo divino, não tenho conhecimento de que deusa és, mas, isso será levado a Atena e ao conselho dos deuses.

- Não devo satisfações a um reles servo de Atena. Diga a sua deusa se quiser me procurar, estarei à disposição – sorriu – Por muito pouco você quase conseguiu Hyoga, uma pena que dessa vez não foi fraqueza sua, e sim, que o rapaz de alguma forma conseguiu escapar de ti – acenou de costas um adeus – Vocês correm contra o tempo, caso queiram que o jovem tenha chances de sobreviver sairia depressa ao hospital, apenas não garanto que ele será o mesmo depois do nosso “tratamento”.

- Víbora desgraçada! – o cosmo de fênix queimava intenso – Tô nem aí se você é uma deusa, o que vocês fizeram ao meu irmão é imperdoável! Ave fênix! – lançou seu golpe e a deusa misteriosa se desviou e usou sua super velocidade para escapar daquela emboscada de cavaleiros.

Chapter 2: Capítulo 1 - Vivendo um sonho

Notes:

Capítulo passado foi o prólogo, ou seja, poderia ser um pedaço anterior ou futuro da história contado ali, no caso eu escolhi um pedacinho do futuro para contar. Esse capítulo reflete o presente da história nova que acontece três anos depois do aniversário de Shun na fanfic "Recaída". A relação de amizade entre Shun e Afrodite dentro desse universo evoluiu, veremos para onde.
Boa leitura :)

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Com um pouco mais de três anos passados dos eventos envolvendo Shun e as amarras que Hades havia deixado em si como rastro da última guerra santa, o cavaleiro de andrômeda havia ido a sua última sessão de terapia e visivelmente melhor comparado ao rapaz sem rastros de esperança em si, depressivo e que preferia viver enclausurado numa clínica a conviver novamente em sociedade. Seu aniversário de quinze anos foi um divisor de águas para sua relação com os outros e consigo mesmo. Não que os dias ruins deixaram de existir, mas, com o apoio que o virginiano possuía os obstáculos foram enfrentados com mais força e persistência.

Ao receber alta o jovem sabia que não poderia se descuidar, mesmo em meio as missões ele continuou com suas medicações, uma alimentação saudável e os exercícios físicos, parte inevitável de ser um cavaleiro. Sempre meditava como Shaka havia o ensinado para manter sua mente livre dos sentimentos negativos, havia ainda algo que doía em si, apesar do tempo passado, não havia reencontrado Hyoga para que conversassem a respeito de sua última briga. O virginiano desejava perdoar o russo e tentar entender o que se passava em seu coração no momento que disse aquelas palavras tão duras para si.

- Ei Shun! Você anda distraído novamente – Afrodite chamou sua atenção a mesa que desfrutavam o jantar – No que estava pensando?

- Desculpe-me meu bem – tocou a mão do pisciano de forma tímida – Eu sei que deveria estar muito feliz nesse momento após tantas conquistas valorosas em minha vida, o fim do tratamento, nosso relacionamento, mas, ainda sinto uma pendência e uma angústia que eu não consigo explicar...

- Está tudo bem meu anjo – acariciou a mão que segurava a sua – Está a ficar ansioso por algo que nem se sabe? Vamos desfrutar esses últimos momentos juntos antes de nossas viagens.

- Tem razão, perdoe-me por isso – sorriu fraco – Eu terei que ir ao Japão em uma missão de reconhecimento e aproveitarei para ir ao templo agradecer por mais um ano de vida, acho que não faço algo do tipo desde a época do orfanato que algumas das tias nos levavam às vezes.

- Queria estar contigo nesse momento, mas, terei que ir ao Alaska. A ação humana está a deixar o planeta pior de se viver – disse com pesar o sueco.

- Realmente, minha missão tem relação com a ação humana também...

- E como está seu treinamento com relação a parte divina de seu cosmo? – perguntou para desviar-se do assunto que visivelmente estava deixando seu pequeno chateado.

- Estamos avançando, desde que comecei esse treinamento especial com Shaka no ano passado tenho melhorado bastante – sorriu – Nessa missão vou testar uma de minhas habilidades em maior escala.

- Agora eu fiquei curioso, qual foi a influência boa que aquele traste te deixou de herança?

- Absorver as energias negativas, isso de certa forma pode fortalecer o meu cosmo, mas, aprendi com mestre Shaka a converter em algo bom e devolver ao ambiente, pois meu corpo não está pronto para armazenar tanta energia – explicou – Já estive em alguns lugares hostis e consegui mudar a atmosfera em pequena escala.

- Isso explica bem seu êxito em missões diplomáticas.

- Esse é o meu último recurso, não o primeiro – resmungou.

- Último? Então não tem mais se envolvido em combates físicos.

- Há um bom tempo. Nossa deusa e Shion têm selecionado esses tipos de missão porque sabe o quanto me dói ferir pessoas, não importa de qual lado estão, eu evito ao máximo chegar aos ataques físicos ou com cosmo.

- Consigo me recordar bem disso – levantou-se para recolher as louças para lavar – Por isso que és o meu anjo – o rapaz corou com o comentário – Viu? É tão fofo te ver encabulado desse jeito – brincou e deu-lhe um selinho rápido.

- Deixe-me te ajudar com isso, por favor- tentou mudar de assunto.

- Melhor não, Ikki vai ficar zangado ao ver que passou da hora aqui – ironizou – Acabaste de completar dezoito anos e ele ainda o trata como um bebê.

- Bom, eu entendo que após tudo o que aconteceu comigo ele não quis se desgrudar de mim por preocupação – foi ao auxílio do namorado – Vou conversar com ele depois daqui, ganhei a minha alta hoje e já estava realizando minhas missões, estudando também e estou há pelo menos seis meses estável. Meu irmão precisa entender que já consigo caminhar novamente com as minhas próprias pernas.

- Eu conheço bem do temor de seu irmão, mas, ele confiou em mim quando eu pedi a bênção dele para o nosso namoro no ano passado.

- Sim, ele até ironizou com um “demorou atum” – riram após a péssima imitação do virginiano – Ele confia em você Dite.

- Só não confia que eu posso controlar meus impulsos sexuais contigo durante a noite – viu o virginiano quase derrubar os pratos que secava – Sabe que mesmo casados eu não faria nada que não desejasse – foi aí que o virginiano acabou derrubando um copo de vidro no chão e cortou o dedão do pé por estar descalço, no estilo japonês quando se adentra uma casa e deixa os calçados em outro lugar – Shun, você está bem?

- Me perdoe, eu quebrei parte da sua louça – foi erguido no colo pelo pisciano e o colocou sentado sobre o balcão.

- Sabe que isso não me importa nada comparado a ti – enxugou a lágrima caía sobre o rosto do virginiano – Fique paradinho aí que eu vou fazer essa ferida se fechar – usou seu cosmo para curar o amado do pequeno corte e em seguida limpou os vestígios de vidro enquanto Shun limpava o rastro de sangue em seu pé.

- Me desculpe mesmo. O que você me disse que me pegou de surpresa – confessou ainda de cabeça baixa.

- Meu tímido mais lindo! – acariciou os cabelos – Acho que dá tempo para a sobremesa que esquecemos de comer.

- Espero que seja algo saudável para compensar esse jantar maravilhoso - desceu da bancada.

- Pode pegar na geladeira, tem gelatina de morango e chantily se quiser. Eu vou pegar os potinhos de sobremesa.

- Nada mais de vidro hoje, por favor! – brincou – Se eu levar outro susto agora eu nem sei o que poderá acontecer.

- Então não se vire agora – abriu um sorriso zombeteiro – Feche os olhos, vire-se devagar e me entregue o pote da gelatina.

- Que jogo é esse Dite? – seguiu as instruções do pisciano.

- O primeiro passo é para não gerar mais acidentes – riu quando o castanho inflou as bochechas com o comentário – É um fofo até zangado!

- ‘Tá bom, já foi e agora? – perguntou um pouco impaciente, pois ainda teria que conversar com o irmão.

- Tudo bem meu anjo, já pode abrir os olhos agora – disse em tom sereno.

- Ok – o virginiano abriu os olhos e não viu seu namorado alto por ali, mesmo tendo escutado sua voz bem perto de si – Dite, cadê voc... – olhou para baixo e o viu ajoelhado com uma caixinha aberta com um anel dentro.

- Shun, meu anjo... – estava muito ansioso por aquele momento – Eu esperei por muito tempo para dizer essas palavras. Eu já sabia que te amava há bastante tempo, quando esteve hospedado aqui aquela vez me fizeste despertar um sentimento tão puro quanto o teu coração e com o passar do tempo a conhecer-te mais, nos bons e maus momentos, fez com que consolidasse esse bom sentimento em meu peito. Sinto que não consigo esperar mais para te chamar de esposo e vivermos nossa vida juntos nessa casa – o virginiano já se desabava em lágrimas – Aceita se casar comigo?

- Sim! Eu aceito meu amor – abraçou-o ainda trêmulo – Acho que hoje é o melhor dia da minha vida.

- Acho que vai perder para o dia do casório – brincou – Dê-me tua mão direita. Ficou perfeito!

- Alguém já sabia que faria o pedido? – enxugava suas lágrimas.

- Apenas a nossa deusa, Shion e o Máscara.

- Bom, eu acho que já teremos que contar a novidade para o Ikki, sinto o cosmo dele na entrada da casa – sorria radiante.

- Faremos juntos meu noivo – seguiram de mãos dadas para contar a novidade.

Notes:

Assuntos mal resolvidos ficam martelando nossas mentes às vezes e é exatamente o que aconteceu no início do capítulo com Shun. Ele e Hyoga não se falam desde o fatídico dia que os dois haviam se desentendido feio, mais pela parte do Cisne.
Para o próximo capítulo veremos como está o nosso aquariano russo. Até a próxima ;)

Chapter 3

Notes:

Como prometido trarei nesse capítulo o lado de Hyoga nessa fic e quem é Lana (que vocês viram no prólogo).
Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Distante do Santuário estava Hyoga, ele havia viajado para a terra natal de Shun como prometera e lá, distante do rapaz de cabelos castanhos conseguiu entender seus sentimentos por ele e o porquê de tantos ciúmes que sentia do amigo. O russo continuou a realizar suas missões pelo Santuário, mas, não retornou para lá. Ele tinha conhecimento do ressentimento que alguns cavaleiros ainda nutriam por si, então decidiu seguir sua vida e cumprir suas obrigações como cavaleiro sem vê-los. Às vezes conseguia uma notícia ou outra por Camus e Shiryu que eram os únicos que mantinham contato consigo ao notar o arrependimento do loiro.

Estava tudo bem com o Cisne, apesar de não estar feliz por estar longe de todos, principalmente do virginiano, ele se dava por satisfeito ao ter notícias de seu amado. Quando completou 18 anos no ano anterior, Hyoga precisou cumprir com o serviço militar obrigatório na Rússia e sua deusa estava ciente disso. O que o aquariano não esperava era encontrar com Lana em seu momento mais frágil.

Flashback on

O aquariano estava devastado ao saber do namoro de Shun com Afrodite de Peixes. Ele mal tinha começado seu serviço militar e uma notícia dessas o desestabilizou. O jovem correu deixando o rastro de pegadas congeladas pelos corredores da instalação e quando viu que estava distante começou a socar uma árvore de tronco grosso e por pouco ela não se partiu ao meio, mas, congelou em meio aos golpes com seu cosmo frio e descontrolado. Então uma figura feminina apareceu atrás de si.

- Rapaz, o que fazes aí? Responda – questionou a jovem oficial.

- Perdão Capitã Lana – enxugou rapidamente suas lágrimas para não ficar ainda mais constrangido na frente de sua superior – Retornarei para o dormitório.

- Eu pude sentir seu cosmo, identifique-se adequadamente ou terei que tomar as providências cabíveis – disse a loira séria.

- Então a senhora tem conhecimento do cosmo – ela anuiu esperando que ele prosseguisse – Eu sou Hyoga de Cisne, cavaleiro de Athena.

- Um cavaleiro de Atena aqui? Estou lisonjeada! – ao ver o olhar confuso do jovem se propôs a explicar – Meu nome é Lana, sou filha de Hefesto e Aphrodite.

- Espera...A senhora é uma deusa grega? O que faz aqui e por que nunca ouvi falar de ti?

- São muitas perguntas meu jovem, vejo que estás deveras aflito – aproximou-se com um sorriso – Então que tal trocarmos uma história por outra?

- Acho justo e de certa forma é bom eu não precisar esconder quem sou perto de alguém.

- Digo o mesmo.

Lana começou a contar a própria história primeiro. A filha dos deuses e também deusa contou uma história que envolvia seus pais e que ninguém tinha conhecimento, de como Hefesto estava triste e desolado com o comportamento devasso de sua esposa, por estarem casados e a deusa do amor não o amar como ele a amava. Que em uma conversa com Nêmesis, a deusa da vingança, ele teve uma ideia de como sua mulher lhe ser fiel, obediente e principalmente dar a ele algo que ela teve com seu amante Ares, um filho. O deus conseguiu aquilo que ele queria, mas, a liberou de seu compromisso após o nascimento da filha por arrependimento, então por se considerar indigno de cria-la e pela ex-esposa a rejeitar, a deusa foi criada por Nêmesis e recebeu esse nome, pois foi adotada e o significado é “minha criança”. Após alguns séculos ela quis viver no mundo humano e longe das asas de sua mãe adotiva.

Hyoga então contou sua história de vida para a deusa, não viu problemas em se abrir ao ver como a mulher despiu sua história e seus sentimentos naquele relato. Falou brevemente sobre a perda da mãe, sobre ser um estrangeiro em outro país, como se tornou um cavaleiro, o motivo de ter se distanciado do Santuário e o porquê de estar tão triste e com tanta raiva. A deusa se compadeceu da história do russo e decidiu ajudar.

- Dói-me tanto ver um coração partido, acho que isso se deve pôr eu carregar parte dos genes de minha genitora – enxugou suas lágrimas – Acho que sei como posso ajudar no seu caso.

- Vai me auxiliar? Por quê?

-Eu acho que eu e meus pais poderíamos ter sido felizes se ele não tivesse sido mole e deixado a minha mãe biológica ir. Então espero que meu irmãozinho Eros não fique bravo por eu bancar a “cupido” em seu lugar.

- Vai usar seus poderes para unir-me a Shun?

- Bom, eu não passei pelo meu “batismo” no Olimpo, então tenho os poderes equivalentes a um deus comum, no caso força, telepatia e agilidade. Então há outra forma que eu posso ajudar, primeiro solicitarei que entre para a minha equipe interrogatório e espionagem, assim entenderá melhor a psique humana e conseguirá trabalhar sobre ela.

- Fala sobre manipulação? Isso não me parece certo.

- Nunca ouviu falar da frase “pelo amor vale tudo”?

- Já ouvi, mas...

- Você irá trazê-lo até você, pense assim – continuou – Também há as medidas extremas que se tratam das joias que Hefesto fez para Aphrodite.

- O que fazem essas joias?

- Melhor entrarmos, está ficando mais frio e temos muito o que conversar cavaleiro.

Flashback off

Quando completou o tempo necessário de serviço militar, o aquariano seguiu sua intuição e voou até o Japão. Com os ensinamentos da deusa que acompanhou em campo, o jovem se sentia preparado para conquistar o amado. O russo não queria ter que apelar para as medidas extremas de Lana, se Shun ainda fosse o garoto bondoso e ingênuo que conhecia seria mais fácil de manipular seus sentimentos e trazê-lo para si sem danos.

- Eu sei que isso é uma loucura, mas, será por amor que farei – disse esperançoso – Imagino que deva estar feliz meu anjo, porém a felicidade maior o aguarda ao meu lado.

Notes:

O que acharam da deusa Lana (personagem criada para esse universo)?
Eu pensei na relação de Hefesto e Aphrodite, nas traições da esposa e em como ele se sentia, então criei uma treta entre os deuses do Olimpo. Assim surgiu Lana que foi criada por Nêmesis. Quais são as reais intenções dela?
Hyoga estava chateado e talvez se conformaria caso não houvesse tal interferência.
Beijos e até a próxima ;)

Chapter 4: Capítulo 3 - Prenúncio de lágrimas

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Shun e Afrodite estavam no aeroporto, como não havia necessidade do uso de suas armaduras em suas missões, então poderiam embarcar como civis e não havia necessidade de pedir a Mu ou Shion os transportassem. Eles aguardavam os voos serem anunciados no saguão e ficaram ali se despedindo. Ikki aceitou bem ao pedido por ver a felicidade estampada no rosto do caçula, ainda esperariam mais um tempo até o casamento, mas, já deram um passo muito importante.

- Meu querido, mal posso esperar para retornar com êxito em minha missão para te rever – abraçou forte o loiro.

- Eu também meu pequeno, mal começamos nosso noivado e estaremos separados – afastou os cabelos dos olhos do castanho – Espero que a sensação ruim que estou sentindo agora seja apenas excesso de preocupação.

- Dará tudo certo, essa missão não exigirá de mim qualquer tipo de embate físico. Tentarei não esgotar o meu cosmo e recuperarei parte das minhas energias no Japão e retornarei no primeiro voo para a Grécia quando me sentir melhor – detalhava seus planos – Ah! E irei ao templo antes da viagem, não posso esquecer disso.

- Sabia que o meu metódico tinha um cronograma nessa cabecinha – brincou – Por favor, tente cumprir com sua promessa, não se exija tanto – beijou-lhe a testa – Acabaram de chamar o seu voo.

- Eu prometo – sorriu – Até breve meu amor – roubou-lhe um selinho sorrateiramente quando ficou nas pontas dos pés e correu até seu portão de embarque.

- Até breve meu querido – murmurou até o aviso de seu voo tê-lo tirado sua concentração da figura de seu noivo.

...

Shun chegou depois de um longo voo ao Japão, ele se instalou em um hotel já na cidade que realizaria sua missão, antes do avião pousar o cavaleiro conseguia sentir a energia que negativa que pairava o ar. Hiroshima pode ter sido reconstruída após a segunda guerra mundial e a vida ter voltado a normalidade após tanto tempo dessa tragédia, mas, havia uma grande aura pesada que parecia pior ao anoitecer. O japonês chegou à conclusão de que não havia uma presença maligna ali, apenas milhares de almas confusas que não conseguiram chegar aos domínios de Hades desde aquela terrível época e que com o passar dos anos algumas delas se revoltaram e outras caíram em tristeza e negatividade. Andrômeda percebeu que aquele problema não caberia apenas a sua alçada, então no dia seguinte ele ligou para Shion que passou o contato de Pandora com a autorização de sua deusa. A general de Hades disse que acompanharia esse caso pessoalmente, já que a trégua entre os reinos estava em vigor e por aquele problema pertencer mais ao Submundo do que a Terra em si.

Após dois dias da chegada de Shun a cidade japonesa Pandora apareceu. Eles fizeram um excelente trabalho conjunto, o virginiano conseguia purificar aquele lugar e as almas atormentadas e Pandora conseguiu guia-las para um portal que as levava ao submundo. Foi uma semana bem cansativa para ambos e já havia chegado a hora da despedida, ela voltaria para a Alemanha e ele iria para outra cidade japonesa, a mansão Kido e cumprir com o que prometera para seu noivo.

- Nunca conseguiria imaginar que após esse tratado de paz algum dia trabalharíamos juntos, ainda mais depois de tudo o que aconteceu com você após a guerra...

- Não se preocupe com isso Pandora, ainda bem que posso dizer que são águas passadas – sorriu – Acredito que essa não foi a única cidade no mundo nessa situação, então acho que terei que trabalhar contigo novamente ou algum de seus companheiros espectros. O importante é levar equilíbrio para os três domínios dos deuses nesse planeta.

- Sua atitude é muito nobre, não foi à toa que Hades havia o escolhido como seu receptáculo – ela percebeu a gafe – Opa! Me desculpe por isso.

- Acho que não faz mal, sua intenção foi um elogio, então eu levarei como um – ajudou-a a despachar as malas – Tenha uma boa viagem e descanse bem antes de retomar suas atividades. Você gastou bastante energia também, então, por favor, seja prudente.

- Está bem, agradeço a preocupação – antes de partir a jovem alemã sentiu uma sensação estranha – Shun, eu também preciso pedir para que se cuide bem. Eu senti algo ruim e acredito que isso não envolva a mim.

- Como uma presença obsessiva à espreita? – ela anuiu – Eu percebi isso um pouco depois que você chegou aqui, pensei que pudesse ser uma das almas ou um espectro nos vigiando.

- Posso lhe garantir que não é um espectro, vim sozinha dessa vez – segurou as mãos do cavalheiro – A sensação que eu tive era de morte, então tome bastante cuidado.

- O risco de morte é enorme quando se é um cavaleiro, mas, não achava que fosse o caso pelo tipo de missão que tenho me envolvido.

- Tens algum inimigo? Alguém que deseja se vingar de ti?

- Não me recordo de ninguém. Eu detesto me envolver em conflitos, então não tenho suspeitos.

- Espero que tenha sido coisa da minha imaginação então. Adeus!

- Eu também espero. Adeus!

Notes:

Foi um capítulo curtinho de início fofo, mas, o anúncio de tempestade que veio com ele não pode ser ignorado. Gostei de fazer que Shun trabalhasse com Pandora, longe do cenário de guerra vê-los cooperando é bom.
O assunto mais sério que vai girar o universo dessa fanfic começarei a trabalhar melhor no próximo capítulo. Até lá!

Chapter 5: Capítulo 4 - Ledo engano

Notes:

Olá! Espero que esteja tudo bem com vocês. Só deixo um recadinho, preparem-se para passar raiva nesse capítulo rsrs
Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Shun conseguiu cumprir com quase todos os objetivos de sua lista mental. Ele se sentiu satisfeito em auxiliar aquelas almas a encontrarem um caminho para a paz, chegou à mansão Kido e entrou em contato com seu amado noivo pelo aplicativo de mensagens. Na manhã seguinte, Shun foi até um templo próximo do orfanato realizar seus agradecimentos. O virginiano ainda se sentia cansado de sua última missão, não era bem um cansaço de ordem física, seu próprio cosmo se enfraqueceu durante o processo por não saber muito como calibrar a quantidade e essa missão exigiu mais de si do que as outras.

À espreita estava Hyoga, desde que sentiu o cosmo de Shun no Japão e teve sua intuição confirmada. O aquariano tentava controlar seus impulsos para não sair correndo de encontro a sua paixão, seus movimentos precisavam ser calculados, seu cosmo ocultado e esperava pelo momento mais oportuno para se aproximar. Quando viu o castanho sair do templo e passar próximo a uma lanchonete e sentar-se à mesa, viu sua oportunidade bater à porta.

- Shun? – viu o amigo virar-se para si e ficou encantado ao vê-lo de perto – Já faz bastante tempo... – ele mesmo se sentiu um pouco desconfortável de iniciar a conversa.

- Hyoga! – abraçou-o rapidamente após se recordar do clima ruim que havia se estabelecido entre eles em seu último encontro* - Me desculpe por isso – apertava o tecido de seu suéter verde – Nossa! Você cresceu ainda mais desde a última vez que nos vimos.

- E você parece não ter mudado nada – sorriu – É uma coincidência te ver por aqui. Eu acho que precisamos conversar.

- Estava em missão, aproveitei para visitar essa cidade e o templo que eu ia às vezes quando criança – fez um sinal para juntar-se a ele à mesa – Por favor, sente-se. E você?

- Terminei o serviço militar há pouco tempo, vim a passeio, ainda decidindo para onde ir.

- Volte ao Santuário, seu mestre sente a sua falta, foi o que eu pude perceber nesses anos que se passaram – bebericou seu suco – Eu gostaria de entender o que houve naquele dia entre nós.

- Eu me fiz essa pergunta por muito tempo – olhava nos olhos dele – Estava confuso naquela época e acabei descontando em ti, não sabe o quanto eu estou envergonhado e me arrependo disso – ali estava sendo ele mesmo. Hyoga sabia que um dos caminhos para uma boa manipulação era usar elementos verdadeiros em seus discursos – Por favor, me perdoe.

- Em outro momento talvez eu não conseguisse, mas, hoje eu posso dizer de coração que o perdoo – segurou a mão do russo – Quero continuar com nossa amizade, contar as novidades – aqueles olhos verdes brilhavam de felicidade por estar finalmente libertando seu coração do último resquício negativo de seu passado.

- Obrigado, Shun – ele notou uma aliança no dedo anelar direito de andrômeda – Temos tempo para conversar?

- Temos sim, estarei de saída no final da tarde para a Grécia, pode se juntar a mim nessa viagem. Já que colocamos um ponto final nessa história.

- Acho que nem todos irão me perdoar como você, principalmente o seu irmão.

- Conversarei com Ikki depois, o importante é ter sua amizade de volta e trazer mais harmonia ao Santuário.

Os dois conversaram por mais um tempo, Shun falou um pouco sobre o que aconteceu após a partida de Hyoga, o que causou sua piora naquela época e resmungou por ter ganhado um mísero centímetro de altura naqueles três anos. A conversa por mais que tocasse em alguns assuntos mais sérios correu de forma leve por parte do interlocutor virginiano. Quando chegou o assunto sobre o namoro e o noivado recente de Shun, o cavaleiro de cisne se sentiu desafiado a manter o controle, ele usou algumas frases manipuladoras clichês apelando para diversos fatores, criando empecilhos e a cada resposta confiante do mais jovem, mais ansioso o aquariano ficava. Mesmo tendo treinado tanto sua manipulação, a relação sólida e estável de Shun e Afrodite minou as esperanças do cavaleiro conseguir seu objetivo de forma menos danosa aos dois.

- Com licença, preciso ir ao banheiro, acho que eu bebi suco demais, mas, era o meu favorito – riu – Volto logo.

- Está bem – checou o celular e viu a mensagem de Lana – Infelizmente teremos que ir para o plano b – suspirou profundamente.

Hyoga aproveitou-se da ida ao banheiro de Shun para colocar um sonífero forte no restante de sua bebida. Também mandou uma mensagem para que Lana ligasse para ele dentro de dois minutos para prosseguir com a ideia infame dela. Ele torcia internamente para que fosse rápido o processo de “reprogramação”, pois sofreria em acompanhar o sofrimento que ele carrega.

- Falei que voltaria logo – sentou-se para terminar aquele lanche – Mal posso esperar para voltarmos ao Santuário, acredito que nossa deusa ficará contente ao ver que fizemos as pazes.

- Com certeza – sorriu e seu celular começou a tocar – Licença, vou precisar me afastar um pouco, pois o sinal da minha operadora está fraco aqui.

- Sem problemas Hyoga – bocejou levemente – Vou ver se tenho sinal para responder algumas mensagens.

Não demorou muito para o aquariano ver sua vítima cair no sono. O loiro foi de encontro a ele que estava adormecido com a cabeça encostada no braço sobre a mesa, seu celular havia caído sobre outro banco, como a conta já estava paga foi fácil sair de lá de forma mais desapercebida. Inicialmente jogou o braço do virginiano sobre seu ombro e o segurava pela cintura com o outro braço, ao se distanciar da lanchonete ele o carregou no colo até um carro alugado que estava estacionado à duas quadras do local. A viagem seria longa, pegariam um avião de um contato de Lana e mais outra viagem de carro. O sedativo tem efeito longo, mas, talvez houvesse a necessidade de ser aplicado outra vez. Ao colocá-lo dentro do carro com o cinto de segurança tratou de colocar o colar encantado forjado por Hefesto, aquilo bloquearia o cosmo de Shun e o deixaria como um humano comum, o que facilitaria seu plano.

- Não gostaria de ter que chegar nesse extremo, mas, espero que futuramente entenda que tudo o que estou fazendo é por amor.

Notes:

Imagino a raiva que vocês estão sentindo do Hyoga nesse momento. É triste se ver enganado por alguém que você nem espera. Shun foi verdadeiro em sua intenção de perdoar, me sinto triste por ele quando chegar a descobrir o que aconteceu.
Antes de me despedir, eu gostaria de deixar alguns links que me ajudaram um pouco a montar um perfil para o Hyoga nesse universo. Pesquisei um pouco sobre pessoas manipuladoras e a questão das paixões doentias que acarretam consequências para o alvo dessas pessoas.
https://administradores.com.br/artigos/9-sinais-de-que-voce-esta-lidando-com-um-manipulador
https://www.dm.jor.br/cotidiano/2017/12/quando-a-paixao-vira-doenca/

No próximo capítulo veremos um pouco da atuação do Cisne e de Lana. Até a próxima!

Chapter 6: Capítulo 5 - A "reprogramação"

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Shun acordou em um ambiente estranho, sua última lembrança era de estar na lanchonete com Hyoga que tinha ido atender o telefone, o restante de suas memórias estavam confusas, não se recordava de ter pego no sono, onde que isso havia acontecido. Seus olhos verdes estavam se acostumando com a fraca iluminação do ambiente pequeno e pelos detalhes que pode notar deduziu que estava em uma cela em local desconhecido. A mente do virginiano se enchia de perguntas, as principais eram: Quem? Como? Por quê? Onde? Ele também estava preocupado com Hyoga que estava perto de si em sua última lembrança, estaria ele também preso ali?

Não tão distante dali estavam Lana e Hyoga, acompanhando as ações do virginiano pelas câmeras na sala de vídeo de uma das bases militares desativadas que Lana possui acesso. Inicialmente a agitação de Shun deixou a deusa satisfeita, pois julgava que o trabalho seria mais fácil do que pensava após ouvir o relato do aquariano. Não demorou muito para a loira se frustrar, quando viu que o aprendiz de Shaka aos poucos se acalmava e se colocou na posição de lótus para meditar.

- Eu lhe avisei que o contato que ele teve com Shaka de virgem poderia deixar as coisas mais difíceis.

- Então deixaremos o rapaz em situação de estresse, vamos piorar gradualmente – sorriu – Eu gosto de um bom desafio, mas, confesso que precisamos fazer essa reprogramação o mais rápido possível.

- Não compreendo.

- Shun é um cavaleiro de Atena e bastante querido pelo o que descreveste, não demorará muito para sentirem a falta dele e começarem a procurar – apertou um dos botões do painel – Por mais que ele esteja utilizando o colar que bloqueia o cosmo e enfraquece o portador, chegará o momento que hão de encontra-lo, por mais segura que seja essa área corremos esse risco. Até lá ele precisa estar completamente entregue para que possa desmentir qualquer acusação e possam viver suas vidas felizes em paz.

- Quanto tempo acha que temos?

- Talvez duas semanas, considerando que seus amiguinhos sejam espertos – suspirou – Se ele se mantiver firme dessa maneira – apontou para a tela – Terei que usar recursos ainda mais pesados. Só espero que funcione e não tenha o mesmo fim que a experiência cinco. Apenas siga o protocolo se quiser ter sucesso e não seja mole.

- Será diferente, tenho fé nisso. Estava pensando até em algo mais brando – o russo relatava sua ideia com calma – Talvez se eu viesse a “salvá-lo”, ele poderia se apaixonar por mim e largar aquele peixe podre.

- É bem arriscado – disse a loira – Pense cisne, você tentou manipulá-lo, plantar dúvidas sobre os próprios sentimentos e não surtiu efeito. Essa ligação que esse rapaz tem com o cavaleiro de ouro pode ser mais forte do que imagina. Ele seria grato a ti caso o “salvasse”, mas, não largaria o noivo.

- Está certa – apertou os punhos – Do jeito que as coisas estão hoje, provavelmente isso aconteceria – seu orgulho estava ferido, nunca pensou que iria tão baixo em nome do amor que dizia sentir – Vamos testar aos poucos essa ligação, não acredito que seja tão forte a ponto de ser inquebrável.

- Esse é o espírito! – sorria satisfeita com a determinação do cavaleiro, seu plano estava ativo – Não está curioso sobre o botão que eu apertei? – ele assentiu – Botão climático, posso programar o termostato para alternar a temperatura dentro das próximas quarenta e oito horas, assim faremos o primeiro contato com ele estressado.

- Ele pode ficar doente facilmente desse jeito, mesmo que se faça de durão poderá contrair uma gripe – disse preocupado – Ainda mais com o cosmo selado por aquele colar.

- Temos remédios para isso, acalme-se. Precisamos deixá-lo fraco e vulnerável para fazer isso dar certo.

...

Passadas as horas que Lana determinara, ela decidiu checar as câmeras enquanto Hyoga estava fora. Para o plano dar certo, o aquariano não poderia ficar naquele mesmo lugar por tanto tempo ocultando o próprio cosmo, não poderia atrair as suspeitas do Santuário. A deusa viu que o virginiano se manteve em meditação apesar das péssimas condições que se encontrava. Então ocorreu a ideia de ver o histórico médico do garoto, invadir o sistema era uma tarefa fácil para a divindade acostumada com as tecnologias humanas, sempre gostou de trabalhar com equipes pequenas, ainda mais em seus negócios escusos, precisou aprender a realizar inúmeras tarefas sozinha.

Ao invadir o sistema e encontrar o prontuário de Shun que estava escrito em grego, Lana se sentiu um pouco saudosa do idioma que estava acostumada a falar desde seu nascimento até trocar inúmeras vezes de país e falar na língua oficial de cada um. O médico que o acompanhava havia dado alta ao paciente há pouco tempo e viu que ele ainda fazia uso de medicação. A loira percebeu que estava no caminho certo, mas, que demoraria para desestabilizá-lo se continuasse daquele jeito. Ela tinha urgência, pois as novas mercadorias também chegariam lá dentro de pouco tempo, transformar espiões rivais e conspiradores do governo em escravos e vende-los se tornou um negócio bastante lucrativo. Então o treinamento de Shun precisava chegar ao fim antes de Hyoga se dar conta de que os experimentos que presenciara anteriormente, não eram apenas pela ciência (apesar da crueldade envolvida) e sim um plano de negócios.

- Talvez você acabe nem resistindo rapaz – olhava pelo monitor ele finalmente cair no chão de exaustão e dormir – Preciso provar ao meu pai que teria dado certo caso ele não tivesse sido fraco e insistido um pouco mais com minha mãe, por isso esse fedelho está a usar as joias que ele forjou.

A deusa colocou uma máscara branca que cobria toda a face com uma expressão feliz, aquele era um disfarce que utilizava nesse tipo de operação ilegal para não ser reconhecida e a roupa de enfermeira dava um toque final sádico na opinião dela. Com sua força não seria difícil manipular o corpo franzino do cavaleiro enfraquecido. Ao chegar na cela escura, Lana escutava o jovem caído murmurar um nome enquanto estava desacordado e decidiu manter-se em silêncio para transportá-lo até um dos laboratórios, injetou uma droga para deixá-lo grogue enquanto o empurrava na cadeira de rodas.

- Está na hora do mocinho acordar – tocava-o na face – Devo ter exagerado na dose do calmante, mas posso reverter com um pouco de adrenalina – preparou uma nova injeção.

- O quê? – sua voz saía baixa e rouca pelo tempo que não consumia água – Quem...

- Quem sou eu? – a mais alta usava um tom animado condizente com a máscara feliz utilizada – Infelizmente não posso dizer, por isso que utilizo essa máscara para preservar a minha identidade secreta, tal como os heróis e vilões dos quadrinhos, mas, pode me chamar de Joy – alegria na tradução do inglês, o idioma que conversavam, outra precaução da deusa – Cuidarei pessoalmente de ti enquanto estiver aqui.

- Por que estou aqui? Onde o meu amigo está?

- Deveria poupar suas energias, na verdade vocês todos quase sempre fazem as mesmas perguntas – deu de ombros – Seu amiguinho não servia para esse propósito, está aqui sozinho – viu ele soltar um suspiro aliviado, Shun gostava genuinamente de Hyoga, mas, não da forma que o aquariano desejava – Eu iria me preocupar mais com a minha própria pele se estivesse em seu lugar. Sua situação não está nada boa – deu uma risada breve – Alguém que lhe quer tanto o trouxe aqui.

- Isso é alguma vingança? – o virginiano tentava se soltar das amarras daquela cadeira sem êxito, não conseguia sentir o próprio cosmo, mas, não poderia liberar esse tipo de informação por não saber com quem lidava.

- Isso não é uma vingança, seu bobinho. Apenas uma reprogramação – deu um soco no estômago de andrômeda, não com sua força usual, apenas para intimidar mais – Tem sorte que essa pessoa prefere que mantenha o seu nome, mas, te chamarei de six (número seis em inglês) apenas para manter o meu profissionalismo.

- Há mais pessoas aqui? – gemia de dor pelo golpe, mas, não deixava de se preocupar com a situação de outras pessoas na frente da sua própria.

- No momento não, encare esse lugar como uma colônia de férias ou uma reabilitação, que seja! Sairás daqui bem diferente do que chegaste – pegou um objeto e colocou-o na boca do cavaleiro – Eu se fosse você não deixaria isso cair de tua boca, as coisas vão ficar um pouco eletrizantes – ironizou.

Notes:

Sobre o próximo capítulo eu posso adiantar que ele será mais ameno o clima, teremos a visão de outros personagens sobre o sumiço de Shun.
Até a próxima ;)

Chapter 7: Capítulo 6 - Nossos laços

Notes:

Olá pessoal! Teremos um capítulo diferente dos últimos, veremos a perspectiva dos personagens que estiveram de fora dos acontecimentos que ocorreram com Shun, mas, que estiveram interligados com a história. Se já deram por falta dele e o que vão fazer.

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Ainda no Alaska, Afrodite de peixes conseguira finalizar os detalhes que faltavam para o seu retorno da missão. Ele estava ciente das coisas que aconteciam com seu noivo até quase três dias atrás. Shun não era do tipo que não dava notícias, ao contrário, o virginiano detestava deixar as outras pessoas preocupadas consigo. Sempre que podia estava enviando mensagens tanto para seu amado, quanto para o seu irmão e o grande mestre Shion. O pisciano checava seu celular uma última vez antes de embarcar para a Grécia e estava insatisfeito por não ver nenhuma atualização.

*mensagens on*

25 de setembro

Afrodite: Como se saiu na missão com Pandora? Fiquei curioso.

Shun: Muito bem! Conseguimos levar paz para aquela cidade e os espíritos partiram de forma pacífica para o submundo.

Escrevi o relatório da missão e encaminhei para Shion por e-mail há pouco. Facilidades da tecnologia rsrs. Acho que depois dessa missão, os deuses poderão fazer com que trabalhemos em conjunto com outros exércitos! Finalmente um fruto bom da aliança de paz! :)

Afrodite: Fico muito feliz por ti, meu querido!

A tecnologia tem sido grande aliada nos tempos que vivemos. Finalmente Shion resolveu se modernizar rsrs.

Foi um primeiro passo importante para a aliança. Que bom que não tiveram problemas entre vocês apesar do passado.

Shun: Como aliada, Pandora é uma pessoa bastante agradável. Ela até chegou a me alertar sobre um possível perigo à espreita.

Afrodite: Que tipo de perigo?

Shun: Uma presença estranha. Não senti o cosmo, pensei até que fosse algum subordinado dela a acompanha-la em missão nas sombras por precaução. Estarei atento a qualquer coisa suspeita, não precisa se preocupar.

Afrodite: Nas condições em que imagino que está agora, obviamente já estou preocupado.

Shun: Sei que usei bastante do meu poder e cosmo, como também não entro em batalhas há um longo tempo, mas, não estou completamente fora de forma.

Afrodite: Está desprotegido de sua armadura e enfraquecido, sei que gostaria de fazer as coisas da sua lista antes de terminar de recuperar-se no Santuário, mas, talvez com essa ameaça seja melhor adiantar os planos e deixar para irmos juntos em outra oportunidade para agradecer. Assim você será o meu guia turístico pelo Japão, o que acha?

Shun: Poderei ser seu guia em outra oportunidade, teremos tempo para fazermos muitas atividades interessantes. Eu consigo lutar sem minha armadura se necessário e me manterei em locais seguros e movimentados. Qualquer guerreiro que siga um código de honra não batalharia em locais que pudessem machucar inocentes. Já cheguei à cidade, estou na mansão Kido e ficarei apenas mais um dia.

Afrodite: Não consigo convencer, és um teimoso mesmo. Por favor, não demore e se cuide. Continue a manter contato para eu saber que está bem.

Shun: Está bem. Agora eu preciso dormir um pouco para resolver tudo dentro do planejado e estar mais próximo de nosso reencontro. Até breve, meu amor.

Afrodite: Tenha bons sonhos, meu querido.

26 de setembro

Shun: Oi! Já estamos no final da manhã aqui no Japão. Consegui realizar tudo dentro do esperado. Parei para fazer um lanche rápido e logo retornarei à mansão para buscar as minhas coisas. Talvez a governanta me obrigue a almoçar rsrs

Afrodite: Fico feliz em saber disso!

Shun: Tenho uma surpresa para te contar assim que nos encontrarmos no Santuário. Algo agradável e que eu esperava há um bom tempo aconteceu! Acho que finalmente consegui me livrar de um sentimento ruim que sentia há muito tempo.

Afrodite: Isso é ótimo! Não quer me adiantar nada?

Shun: Uma pessoa asuhglk

Afrodite: Não compreendi esse final. Que palavra estranha é essa que usasse?

Querido?

Shun?

27 de setembro

Afrodite: Já chegou no Santuário? Espero que tenha sido algum problema de sinal ou bateria.

Mais que demora para responder, estou ficando preocupado.

Shun?

Shun?

Meu amor?

28 de setembro

Afrodite: Vou me comunicar com Shion. Estou quase terminando minha missão. Amanhã partirei à Grécia. Espero te encontrar lá, meu anjo.

*mensagens off*

 

Outro que também não estava nada satisfeito era Ikki pelo mesmo motivo de Afrodite. Por menos “grudento” que fosse na questão de troca de mensagens, a preocupação do leonino com o irmão ainda era grande como na época de suas terríveis tentativas de suicídio e a depressão profunda no passado. Na noite do dia 25 de setembro, ele nem conseguiu dormir e falou cedo com Shun que mal havia acordado no Japão, devido ao fuso horário.

*ligação on*

26 de setembro – Japão.

Ikki: Shun?

Shun: Oi meu irmão. O que faz acordado essas horas? – soltou um bocejo preguiçoso – Algum problema?

Ikki: Sou eu quem pergunta isso. Há algo errado por aí?

Shun: Eu acabei de acordar, estou na mansão em segurança e meu trabalho com Pandora foi ótimo, como eu relatei por mensagem.

Ikki: Está bem – deu um suspiro longo cansado – Tem certeza de que está tudo bem?

Shun: Eu estou bem Ikki, apenas um pouco cansado e enfraquecido pelo trabalho que tive – se espreguiçava fora da cama – Olha, vou só tomar um banho e ir ao templo, de lá retornarei a mansão pegar as minhas coisas e talvez almoçar. Pegarei o voo para a Grécia na parte da tarde, até lá ficará tudo bem.

Ikki: Por favor, tome cuidado e não se esqueça da....

Shun: Não se esqueça da medicação – completou a frase do irmão, aquilo sobre a medicação o irritava um pouco – Acho que nem preciso mais daquilo, mas, estou tomando a medicação nos horários certos. Você sabe que sou...

Ikki: Organizado e responsável. Eu sei, apenas me preocupo – a fênix se tornou mais aberta em falar sobre seus sentimentos com o irmão, foi bom para o tratamento do caçula – Foi tão difícil te resgatar daquele abismo, não quero que caia lá outra vez. Definitivamente foi pior do que meu treinamento na Ilha da Rainha da Morte as sensações que tive quando vi que estava te perdendo.

Shun: Por favor, não nos recordemos disso – enxugava uma lágrima teimosa – Foi horrível e eu lamento ter causado essa dor em todos. Graças a vocês que eu consegui ter forças para terminar de me reerguer e estou bem, saudável e estável há um bom tempo. Agradeço por se preocupar comigo meu irmão. Enviarei uma mensagem assim que eu for embarcar, está bem?

Ikki: Tudo bem, acho que vou precisar ter que parar com isso – suspirou – É que eu tive um pressentimento ruim, pensei que algo tivesse acontecido contigo.

Shun: Está tudo bem, eu garanto – falava em seu tom doce e amável – Agora vá descansar. Aiolia não vai te perdoar no treino.

Ikki: Tem razão. Tenha um bom dia, Shun.

Shun: Tenha uma boa noite, Ikki.

*ligação off*

Ikki tentou ligar para ele no dia seguinte para saber se o voo tinha atrasado e foi até Shion para saber mais alguma informação. O grande mestre disse que o virginiano não costumava ser imprudente daquele jeito, mas, que buscaria por respostas no dia seguinte. Com a chegada de Afrodite, o grupo de preocupados só aumentava, pois não demorou muito para que os amigos mais próximos tomassem conhecimento do desaparecimento de Shun. Contê-los foi uma tarefa difícil para o Grande Mestre, até Saori estava lá aflita por não conseguir sentir o cosmo de seu estimado amigo e cavaleiro, era como se estivesse morto.

- Tem certeza de que não foi um problema durante a missão? – perguntava Seiya outra vez – Sabe que eu ainda não confio completamente no exército de Hades.

- Sei que tens motivos para a desconfiança Seiya – o ariano tentava acalmar os ânimos ali – Sei que por causa do deus Hades, Shun sofreu muito, mas, pelos relatórios que foram enviados pelo próprio Shun e os elogios recebidos por Pandora, os tiram da posição de suspeitos.

- Eu conversei com Pandora por telefone – falava a deusa – A última vez em que eles se viram foi no aeroporto há alguns dias atrás. Ela se demonstrou preocupada e disse que Shun não estava nos domínios do Submundo, nem como prisioneiro nem como morto.

- Isso já é alguma coisa. Significa que ele está vivo – disse Shiryu – O mistério está no local em que nosso amigo está.

- Eu ainda completaria com mais uma questão – disse o cavaleiro de ouro de Virgem – Por que não sentimos mais a presença do cosmo dele?

- Mesmo que esteja muito ferido ou inconsciente ainda sentiríamos a presença do cosmo dele. A menos que ele esteja a ocultar o cosmo como naquela época ruim* ou alguém tenha encontrado uma forma de selar o cosmo – Shion se recordava sobre os métodos – Não é qualquer pessoa que tem o conhecimento de selar o cosmo de uma pessoa, mas, é possível...

- Ele estar em algum local com um selo de cosmo? – concluiu Afrodite – Meu noivo estava bem, não haveria motivos dele ocultar o próprio cosmo  e se esconder de nós – o pisciano se recordava das conversas que teve com o amado – Acredito que Pandora tenha confirmado o que eu mostrei nas mensagens enviadas por ele – olhava para Atena que anuiu – Ele falava também sobre uma surpresa, será que ele se referia a uma pessoa e não a um objeto?

- São muitas especulações e nenhuma direção concreta. Precisamos de um ponto de partida.

- Acho que sei por onde começar Shaka – Saori teve uma ideia ao ouvir a fala do virginiano mais velho – O celular de Shun tinha um GPS, posso pedir para rastrear o último sinal emitido por ele.

- Eu e Shiryu podemos ir para lá começar a investigar. Ele havia ido ao Japão, certo?

- Sim, Seiya – respondeu o pisciano – Do jeito que Shun é metódico, não saiu da rota mental que ele fez. Se ele foi sequestrado por algum inimigo, por certo que o pegaram nessa rota.

- A não ser que ele tenha precisado salvar alguém fora dessa rota – falava o libriano – Alguém acompanhou o noticiário de lá?

- Podemos verificar – respondeu a virginiana – Precisamos ficar atentos, não sabemos quem o levou e se mais alguém é um alvo desse inimigo. Então, por favor, ninguém mais sairá sozinho do Santuário e não teremos mais missões solo até segunda ordem.

- Não concordo que Seiya e Shiryu vão para o Japão sozinhos – disse Ikki – Eu devo ir também, estamos falando do meu irmão.

- Sei o quanto você e Afrodite estão preocupados, mas, precisamos agir com prudência – disse a deusa da sabedoria – Faremos um plano com fases diferentes. A primeira fase será a apuração de informações, Shiryu e Seiya podem cuidar dessa parte.

- Então ficaremos parados aqui? – o santo de peixes estava aflito, em seu coração sentia que algo muito ruim estava acontecendo com seu amado – Quando entraremos em ação?

- Na fase dois, eu prometo – garantiu a deusa – Rastreamento e resgate. Pandora me garantiu que estará atenta a “lista do destino”, esse será nosso último recurso.

- Que lista do destino é essa? – perguntou Pégaso confuso.

- A lista dos futuros moradores do mundo dos mortos – respondeu Shaka – Ela é atualizada a cada hora quando pessoas estão próximas de morrer. Seus nomes não vão direto para o livro dos juízes de Hades, até porque nem todas as almas encontram facilmente o caminho para o salão de julgamento do submundo.

- Não pensemos numa coisa terrível dessas! – disse o pisciano – Vamos encontra-lo bem vivo.

Notes:

Nessa fanfic encontraremos muitas referências a fanfic anterior a essa chamada “Recaída”. A época ruim de Shun foi quando teve seu quadro depressivo piorado pelas consequências de sua última guerra santa (contra Hades). Por isso que muitos personagens se preocupam com o estado de saúde dele, principalmente Ikki e Afrodite, para que ele não retorne para aquela fase ruim.
Peço que já preparem seus corações para o próximo capítulo, eu já o escrevi, foi bem difícil aliais. Nós voltaremos a ver o que se passa com Shun enquanto os outros estão o procurando.

Chapter 8: Capítulo 7 - Meu interior

Notes:

Preciso deixar os AVISOS DE GATILHO nesse capítulo, pois abordamos aqui TEMAS SENSÍVEIS. Peço que tentem pular ou esperem o próximo capítulo para entender o contexto, perderiam um pouco de detalhes importantes, mas, tentarei fazer um post fixo aqui com um apanhado do que aconteceu no capítulo para não se sentirem perdidos. Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Enquanto o Santuário articulava uma missão para o resgate de Shun, o cavaleiro da constelação de andrômeda sofria nas mãos da impiedosa deusa Lana. Hyoga não aguentava assistir à condução da maioria dos “experimentos”, limitando-se a apenas aos cuidados básicos e de primeiros socorros, isso quando o virginiano jazia inconsciente. Não havia a possibilidade de o rapaz descobrir que era Hyoga ali, pois assim como Lana, ele utilizava uma roupa hospitalar e uma máscara teatral triste para ocultar seu rosto além de atender pelo codinome “Sadness” (tristeza no inglês).

- Já estamos aqui há um pouco mais de uma semana e sinceramente não consigo ver progresso algum – reclamava o aquariano – Shun está cada vez mais debilitado e distante da realidade por causa dessas drogas que são injetadas nele.

- Não creio que sejam apenas as drogas que estão a causar esse efeito, mas, não podemos reclamar do progresso. Alguma coisa já aconteceu ali – apontava para a tela do monitor – O rapaz pode até não ter revelado sua identidade como cavaleiro de Atena, porém não tenta mais fugir e está menos arredio ao “tratamento”.

- E você acha que Shun conseguiria cogitar em fugir após ter seus miolos fritos? – disse com raiva – O pior é ouvir ainda ele chamar por aquele peixe podre enquanto está semiconsciente. Você disse que os choques iriam ajudar na perca de memória.

- Infelizmente nessa parte não é possível que eu consiga mensurar – deu de ombros – Mas, ileso, seu amado não está. Ele já se comunicava pouco e desde ontem não responde mais nada, parece que está no mundo da lua.

- Eu consigo me lembrar vagamente da última conversa que tivemos, fiquei muito focado no que ele falava sobre o relacionamento com o cavaleiro de ouro que quase esqueci do lance da mente – refletia.

- Que “lance da mente” é esse a que se refere? – perguntou curiosa – Eu li o prontuário médico dele, o rapaz sofria de depressão e ansiedade, além da fobia social. O cavaleiro de bronze não é esquizofrênico.

- Como uma deusa, tu sabes que há coisas que vão além da capacidade humana de interpretação – ela assentiu – Logo, isso não poderia estar nos prontuários de Shun. O que ele havia me contado foi que Hades tinha deixado ele preso dentro de sua própria mente e que precisou encontrar o caminho de volta.

- Interessante! – abriu um sorriso – Então tu achas que Shun conseguiu encontrar o acesso para se esconder e preservar a própria alma? Seria uma estratégia desesperada, no entanto, engenhosa – olhou rapidamente para a exibição das câmeras – Estou curiosa para fazer um teste. O faremos mais tarde, Six está visivelmente exausto e com espasmos musculares pelo o que fizemos com ele mais cedo.

...

Na cela do cativeiro, o corpo do cavaleiro de andrômeda estava deitado no chão inerte e às vezes entrava em contrações involuntárias, em contraste com sua mente livre que explorava um local que teve acesso sem querer. Shun conseguiu ter acesso a uma camada de sua mente que não esperava que conseguisse mais. Ele lutou tanto para sair daquele local há poucos anos atrás e agora estava ali novamente, o que um dia fez parte de sua ruína hoje é sinônimo de refúgio.

- Eu acho que me recordo desse lugar – andava com cuidado pelo ambiente mal iluminado – Aquele ali sou eu? – via a própria imagem refletida nos “espelhos de memórias” – Aquelas pessoas más estão me deixando tão confuso que mal consigo lembrar de como é o meu reflexo no espelho – seu tom de voz era carregado de tristeza – Na verdade está difícil de me lembrar de outras coisas. Eu ainda sei o meu primeiro nome, sei que sou um cavaleiro de Atena e meu país de origem. As outras informações que estão ficando bagunçadas, não sei mais quantos anos tenho e há nomes e rostos que não consigo mais conectar – viu a imagem de um cavaleiro cuidando de si pelo espelho – Eu conheço esses olhos, talvez se eu chegar mais perto consiga escutar sua voz.

“Não precisa continuar se desculpando o tempo todo Shun” – disse o santo dourado de peixes – “Sabemos que é um processo difícil, mas, temos fé que vai se recuperar e sorrir” – sorria para si – “Agora deixe-me escovar esses seus cabelos, parece que passarinhos resolveram fazer um ninho aí” – ambos riram da piada – “Acho que deu certo, você riu”.

“Ultimamente só você que consegue me fazer rir, Afrodite de Peixes” – fez um sinal positivo para o cavaleiro se aproximar – “Acho que só você tem paciência com o meu cabelo, o Ikki quando esteve aqui disse para eu cortar”.

“Aquela ave não sabe de nada. Seu cabelo é lindo longo, só precisamos cuidar um pouquinho” – desembaraçava os fios – “Está bem melhor, quer ver o resultado?”.

“Vou confiar no que diz, não quero me ver no espelho hoje” – ele via o olhar compreensivo do pisciano.

 

- Afrodite, esse nome tem estado comigo, mas, não conseguia associar a pessoa. Não era a deusa do amor, ele é... – sentia seu coração se acelerar – Meu noivo, meu amado! – afastou-se do espelho – Nunca conseguiria me perdoar acaso o esquecesse.

O virginiano continuou a caminhar pelo ambiente de suas lembranças, tomava cuidado para não encostar nelas, algo dentro de si dizia que ele não poderia fazer aquilo. Rever algumas memórias trouxe um acalento para o coração de Shun, por mais que algumas lembranças já carregassem um borrão que impedia dele ter acesso à informação inteira. Ele se aproximava das imagens que pareciam ser de momentos mais alegres e calmos, mas, algo fez com que ele caísse para trás e atravessasse um desses fragmentos de memória. Shun não se recordava que voltaria a enxergar o mundo com os olhos de sua pior versão até então.

...

No lado exterior, Lana tentava fazer com que a vítima despertasse à força, ela havia tentado primeiramente uma abordagem menos agressiva ao jogar um copo d’água na face dele. Ao perceber que não havia reação, a loira se irritou e deu-lhe uma bofetada no rosto, o corpo reagiu, mas, parecia não ter ninguém ali. Logo a deusa recordou-se da teoria feita com as informações que o cavaleiro de cisne lhe dera.

- Acho que vou precisar ser mais radical com você, dorminhoco – pegou na mesinha o taser – Não tem como continuar a se esconder depois disso – apontou-o para o peito do jovem – Será uma reanimação arriscada, mas, tu não colaboras... – apertou o botão que deu a descarga elétrica por alguns segundos.

- AAAAH! – gritou de dor e levantou-se subitamente do leito em que estava deitado levando suas mãos em direção ao coração. Seus cabelos castanhos estavam caídos e ocultando-lhe a face – V-vocês conseguiram ver, n-não foi?

- Finalmente acordastes Six! – disse a mascarada – E pelo visto voltastes falante. O que pensa que nós vimos? – entrou no jogo.

- O-o  q-que está acontecendo aqui dentro – levou uma das mãos à cabeça – S-sabem que eu   preciso ser morto antes que eu destrua tudo e todos.

- E como um jovenzinho franzino como tu farias isso?

- Não queira presenciar – aquele era o Shun que estava influenciado pelas amarras de Hades*, ele respondia como se estivesse a vivenciar aquilo novamente – Apenas me ajude, por favor, mate-me ou não me impeça de fazê-lo.

- Fique parado aí Sadness! – fez um sinal com o braço para impedir a passagem – Quero saber até onde isso vai.

“Isso parece que tomará um caminho perigoso” – respondeu-a pelo cosmo – “Ele está a agir como na época do incidente”.

- Ele está fraco, nada poderá fazer – cochichou – Eu realmente acho que esteja certo rapaz, podemos tentar ajudá-lo a lidar com isso – disse em falso tom de benevolência – Não acho que precisa chegar em medidas tão extremas.

- Então... qual... é a sua... solução? – Shun perdia o seu fôlego, a ansiedade o consumia e estava nítido – Terapia? Remédios? – ergueu a cabeça e seu semblante estava completamente diferente, raivoso – Nada disso vai adiantar enfermeira, tudo irá pelos ares! – num surto de adrenalina ele pula em direção a mesa com os instrumentos de tortura – Dessa vez eu não irei falhar – ergueu o bisturi – Não queria que tivessem que presenciar isso, apenas digam aos outros que me perdoem – aproximava-o da jugular – Adeus – deu um suspiro sôfrego entre lágrimas.

- Shun! Eu ordeno que pare! – o aquariano se manifestou – Largue esse bisturi!

- A minha mão... Ela não me obedece... – seus olhos verdes influenciados pelo fragmento do espelho de memória não conseguiam acreditar no que estava vendo – E essa voz... eu a conheço... – de repente sentiu sua energia ser drenada de seu corpo e caiu desfalecido no chão.

- Isso foi intenso – comentou Lana – Finalmente utilizastes o poder do anel para que as pulseiras obedecessem ao seu comando, mas, creio que agora fostes reconhecido.

- Espero que ele não se lembre do que aconteceu quando acordar – carregou-o até o leito e deitou-o com cuidado – Não saberia o que fazer.

- Assuma o controle e tome-o para si de uma vez ou temos uma segunda opção que não creio que gostará muito também.

- Qual é essa outra opção? – disse em tom preocupado.

- Deixe-o ir, entregue os pontos e aceite as consequências de suas escolhas – deu um longo suspiro – Isso se não resolver matá-lo para não perder sua reputação como cavaleiro de Atena.

- Isso nunca! – disse convicto – Se eu o amo significa que o quero aqui ao meu lado e feliz! Ele vai perceber que me ama mais que um simples amigo.

- Acredito que fizemos um regresso hoje – recolhia os instrumentos de tortura do recinto – Você está em uma luta contra o relógio Hyoga de Cisne – olhou para o rapaz desacordado – Deixarei apenas essas correntes aqui, caso ainda queira mantê-lo nesse lugar. Caso resolva libertá-lo, não conte a ninguém sobre esse lugar ou sobre mim e devolva as joias de meu pai, já sabe o meu telefone. Eu preciso espairecer um pouco, tenho ficado mais tempo por aqui do que você.

- Irei pensar sobre a minha decisão – apertava a cabeceira do leito – Sou grato por tua ajuda.

...

Algumas horas se passaram desde o incidente envolvendo Shun em um estado diferenciado. Passado o susto de uma nova tentativa de suicídio motivada por um “espelho de memória”, Hyoga ainda utilizando a máscara de “Sadness” pensava no que fazer, tudo dependia da reação daquele ser belo e completamente vulnerável quando despertasse. Em dado momento, a respiração de Andrômeda se encontrava irregular e acelerada, assim como as batidas de seu coração. O aquariano julgava que fosse por algum pesadelo, como presenciara outras vezes pelo monitor e ficou tenso ao perceber que ele havia acordado. Shun contorceu um pouco em meio a dor e atordoado com os últimos acontecimentos, não demorou a notar que estava com os braços acorrentados à cabeceira da cama, aquilo era um tanto irônico em vista que correntes são suas armas em batalha. Aos poucos as informações eram processadas em sua mente, os narcóticos o deixavam um pouco lento, como se tivesse um leve “delay” e o virginiano se esforçava para manter sua mente lúcida.

- Você... – gemeu baixinho de dor enquanto mirava o mascarado – Você falou... Eu ouvi a sua voz... – a medida em que falava seu algoz chegava mais perto de si – Ela parece tanto com a da pessoa que deveria ter sido minha amiga, mas, não foi – cerrou os olhos deixando as lágrimas correrem pela face pálida –  Por que fez isso comigo? Por que, Hyoga?

- Eu realmente não tenho mais nada a esconder de ti – retirou a máscara da face – Eu trouxe você para esse lugar para conseguir consertar as coisas entre nós – aproximou-se para secar as lágrimas de sua vítima que virou o rosto.

- Não me toque! – seu tom era feroz – Eu pensei que havíamos acertado nossas diferenças naquele dia, quando conversamos feito pessoas civilizadas – estava muito ressentido que não suportava olhar para o aquariano – Você destruiu completamente a minha confiança em ti. O que eu ainda não entendo é o motivo de me machucar tanto?

- Eu não queria ter feito isso, você estava irredutível e eu queria ter uma chance de chegar em um lugar diferente em seu coração – o menor arregalou os olhos verdes ao ouvir tamanho absurdo – Precisei criar um caminho diferente.

- Vai dizer que fizesse por amor? – o outro anuiu – Isso não é amor, é doença, obsessão! Como eu poderia amar alguém que me prende e machuca? Não é assim que se conquista o coração de alguém! – gritou a plenos pulmões – Nunca pensei que fosse capaz de sentir um sentimento tão ruim como o ódio, mas, é isso que estou sentindo agora. Eu o odeio! Te odeio Hyoga de Cisne! O que fizesse é indigno de um cavaleiro de Atena!

- Calado! – esbofeteou o castanho – Você estragou tudo! Era para esquecer e recomeçarmos do zero, mas, creio que não teremos mais tempo para isso – atirou longe a máscara e desabotoava os botões de sua veste – Irei toma-lo, vais me amar. Aposto que o peixe de esgoto não deve ter feito você sentir tamanho prazer.

- Já foi longe demais Hyoga – estava ficando desesperado com o que sentia que estava para acontecer – É loucura demais! Por favor, pare! – se remexia no leito, puxava em vão as correntes que prendiam seus pulsos.

- Já disse para se calar! – o anel exerceu seu poder sobre o corpo do virginiano – Sou eu quem ditará as regras por aqui. Eu fui longe demais para sair de mãos abanando, provavelmente serei morto, então por que não tirar proveito da situação? – ele via que Shun tentava falar, mas, seus lábios não se moviam – Esse anel faz parte de um conjunto especial que está a usar desde que chegou aqui – apontou para o colar e as pulseiras – Sei que tentou retirá-las, mas, somente uma pessoa de fora pode fazer isso, não o próprio usuário – deslizava as mãos pelas pernas sob o cobertor e o lançou ao chão – Isso garantirá que me obedecerá – acariciava a face no local que havia batido – É realmente uma pena, mas, não vou deixa-lo partir para correr para os braços dele – o virginiano tremia – Relaxe o seu corpo – ordenou – Bem melhor assim, sentiria muitas dores caso ficasse tenso e enrijecido daquele jeito – roubou-lhe um beijo – Seus lábios são tão macios! Mal posso esperar para provar o restante – o santo de Andrômeda não parava de chorar, só queria sair dali depressa. Ele pensava que passou o inferno por causa de Hades, mas, viu que o verdadeiro inferno estava acontecendo naquele momento diante de seus olhos.

...

Passadas algumas horas do ato grotesco cometido por Hyoga, Shun conseguiu adormecer após terríveis crises de choro. O jovem estava em estado de choque e sua mente não conseguia processar tudo aquilo que havia acontecido consigo, principalmente nas últimas vinte e quatro horas dentro de seu cárcere, tamanha foi a dor física e psicológica que passara, aquela traição foi demais para si. Adormecido, o virginiano seguiu desnorteado dentro de sua própria mente até encontrar um portão com acesso ao subterrâneo. Seguiu seus instintos de adentrar o local que parecia tentar repelir sua própria presença dali. Confuso, com emoções e ideias conflitantes, ele seguiu caminhando a passos lentos e firmes desbravando o local como se estivesse nadando contra a correnteza.

- Por quê? – continuava aos prantos – Ele desgraçou de vez a minha vida... Caso eu sobreviva a esse inferno, o que farei? – passava pelo clima gélido e hostil que havia se tornado seu inconsciente – Eu fui um idiota em confiar nele novamente, em tê-lo perdoado, meu amado não me aceitará mais, ninguém me aceitará mais...

O virginiano acabou encontrando a cela na qual foi aprisionado na época de Hades, cogitou que se ficasse por ali seria melhor para se privar de qualquer contato com o mundo fora de sua mente, seu corpo definharia e morreria por falta de assistência. O problema seria acaso tentassem resgatá-lo dali como na última vez, estava tão envergonhado e não teria a desculpa de que aquilo foi obra de um deus, não queria ter que passar por todo aquele processo de novo. Shun sabia que alguns dourados o achavam problemático naquela época e um atraso de vida para Afrodite. Agora estava ali, quebrado outra vez e se sentindo ainda pior.

- Eu não posso ficar aqui – saiu da cela mental e voltou a caminhar – Acredito estar quebrando todas as travas que ainda existem em minha mente – e o processo era doloroso para si – Deve ter algum lugar mais fundo e distante onde ninguém conseguirá me achar caso procurem...

Após uma caminhada longa e cheia de armadilhas, o rapaz de cabelos castanhos se viu próximo de uma porta. Ele estava curioso sobre o que estava a ver, haveria outra camada ainda mais profunda? Seria outra prisão ou uma porta de saída? A lógica dizia para não abrir aquela porta, mas, para quem já havia desistido de si mesmo e não teria mais nada a perder, valeria a pena sanar sua curiosidade. Ele estava a poucos passos da porta, andou mais um pouco até notar uma pequena rosa vermelha naquele solo de aparência infértil.

- Essa rosa é muito linda! Lembra as que meu amado costumava me presentear – abaixou-se para admirá-la mais de perto – Não quero ser um peso mais na vida de ninguém. Se fosse possível esquecer tudo isso, pois acho que nunca conseguirei superar... – tocou a rosa – Pequena flor, eu me despeço de ti e da vida, espero que eu consiga encontrar algo bom ao atravessar aquela porta – levantou-se e ao tentar seguir em frente viu aquela rosa se enroscar em si, tal como a corrente de andrômeda fez no passado – O que está acontecendo? – se debatia enquanto as flores se multiplicavam e o enrolavam ainda mais em suas vinhas – É estranho... Eu não consigo sentir mais nada... Apenas... sono...

 

...

Notes:

Nessa fanfic encontraremos muitas referências a fanfic anterior a essa chamada “Recaída”. A época ruim de Shun foi quando teve seu quadro depressivo piorado pelas consequências de sua última guerra santa (contra Hades). Trouxe a mesma ideia do universo criado lá: a questão do consciente, subconsciente e inconsciente representados dessa maneira figurativa, tal como os espelhos de memória que conseguem influenciar a percepção do indivíduo quando cai nele. Sobre os espelhos, a pessoa consegue se situar de onde está, mas, é muito afetada pelas lembranças e a própria personalidade na época dessa lembrança.

Sobre o capítulo, em momento algum houve a intenção de romantizar o relacionamento entre Hyoga e Shun. Eles se limitam a criminoso e vítima! O passado entre eles de nada deve interferir nesse tipo de visão da história. Aqui Hyoga é um antagonista e não passarei pano para as ações dele.

Por último, a pergunta que quero deixar para vocês aqui (não tem relação de como preparar um pato, ok?) é: O que vocês acham que tem por detrás da porta que Shun visualizou bem no fundo de seu interior?

Abraços e até a próxima!

Chapter 9: Capítulo 8 - Pistas

Notes:

Depois de tanto sofrimento no capítulo passado, nós estamos precisando ver os resultados da investigação de Seiya e Shiryu, além do que os demais estão pensando ou fazendo a respeito.
Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Já haviam se passado alguns dias desde a partida de Seiya e Shiryu para o Japão e suas buscas não haviam dado resultado. Os cavaleiros investigaram a cidade na qual havia sido emitido o último sinal de GPS do celular de Shun. Seiya o procurou em hospitais e clínicas, enquanto Shiryu resolveu checar informações com a polícia e as movimentações em aeroportos. Nenhum dos dois teve sucesso à primeira vista, nenhum arquivo de saída de Shun do país foi encontrado, não havia movimentações de cartão de crédito, pois o virginiano não possuía algum de bandeira internacional e pagava as coisas com dinheiro, havia sumido completamente do mapa.

Um alerta havia sido enviado para os cavaleiros que se encontravam fora do Santuário, para que qualquer sinal sobre o cavaleiro de andrômeda deveria ser relatado imediatamente. Hyoga foi um dos que receberam esse alerta e havia ficado tenso, por mais que tenha respondido com um simples “Ok”, o aquariano estava apreensivo de que tivesse deixado algum detalhe escapar e pudessem encontra-los. Ele processava ainda sobre como foi estar com Shun, não ocorreu do modo fantasioso romântico no qual esperava, mas, não sentia arrependimento do ato cruel que cometera. O cisne esperava que com o tempo o virginiano admitisse que gostasse dele, em sua mente doentia, Shun em algum momento o aceitaria caso não houvesse interferências de outros. O russo aproveitou-se de que o japonês estava desacordado para fazer a higiene e cuidar dos ferimentos dele.

- Seu corpo está tão gelado – murmurou enquanto observava os dedos da mão com as pontas arroxeadas do menor – Terei que agasalha-lo depressa, ficará doente desse jeito... – ficou incomodado por ver que a vítima não dava a menor reação corporal aos estímulos que fazia, o corpo estava molenga, diferente de outras vezes que sempre havia algum reflexo involuntário – Não está se escondendo outra vez? – sacolejou-o – Mais que droga! – antes de dar a ordem com seu anel, ele decidiu checar os sinais vitais do “amado”.

A respiração de Shun estava fraca, assim como seus batimentos cardíacos estavam em ritmo mais lento do que o normal. O russo não conhecia muito sobre procedimentos médicos, mas, tentava estabilizar o rapaz da melhor forma que conseguia pensar. Ele tentou contatar Lana para obter ajuda, mas, celulares não funcionavam bem ali naquela base, teria que se distanciar para isso, mas, não poderia deixar Shun sozinho naquele estado. Foi então que ocorreu a ideia de utilizar seu cosmo a fim de fazer com que os batimentos dele voltassem ao normal, mas, temia que não fosse forte o bastante, teria que tirar o colar dele para fazer com que o cosmo reagisse com o seu.

- Mais que droga Shun! – fez respiração boca-a-boca e a massagem cardíaca, algo que aprendera em sua estada militar para emergências – Não posso deixar que parta assim! – tratou de afrouxar as vestes recém colocadas e o colar moldou-se a vontade dele ficando mais frouxo – Reaja! Vamos! Pode me xingar se quiser, apenas reaja Shun! – disse entre lágrimas.

...

Algumas horas antes, Afrodite estava muito aflito, seu coração dizia que algo muito grave havia acontecido ao seu amado. O pisciano tentava mais uma vez reorganizar os detalhes que haviam sobre o caso do desaparecimento de seu noivo. Como nenhum novo ataque foi feito a ninguém nos últimos dias, só conseguia pensar que a motivação para o sumiço de Shun era por razões pessoais.

- Eu não consigo mais treinar hoje Shura, me desculpe – parou com os ataques físicos – Acho melhor procurar outro parceiro de treino caso queira continuar.

- Sei que está preocupado com o rapaz, mas, não acredito que esse alarde todo seja para tanto – antes que o loiro o interrompesse tratou de continuar – Você sabe do histórico problemático dele, Afrodite. Quem garante que ele foi mesmo levado? Pode muito bem ter tirado um tempo, tipo período sabático, sei lá – deu de ombros.

- Acho que seu elmo está afetando a oxigenação do seu cérebro, Shura – tentava conter o próprio nervosismo, não adiantaria nada ser punido e não conseguir resgatar seu amado –Você não conhece direito o meu noivo porque não se deu oportunidade de conhece-lo melhor. Ele estava bem, estável e em nenhuma outra missão que ele fez solo deu algum problema. A investigação está em curso.

- Com aquele burro alado conduzindo a investigação? – riu – O dragão pode ser mais esperto, mas, não creio que o suficiente para tal. Se nossa deusa levasse em consideração habilidade e priorizasse seu amado cavaleiro de bronze, ela enviaria Shaka ou Dohko. Veja quantos dias eles perderam?

- Infelizmente preciso concordar contigo em algo, mas, confio neles. A vontade desses garotos de conseguir algo ultrapassou inúmeros obstáculos diversas vezes, incluindo a nós – virou-se – Não perderei mais de meu tempo aqui. Posso ajuda-los mesmo estando no Santuário.

O sueco tratou de seguir até sua casa e após seu banho pegou o celular para revisar aquelas mensagens que trocara com Shun. Para ele não havia dúvidas de que ele havia sido raptado e escondido em algum lugar. O que Afrodite e seus amigos tentavam entender era quem foi capaz de fazer isso sem alarde, já que a polícia não soube de nada de estranho que tenha envolvido seu amado e nem sabiam do paradeiro.

- Meu anjo não tinha nenhum inimigo declarado, para ter sido levado assim essa pessoa deveria ser conhecida dele – raciocinava – Vou reunir Ikki, Shaka e Shion, quem sabe assim conseguiremos chegar a um suspeito.

...

No Japão, os rapazes se preparavam para retornar ao Santuário, pois não haviam encontrado alguma pista quente sobre o caso de Shun. Enquanto Shiryu arrumava sua mala frustrado com os resultados, Seiya decidiu dar uma última volta contrariando as ordens de Saori de não se separarem.  Pela última vez fizera a rota do virginiano e quando retornava à mansão decidiu parar para fazer um lanche, resolveu por comer por ali mesmo e pagar a conta depois de consumir. Distraído o sagitariano olhava para a foto de seu amigo no celular e pensava no quanto havia falhado com ele até a garçonete lhe falar.

- Com licença senhor – chamou suavemente a atenção do Pégaso – Por acaso é algum parente ou amigo desse rapaz da foto?

- Sou amigo dele, até vim aqui procurá-lo no outro dia. Por acaso o viu? – sentia seu peito se encher de esperanças novamente.

- Ele esqueceu o celular dele quando esteve aqui há alguns dias atrás. Reconheci pelo bloqueio de tela – sorriu – Acredito que no dia que esteve procurando por ele eu estava de folga.

- Consegue se recordar se ele estava sozinho? Como foi embora?

- Bom... – a moça puxava de sua memória – O rapaz de início estava sozinho, mas, lembro de outro fazer um pedido e juntar-se a mesa com ele. Pareciam bem amigos.  Estava atendendo outra mesa quando os vi indo embora juntos, o amigo o carregava de lado abraçado, parecia que esse da foto estava passando mal ou algo do tipo, até pensei em oferecer ajuda, mas, o movimento aumentou e eu os perdi de vista.

- Muito obrigado! Ajudou bastante! – pagou a conta – Agora você poderia me descrever rapidamente esse amigo, ajudaria ainda mais.

- Ele era um loiro alto de olhos azuis. Difícil não e recordar desse tipo aqui, parecia um turista de pele bronzeada, sabe?

- Essa pessoa que está me descrevendo parece bem familiar pra mim – sagaz o sagitariano puxou novamente seu celular e procurou uma foto antiga – Por acaso foi esse rapaz que você viu?

- Sim! É ele! Só que está mais alto agora – a garçonete reconheceu Hyoga – Eu preciso ir agora, espero ter ajudado mais.

- Ajudou sim e eu e meus amigos seremos eternamente gratos por essa informação. Poderia apenas devolver o celular do meu amigo? O entregarei em mãos, não se preocupe – ela assentiu e foi buscar – O que você foi aprontar Hyoga?

Seiya conseguiu recuperar o celular descarregado de Shun e tratou de compartilhar as informações por mensagem com Shiryu e para Shion no Santuário. Ele sabia que agora seria mais fácil de localizar seu amigo pelo cosmo do aquariano. O chinês ficou boquiaberto ao saber da história por Seiya e sua descoberta ao acaso.

- Teve muita sorte de conseguir essa informação! – rumavam ao aeroporto – Não posso acreditar que Hyoga está com Shun nesse momento. Ele parecia ter mudado, eu conversava com ele às vezes.

- Tive muita sorte sim, pena que ela sorriu com demora. Espero que nosso amigo esteja bem agora. Vamos confiar em Afrodite e Ikki.

- Eu confio neles também. Que Atena permita que tudo acabe bem.

...

Momentos antes, Shaka havia acabado de chegar ao salão do grande mestre e juntou-se ao próprio, Ikki e Afrodite que também estavam lá. O mestre de Shun sabia que aquela seria mais uma discussão no campo das ideias, mas, ao ver a urgência que o pisciano havia chamado, logo tratou de interromper sua meditação para ir até lá, pois qualquer detalhe lembrado pode ajudar na investigação.

- Obrigado por terem atendido o meu chamado – pronunciou-se o sueco – Acho que me recordei de algo que me deu uma ideia do que pode ter acontecido ao meu noivo.

- Pois bem, fales Afrodite – disse Shion – Não é porque estamos aqui que não podemos ajudar.

- Shun havia mencionado uma surpresa e enquanto estava digitando mencionou que uma pessoa teria relação com essa surpresa. Juntei as peças, o restante da mensagem não fazia o menor sentido.

- Acho que me lembro disso que disse outra vez – disse o leonino – Em que isso nos ajudaria?

- Entendi onde quer chegar Afrodite – disse o virginiano de olhos ainda fechados – No caso a surpresa seria uma pessoa, pessoa essa conhecida de Shun, por isso não houve sinais de luta ou algo do tipo nas redondezas que Pégaso e Dragão estavam investigando.

- Eu creio que ele tenha sido enganado por um rosto conhecido – disse o santo dourado de peixes.

- Acabo de encontrar a resposta aos nossos anseios rapazes – Shion retirou o aparelho celular de suas vestes – Seiya me enviou uma mensagem urgente – abriu o conteúdo – Ele encontrou o celular de Shun e conversou com alguém que o viu.

- Aposto que foi pura sorte do pangaré – Ikki deu um sorriso de canto – Já sabem onde meu irmão está?

- Sabemos com quem – o ariano falava sério – Hyoga de Cisne. Precisamos localizá-lo urgentemente!

...

Notes:

Bom, nós conseguimos ver como o Pégaso é um desgraçado sortudo, né? Se ele não tivesse "esbarrado" nessa pista devido a sua fome, provavelmente a notícia viria por Pandora que estava em alerta.
O Shun entrou numa espécie de coma e as consequências ao seu corpo físico se devem um pouco ao estado de hibernação somado as consequências dos malditos "experimentos" (torturas), isso será melhor abordado mais para frente.
Teremos o resgate para o próximo capítulo, parte dele vocês já leram no prólogo. Espero conseguir atualizar em breve. Abraços e até a próxima! ;)

Chapter 10: Capítulo 9 - Resgate

Notes:

Sei que estão ansiosos pelo resgate de Shun, algumas partes vocês reconhecerão do prólogo já postado, já que foi um fragmento retirado desse pedaço da história. Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Longe do Santuário, Hyoga tentava reanimar Shun com seu cosmo que oscilava devido ao nervosismo da situação. Lana havia retornado ao conseguir sentir o cosmo aflito de Hyoga. A loira fazia o que estava ao seu alcance para manter a situação sobre controle, mas, encontrava dificuldades.

- Está difícil até para mim! – gritou a deusa – Fique calado enquanto eu tento fazer com que esse garoto sobreviva. Se bem que morto ele seria bem mais conveniente.

- Eu quero o Shun vivo! Por que não tenta fazer algo com teu cosmo de deusa?

- Já avisei que não sou uma deusa oficial olimpiana e que meu poder é limitado por isso – respondeu com raiva – Entenda que ao elevar teu cosmo daquele jeito foi como se você tivesse acendido um sinalizador. Se não eras um suspeito passasse a ser agora.

- Me diga como ele está? – quis tirar o foco de si mesmo.

- Precisaremos de outro tubo de oxigênio, esse que trouxeste estava quase vazio – suspirou – O coração que preocupa, os batimentos estão irregulares para o estado de sono em que o rapaz se encontra. Isso que nem podemos mensurar como está a consciência dele, pelo o que me contou fizeste um belo estrago – disse em tom sarcástico.

- Isso não é hora para sermões. Precisamos deixa-lo estável para transportar para outro local.

- Não acredito que teremos tempo – avisou – Sinto presenças de cosmos hostis por perto – levantou-se – Foi bom enquanto durou soldado.

Os cavaleiros seguiram a pista encontrada por Seiya no Japão. O grupo formado por Ikki, Afrodite e Shion foram para a base militar russa desativada a qual o grande mestre pôde rastrear pelo cosmo de Hyoga que estava de alguma forma instável. O grupo ao chegar lá por teletransporte conseguiu comprovar a suspeita de que Shun havia realmente sido sequestrado pelo cavaleiro de bronze. O estado do virginiano era deplorável e o aquariano parecia que tentava reanima-lo até perceber as presenças no recinto.

- Mal posso acreditar em tamanho descaramento! – Afrodite estava furioso como nunca se vira antes – Vocês foram baixos demais! Não consigo entender a motivação dela, mas, a sua? Lutasse de forma justa e limpa! O amor não é imposto e sim conquistado.

- Calado! – respondeu o outro loiro – Vocês não compreendem – mantinha preso a si seu refém – Eu tentei entender o que eu sentia e quando finalmente consigo vi que foi tarde demais. Eu queria uma chance, uma oportunidade que fosse para conseguir chegar ao coração dele. Estava preparado para desistir até encontrar Lana.

- Bom, acho que chegou a minha vez de falar aqui – pronunciou-se Lana - A minha motivação é realizar um simples teste para comprovar se minha teoria estava correta.

- Então resolveu brincar com a vida de um inocente? – o grande mestre tentava controlar seu temperamento ante a cena – Sinto a presença de seu cosmo divino, não tenho conhecimento de que deusa és, mas, isso será levado a Atena e ao conselho dos deuses.

- Não devo satisfações a um reles servo de Atena. Diga a sua deusa se quiser me procurar, estarei à disposição – sorriu – Por muito pouco você quase conseguiu Hyoga, uma pena que dessa vez não foi fraqueza sua, e sim, que o rapaz de alguma forma conseguiu escapar de ti – acenou de costas um adeus – Vocês correm contra o tempo, caso queiram que o jovem tenha chances de sobreviver sairia depressa ao hospital, apenas não garanto que ele será o mesmo depois do nosso “tratamento”.

- Víbora desgraçada! – o cosmo de fênix queimava intenso – Tô nem aí se você é uma deusa, o que vocês fizeram ao meu irmão é imperdoável! Ave fênix! – lançou seu golpe e a deusa misteriosa se desviou e usou sua super velocidade para escapar daquela emboscada de cavaleiros.

Lana havia conseguido fugir deixando Hyoga para trás. O aquariano se viu encurralado pela presença dos três, estaria longe de uma luta justa e não sabia mais o que fazer. Para que Shun tivesse chances de sobreviver o Cisne precisaria entrega-lo nos braços do irmão de seu amado e do rival. Ele sabia que seria julgado e severamente punido por seus atos, mesmo a dizer que foi motivado por um “sentimento maior”, nada justificaria tamanho mal causado. O russo olhou rapidamente o rapaz pálido em seus braços, os cabelos castanhos estavam opacos e embaraçados.

- Vamos Hyoga! Deixe Shun no leito e se afaste! – ordenou Shion – Estou dando a oportunidade de rendição, não torne as coisas ainda mais difíceis.

- Eu não pretendo me separar dele – segurava mais firmemente o cavaleiro.

- Se você diz amar o Shun, deveria deixá-lo partir e ser feliz – disse o pisciano – Abaixe o punho Ikki, sabe que pode acabar acertando o seu irmão.

- O que esse desgraçado fez com ele?! Olhe como ele está! Parece quase morto! – apertou os punhos – Trate de obedecer ao grande mestre ou eu mesmo o matarei, nem quero saber o que acontecerá comigo depois, pois limparei a honra do meu irmão!

- Acho que vou escolher a opção onde todos nós perdemos – disse o aquariano entre lágrimas.

- Esse golpe é? – a fênix preparou-se para golpear o cisne, mas, algo fez com que Ikki parasse.

- Meu corpo está ficando pesado... – o russo caiu de joelhos no chão ainda conseguindo amparar Shun nos braços.

- Obrigado por distraí-lo Fênix – Afrodite sorriu satisfeito – Mal pode ver a minha rosa passar por perto de ti – um corte em na bochecha se abriu e escorria sangue – Tive que me conter para não dar-lhe tudo aquilo que merece. Acredito que a justiça será feita, mas, antes precisamos salvar a vida do meu noivo – enfatizou as últimas palavras.

- Você me envenenou? Seu maldito... – caiu inconsciente.

Shion não demorou para leva-los de volta para o Santuário. O ariano chamou Mu pelo cosmo para tratasse de levar Hyoga para a prisão no calabouço. Com esse assunto já sendo encaminhado, os presentes se concentraram na situação de Shun.

- Meu amado está muito mal. O que aquele desgraçado fez contigo? – chorava com ele em seus braços – Precisamos ir à enfermaria com urgência!

- Se acalme um pouco Afrodite! – disse o indiano que continuou no salão do grande mestre após a saída da equipe de resgate – Eu não consigo sentir o cosmo de meu pupilo. Alguma coisa está o bloqueando.

- Eu não reconheço essas joias que meu irmão está usando. Ele nunca foi de usar coisas que parecem caras – pensava – Será quê?

- Tente retirá-las Afrodite! – disse Shion – Essas joias podem conter algum encantamento.

- Espero que funcione – o pisciano as removeu delicadamente, pois via como seu amado estava ferido – Eu consigo sentir o cosmo dele, está muito fraco...

- Bom, acho que agora é a hora de leva-lo aos cuidados médicos – disse Shaka – Precisamos avisar Atena de que nós conseguimos encontra-lo.

- Ikki e Afrodite, eu acho que nem preciso terminar essa frase, já sabem o que fazer – disse o ariano que logo viu eles sumirem com Shun de suas vistas – Shaka, eu avisarei nossa deusa. Então eu preciso que você e Camus conduzam o interrogatório de Hyoga, nós precisamos de respostas para que ele vá a julgamento e pague por tudo o que fez.

- Certamente, com licença.

.... 

No castelo que dava acesso ao Submundo, Pandora estava atenta a lista do destino. Ela havia pedido para um de seus servos para que ficassem atentos ao nome de Shun, caso aparecesse nessa lista. A também virginiana havia se afeiçoado ao cavaleiro gentil de Atena em pouco tempo durante a missão que fizeram juntos, uma amizade surgiu ali. Assim que teve em mãos o local ao qual o santo de Andrômeda estava ficasse momentaneamente aliviada, pois aquilo significava que ele havia sido encontrado, mas, de qualquer forma avisaria para Saori ou Shion o que estava acontecendo, talvez eles não soubessem do tamanho do risco de vida que o cavaleiro corria.

- Eu sabia que aquela sensação ruim no aeroporto não era brincadeira. Tentei te alertar, mas, creio que não tenha sido o suficiente – mandou a mensagem para os telefones de Shion e Saori – Agora só resta esperar que seu nome saia daqui. Eu o quero como um bom amigo vivo, ainda é muito cedo para fazer do Submundo seu lar.

...

Notes:

Sei que não foi bem como vocês esperavam na parte da ação, mas, eles priorizaram conseguir resgatar o Shun sem que isso o causasse ainda mais danos e o Hyoga estava agarrado a ele, então uma estratégia foi traçada para isso. O desgraçado será julgado no próximo capítulo e teremos um boletim sobre o estado de saúde do nosso querido anjinho.
Até a próxima ;)

Chapter 11: Capítulo 10 - O Julgamento

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Enquanto Afrodite e Ikki estavam aflitos a espera de notícias sobre o estado de saúde de Shun. Shion e Saori receberam a mensagem de Pandora que piorou a aflição de ambos. Saori sabia que teria que agir rápido e o grande mestre entendia que aquele momento não era ideal para detalhar os acontecimentos do resgate. Em um outro ambiente estavam Camus e Shaka, o aquariano estava desolado com o que soubera pelo companheiro de armas e sentia que precisava ouvir de seu pupilo tudo o que aconteceu, pois não foi aquele tipo de criação que o francês lhe dera.

- Allez Hyoga! Levante-se! – o tom de voz do ruivo era frio como gelo, precisava estar no controle de suas emoções – Há muito o que explicar.

- Mestre Camus? – coçou seus olhos ainda atordoado – Onde nós estamos?

- No calabouço do Santuário – respondeu o indiano – Trouxe seu mestre aqui na intenção de que colabore ao confessar seus crimes, caso não o faça medidas duras serão tomadas.

- Confessar? Tudo o que fiz foi por amor, era a minha última chance – o cisne ainda estava cego por sua obsessão.

- Sus passion, melhor, sua obsessão te levasse a ruína – disse o mestre – Relate tudo o que fez ao Shun desde o início. Pensava que tivesse colocado a cabeça no lugar depois do ocorrido há um pouco mais de três anos, mas, vejo que me enganei.

- Eu realmente consegui descobrir o que sentia e estava tentando mudar mestre, mas, receber aquela notícia acabou comigo – chorava enquanto agarrava a grade ainda se sentindo fraco pelo efeito atordoante da rosa de Afrodite – Conheci alguém que prometeu me ajudar.

- Ajudar a torturar seu colega cavaleiro? – o virginiano estava com a paciência por um fio – Você torturou o meu amigo e pupilo, não sabe quanto tempo demoramos para deixa-lo bem porque esteve fora – abriu seus olhos para mirar o algoz de seu estimado amigo – Camus, irei checar tudo por mim mesmo, não aguento ouvir a ladainha desse ser desprezível.

- Leve-me contigo, eu sei que ele tentará sonegar informações – respondeu o ruivo dourado – Eu já estou muito decepcionado com você Hyoga e acredito que seja possível que eu fique ainda mais.

- Aviso que vai doer – deu um sorriso de canto o virginiano – Se bem que não se compara ao estado que vi Shun chegar ao Santuário.

Com seu cosmo Shaka conseguiu levar a si e Camus para a leitura da mente do russo. Os cavaleiros de ouro se surpreenderam com o tamanho da crueldade que o santo de Andrômeda foi tratado, eles viram o quanto Shun tentou resistir e Shaka se orgulhou da postura do pupilo em frente ao desafio enfrentado. Ele não culpava o pobre rapaz pelo o que aconteceu, tamanha a bondade e ingenuidade que carregava e o pérfido cisne tirou proveito para dopá-lo. O santo da casa de Virgem temia pela saúde mental de Shun, ao ver os danos que eram causados principalmente pelas drogas e choques, isso que não haviam visto até então a parte mais horrível da estada do jovem nas mãos de Hyoga. Visualizar a cena do estupro deixou Camus nauseado e Shaka enojado e com muita raiva, imaginava quando Ikki e Afrodite recebessem a notícia da equipe médica, seria necessário contê-los para que não sujassem suas mãos com o sangue indigno do Cisne.

- Acho que vimos demais – disse o virginiano vendo o loiro caído no chão detrás das grades – Precisamos relatar a Shion com urgência.

- Eu não consigo crer no que vi – o aquariano mais velho estava trêmulo – Eu criei um monstro, ele iria se matar e levar Shun junto no final!

- Sei que está sendo muito difícil para você Camus – tocou seu ombro em compreensão – Mas, para mim o golpe foi duro demais...

- Shaka, você está a chorar – viu pela primeira vez aquela figura imponente desabar em lágrimas – Allez, vem cá – deu um abraço apertado no companheiro dourado – Vamos colocar para fora essa dor para fora antes de irmos. Precisamos estar bem firmes para o que virá, principalmente você Shaka, será um porto seguro para seu pupilo.

- Eu tenho idade para ser um irmão mais velho dele, mas, depois de tudo que aconteceu há quase quatro anos, eu cuidei desse garoto como se fosse um filho – apertou os punhos ainda durante o abraço – Sei que ele precisou amadurecer rápido em algumas coisas, pelo tamanho da responsabilidade que carrega como um cavaleiro de Atena, mas, para outras coisas ele era só um menino, seu olhar carregava o brilho puro de uma criança.

...

Na enfermaria do Santuário Shun precisou ser entubado às pressas por causa de suas dificuldades para respirar e os médicos faziam os exames, a preocupação era grande para descobrir a causa de os batimentos estarem abaixo do ideal. Eles de tempo para agir, não poderiam tomar uma decisão errada naquele momento, o paciente estava fragilizado, muito magro e com as marcas das torturas sofridas em seu corpo, isso que nem conseguiam pensar em como as drogas podem ter afetado a parte neurológica e o psicológico do rapaz. Eram muitas informações para colher e verificar. Uma das partes mais difíceis é contar a família como o paciente estava devido as condições violentas que o levaram até lá. Saori e Shion chegaram ao recinto às pressas e se juntaram a Afrodite e Ikki, sabiam que precisavam agir rápido, mas, não poderiam atrapalhar os cuidados iniciais da equipe médica que são importantíssimos.

- Senhores e senhorita, eu vim trazer notícias sobre o paciente Shun – a médica falava – No momento ele está entubado e recebendo oxigênio. Os exames iniciais acusaram drogas em seu organismo, além das luxações na região dos pulsos e tornozelos, as costelas estão um pouco magoadas, talvez seja essa uma das causas para sua respiração estar irregular ou o trauma sofrido.

- Eu quero queimar aquele desgraçado – os olhos de Ikki emanavam fúria – Os dois desgraçados, na verdade.

- Tente se conter Ikki, por favor, precisamos estar a par de toda informação possível - disse a jovem deusa - Desculpem-nos por isso doutora. Poderia ser mais clara, por favor, nós precisamos saber de tudo para ver como podemos ajudar

- O jovem sofreu com choques elétricos, deu para perceber pelas marcas deixadas por esses aparelhos – a médica tentava conter suas emoções, era muito difícil falar sobre... – Também sofreu com violência sexual. Foi feita uma coleta e análise do material, de qualquer forma ele tomou um coquetel para a prevenção de desenvolver alguma IST.

- Eu deveria ter matado aquele maldito – o pisciano apertou os punhos – Quando poderemos vê-lo?

- Ele será devidamente punido Afrodite – garantiu a deusa – Posso entrar doutora? Acredito que utilizando meu cosmo eu posso acelerar o processo de recuperação dele.

- Está bem, somente a senhorita, mas, deverá passar pelos procedimentos de segurança para que não haja alguma infecção.

Saori chegou até o leito de UTI que o virginiano estava internado e viu seu estado lastimável. Estava muito decepcionada com Hyoga e garantiria que a justiça fosse feita. Ela elevou seu cosmo e tratou de começar o processo de cura, em algumas áreas a deusa não sabia como conseguir restaurar com precisão e precisaria de ajuda em outro momento, mas, foi suficiente para tirá-lo completamente do perigo. Momentos depois recebera outra mensagem de Pandora avisando que o nome dele havia saído da lista. Os presentes sabiam que teriam outros desafios de enfrentar, mas, só de saber que Shun foi encontrado e estava fora de perigo trouxe um alento que eles precisavam.

...

Alguns dias se passaram desde o resgate de Shun. Ele se encontrava em estado de coma, o que preocupou as pessoas que o amam. Shion mesmo estando aparte de todos os acontecimentos queria coletar o depoimento de quem mais foi prejudicado nessa história. Hyoga continuava preso no calabouço do Santuário e se corroía de raiva por estar ali preso com Shun longe de si e também estava preocupado por sequer ter notícias do virginiano. O aquariano sabia que estavam atrás de sua cúmplice nessa história e que ela queria de volta as joias de Hefesto, nessa encruzilhada que estava sabia que tinha somente a perder. Lana o abandonara em um momento muito importante, caso unissem suas forças o resultado poderia ter sido diferente. No final decidiu por falar tudo o que sabia para não ter a mente remexida por Shaka novamente e mesmo que a deusa tivesse raiva de si e quiser se vingar, não tem como ser “enforcado vivo” duas vezes.

As notícias corriam com facilidade pelo Santuário sobre o sequestro, o detalhe sobre o estupro foi omitido para o próprio bem da vítima, não foi o tipo e informação que conseguiu escapar do sigilo. Camus se isolara em sua casa e saiu apenas quando Shion pediu seu depoimento, o aquariano dourado precisava daquele tempo sozinho para se recompor, isso quando não se martirizava toda vez que olhasse para a armadura de cisne que estava confiscada em sua casa. O francês sabia que ela não pertenceria mais oficialmente ao russo assim que o julgamento fosse feito e o dia havia chegado.

Hyoga havia sido levado ao templo principal onde estavam reunidos um grupo seleto de pessoas. Saori estava sentada em seu trono para observar a condução do julgamento realizado pelo Grande Mestre Shion. Seiya, Shiryu, Afrodite e Ikki estavam lá para dar os seus testemunhos, além dos mestres Camus e Shaka que haviam visto os acontecimentos na mente do cisne. Shun estava seguro no hospital sob a vigília dos olhos atentos de Mu de Áries, um bom amigo.

- Estamos aqui reunidos para o julgamento de Hyoga de Cisne, acusado pelo rapto, encarceramento, abuso, tortura e tentativa de homicídio do cavaleiro Shun de Andrômeda – faz uma breve pausa para continuar – Confirma as acusações? Há algum arrependimento de tê-las cometido?

- Sim e não, não tudo – limitou-se a dizer e olhava com deboche para o pisciano – Pelo menos em algo valeu a pena.

- Maldito! – gritaram o pisciano e o leonino presentes – Quero que sofra ainda mais do que fizera meu irmão sofrer! – completou Ikki.

- Eu não consigo reconhece-lo mais – disse Shiryu – O que houve com aquele cavaleiro honrado que batalhou tantas vezes ao nosso lado?

- Contenham-se! – disse Shion – Limitem-se a falar quando solicitados, por mais repulsivo que seja o comportamento do réu.

- Já temos uma confissão e as testemunhas já foram ouvidas anteriormente – disse a deusa – A colaboração com informações sobre sua cúmplice foram apuradas e eu já levei o meu pedido aos deuses do Olimpo. Eles se encarregarão de encontrá-la e julgá-la por seus atos – levantou-se do trono e caminhava em direção ao réu – Você não será mais um cavaleiro de Atena, a armadura de cisne que já foi confiscada e um novo aspirante será treinado para obtê-la. Também será destituído de seu cosmo – ela não queria ter que tomar medidas extremas, Hyoga tinha um bom histórico e a ajudou tanto, mas, não poderia ser complacente aos crimes cruéis cometidos contra outro cavaleiro muito querido – Procurei refletir sobre muitas leis antigas, acho que precisa de ajuda médica e passará por uma avaliação psiquiátrica, possivelmente será internado – o russo fez menção a protestar – Antes disso passará pela humilhação prevista na lei antiga que pode ser aplicada pela pessoa a qual foi prejudicada ou por alguém próximo, como Shun não se encontra em condições para tal, Ikki ou Afrodite estão aptos para conduzi-la.

- Algo mais? – estava desolado, havia perdido tudo.

- Serão 15 anos em reclusão contando com o tratamento médico, havendo a possibilidade de reduzir-se a 10 anos caso haja um bom comportamento – apontou o báculo para o selamento completo do cosmo de Hyoga – Como não retornará ao Santuário e precisamos conservar nosso segredo, além de que precisará tirar seu próprio sustento, suas lembranças sobre ser um cavaleiro serão apagadas e encaminharemos você para um trabalho comum em um local de sua escolha desde que seja distante do Santuário.

O russo retornou para a prisão do calabouço, a humilhação aconteceria no dia seguinte. Alguns ali não ficaram muito satisfeitos com o julgamento, consideraram que Saori não foi completamente imparcial a situação. A vítima carregaria as cicatrizes de dor daqueles atos para toda uma vida, enquanto o criminoso teria chances de refazer sua vida e até esqueceria dos atos atrozes cometidos. A virginiana havia se baseado um pouco na justiça dos homens e torcia para que o aquariano pudesse se recuperar e refazer sua vida longe de todos, também esperava que Shun acordasse e daria todo o suporte necessário para que ele não caísse novamente em uma terrível depressão devido ao seu histórico e traço hereditário.

- Mal posso acreditar que nossa deusa foi mais branda com aquele infame do que deveria – disse Afrodite já em sua casa – Se meu amado estivesse lá, eu duvido que ela teria coragem de dar essa sentença olhando nos olhos dele.

- Eu consigo entendê-la – disse Shaka – Acredito que ela tenha utilizado dos antecedentes dele para atenuar um pouco a pena – tocou-lhe o ombro – Também não considero justo, mas, veremos os resultados disso no futuro. Agora precisamos nos concentrar na recuperação de Shun.

- Você tem razão Shaka. Nós precisamos dar todo o apoio para ele – ordenou que sua armadura retornasse a urna – Irei vê-lo, quer me acompanhar? Esse estado de coma dele lembra-me muito aquela época.

- É possível que ele tenha fugido para o inconsciente. Foi muita dor para ele conseguir lidar sozinho – refletia – Eu vi o quanto que nosso pequeno tentou resistir pelas lembranças daquele ser asqueroso. Teve uma lembrança em especial que o comportamento de Shun estava muito semelhante a aquela época ruim.

- Então ele deve ter atravessado um espelho de memória!

- Talvez não de forma consciente, visto a forma que o forçaram a despertar – Shaka se sentia enojado ao rememorar esses acontecimentos – Irei contigo, assim faremos uma busca, irei conectar-nos a mente de Shun.

- Estou de acordo.

- Aviso que não será um procedimento fácil, como não está acostumado a esse tipo de coisa se sentirás muito cansado. Camus precisou ficar um dia de repouso, pois foi muita informação vista na mente de Hyoga.

- Está bem. Gostaria muito de punir aquele pato amanhã e dar-lhe o que merece, mas, o bem-estar de meu noivo vem primeiro – seguia Shaka até a casa dele – Acredito que Ikki cumprirá bem com esse papel.

- Isso se ele não matar o desgraçado ali mesmo.

- Acredito que Shion intervirá para que isso não aconteça.

- Eu notei pelo cosmo de Shion que ele não ficou muito satisfeito com o resultado – respondeu o indiano – Acho que ele fechará um pouco seus olhos para o que fênix fará e o interromperá quando sentir-se satisfeito.

- Isso seria muito bom – riu – Vamos logo, senão perderemos o horário de visitas.

- Pedirei a médica uma permissão especial para estender mais um pouco esse horário – a armadura de Shaka foi devidamente guardada – Pelo menos uma vantagem de ele estar internado por aqui.

- Verdade – o pisciano estava ansioso em resgatar seu amado virginiano de seu coma profundo.

Notes:

Saori, minha filha! O que eu faço com você?
Eu fui fuçar sites que falavam sobre direito penal para tomar como base para fazer essa pena do Hyoga, com um toque de licença poética para ela colocar um pouco das "leis do Santuário" no meio. Infelizmente não tenho os links da pesquisa, mas, fiquem à vontade para pesquisarem, foi bem legal e complicado ao mesmo tempo.
Pra fazer o Shaka (~vulgo Buda) e o Camus (~vulgo Cubo de gelo) chorarem é que o negócio foi bem forte.
No próximo capitulo teremos o que aconteceu com a Lana e essa viagem de resgate na mente de Shun.
Beijos e até a próxima ;)

Chapter 12: Capítulo 11 - A porta

Notes:

Nós veremos a situação de Lana nesse capítulo e a viagem dos dourados na mente de Shun. Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Sem rumo desde sua fuga por causa de seu plano fracassado envolvendo os cavaleiros de Atena, Lana teve seu nome conhecido por outros deuses e seus exércitos. Seus esquemas de negócios sujos no mundo humano tiveram que ser interrompidos e informações sobre a capitã das forças armadas russas foram expostas em pouquíssimos dias. A loira utilizava disfarces e identidades falsas para despistar a Interpol, enfrentaria facilmente humanos comuns, mas, se utilizasse de seus poderes chamaria a atenção que não desejava. Foi então que a deusa pensou em sua última saída, pedir refúgio para sua mãe adotiva, a deusa Nêmesis.

- Minha mãe! Não sabes o quão feliz estou em te ver! – correu para abraçá-la – Eu preciso de tua ajuda.

- Soube por alto do que se trata minha filha – desfez educadamente o abraço e a convidou para sentar-se – Que confusão foi essa envolvendo os cavaleiros de Atena e para que se envolvera com tortura e tráfico humano?

- Sobre os cavaleiros eu não consegui avaliar bem a situação no início, só esperava que não me associassem ao crime, mas, não dava mais tempo para fugir sem ser vista – choramingou – Eu apenas gostaria de provar ao meu genitor que se ele tivesse insistido mais com a minha genitora que eles poderiam estar juntos hoje e eu não teria sido abandonada. Não poderia fazer esse tipo de teste em humanos comuns e não tive intimidade com outros deuses para fazer esse pedido. Encontrar aqueles cavaleiros parecia que de alguma forma meus desejos foram atendidos.

- Já havia conversado contigo sobre brincar com vidas humanas, não é nosso direito mesmo nós sendo deusas – disse a mais velha séria – Algo maior deu origem a todos nós, cada um de nós tem uma função pré-estabelecida ou a recebe após o batismo onde quer que seja feito. Os humanos que dão combustível aos nossos poderes, acreditando diretamente em nós ou não.

- Outro sermão minha mãe? – bufou insatisfeita – Pensei que pudesse me ajudar.

- E eu estou te ajudando – sorriu – Quero ajudá-la a entender sobre sua função. Atena fez seu apelo ao Olimpo que se estendeu a outros domínios – acariciava os cabelos da filha adotiva deitada sobre seu colo – Como deusa da vingança eu considero justo que muitas pessoas e essa deusa queiram se vingar de ti, mereces por suas atitudes, não somente pelo rapaz cavaleiro que prejudicasse severamente, digo por todos que prejudicasses com seus crimes aos olhos da lei dos homens e das dos deuses.

- Então a senhora quer que eu venha a entregar-me?

- Cairás na prisão de qualquer forma. Cercaram-te por todos os caminhos. Nem eu conseguiria esconder-te por tanto tempo – Lana levantou-se e Nêmesis a olhava nos olhos – Sei que sempre se sentira incompreendida e em algum momento isso te corrompeu. Caso seja capturada pela justiça humana, eles perceberiam depois de algum tempo que és diferentes deles por não envelhecer. Então entregue-se a justiça divina, terás bastante tempo para refletir sobre seus atos. Eu conversarei com Hefesto e Aphrodite, nós precisamos resolver esse problema de uma vez por todas.

- Realmente não disponho de melhores opções, chame-os, por favor – caso resistisse e fosse lutar sabia que seria morta, por mais que a opção de render-se soasse a mais covarde, ao mesmo tempo era a mais prudente a ser tomada – Eu me rendo! – levantou-se e ergueu as mãos para cima.

- Eu sabia que tomarias a decisão correta – sorriu a mãe adotiva enquanto emitia um sinal com seu cosmo – Prometo que a visitarei sempre que possível – deu um último abraço e afastou-se quando viu os guerreiros olimpianos chegarem para buscar sua filha criminosa – Adeus Lana!

- Adeus mãe! – colocaram as algemas divinas nela e sem resistir foi conduzida até a prisão do Olimpo.

...

Shaka e Afrodite não demoraram para chegar à enfermaria do Santuário. Durante o caminho o pisciano questionou o amigo sobre o porquê a corrente de andrômeda não ter ajudado dessa vez para encontrar o seu portador. O indiano precisou refletir um pouco enquanto caminhava, afinal aquela foi uma pergunta muito boa e pertinente.

- Acredito que a corrente possa ter agido aquela vez por causa da explosão de cosmo que Shun havia causado. Mesmo tentando ocultar o próprio cosmo, seu nervosismo pode ter liberado um ínfimo fragmento que fosse e ela seguiu esse rastro.

- Mas, a corrente não era capaz de seguir qualquer pessoa onde quer que fosse? Isso aconteceu com Saga na batalha das doze casas – rebateu o sueco.

- A corrente pode ter vontade própria, Shun havia afirmado isso uma vez, mas, acredito que tenha uma limitação da vontade e do cosmo do portador – chegaram no quarto – A armadura estava na Grécia quando Shun sumiu no Japão de forma não violenta. Provável de que a corrente não sentiu esse perigo. Também tem o fator do cosmo ter sido completamente bloqueado.

- Ikki havia me contado que a corrente estava reagindo quando meu amado estava em seus piores momentos no hospital.

- Porque ele estava mais próximo de seu raio de alcance e pelo cosmo ter sido liberado. Isso faz minha teoria ganhar um ponto – pegaram as cadeiras e deixaram próximas do leito – É melhor sentar-se.

- A melhora é visível desde o estado que o encontramos – acariciava a face do rapaz inconsciente – Falta apenas o rubor retornar as bochechas e o brilho em seus olhos.

- Sim. Está pronto?

- Estou. Vamos resgatá-lo de sua própria mente meu querido – beijou-lhe a mão que segurava.

Os cavaleiros de ouro conseguiram o acesso ao subconsciente do virginiano adormecido. Shaka logo notou as diferenças daquele ambiente desde sua última vinda, o ambiente estava mais iluminado ao ponto de conseguir ver parte da amplitude de lá e os desníveis que seriam um obstáculo estavam iluminados como um alerta de perigo. O semblante de Shaka não passou despercebido por Afrodite que observava atentamente o ambiente estranho que era a mente de seu amado noivo.

- Algo diferente desde a última vez em que esteve aqui? – observava um dos espelhos que refletia sua própria imagem – Esses espelhos não deveriam refletir lembranças? Lembro de ter me falado algo do tipo num daqueles seus sermões naquela época.

- Está bem diferente em alguns aspectos, esse que mencionara é um – aproximou-se um pouco para checar – Algo está errado com esses espelhos de memória. Em compensação a mente dele está melhor iluminada do que a vez em que nossa deusa e eu estivemos aqui, isso facilitará nossa caminhada, pois dá para visualizar possíveis armadilhas. Precisamos encontrar o caminho para o inconsciente, já que não consigo senti-lo aqui.

- Quase não consigo sentir a energia de seu cosmo, mas, acho que devemos seguir por ali – conseguiram chegar ao portão do inconsciente sem problemas – Tem algum aviso para dar? Algo que eu deva me preocupar?

- O lugar que vamos atravessar é instável e com bastante abstração, nós devemos ser cuidadosos – desceram as escadas dando acesso ao subterrâneo – Eu não entendo o motivo dessa vez não sermos repelidos. De alguma forma a mente dele está facilitando o nosso acesso.

- Isso é um bom sinal, não é? – perguntou com ar otimista – Está mais frio aqui ou é impressão minha?

- É uma abstração do emocional de Shun, isso pode alterar algumas condições do que vemos e sentimos – passaram pela cela a qual Hades havia o prendido na época da guerra santa – Ele não está aqui. Será que ele foi ainda mais fundo?

- Mais fundo? Eu pensava que Hades aquela vez já havia o aprisionado no local mais fundo de sua mente! – disse alarmado – Não seria melhor ele se esconder aqui para preservar-se de todas as atrocidades cometidas por aquele patife? – ficara emotivo só de lembrar o que a médica e o amigo havia conversado consigo.

- Ele precisa de ti com a cabeça no lugar Dite, acalme-se! – seguiam em frente – Hades havia o prendido numa camada funda do inconsciente, mas, não a mais funda. Seria arriscado demais deixa-lo próximo da porta. Por Atena! Será que ele conseguiu chegar próximo a porta ou está a caminho de lá?

- Que porta é essa Shaka? Agora quem está nervoso é você! – viram-se numa encruzilhada – Há mais três caminhos por aqui.

- Talvez seja por isso que estamos conseguindo passar tão fácil! Shun esteve quebrando as travas da própria mente – concluiu – Aqueles dois conseguiram deixá-lo tão mal ao ponto de ele quebrar as próprias barreiras, as quais nossas mentes colocam para nossa autopreservação.

- Meu deus! – as lágrimas de Afrodite caíam sobre o solo cinzento e gelado – Isso está sendo pior do que aquela época. Será que teremos tempo para salvá-lo?

- Olhe para o chão meu amigo – apontava o indiano – Esse era o sinal que precisávamos! Pode ser um ato desesperado de seu instinto de autopreservação sentir que somos a ajuda que ele precisa – sorria – Ainda há esperança! Vamos!

- Essas pequenas flores estão a formar uma trilha pelo chão – pegaram o caminho do meio – E a história da porta? Vai me contar ou não?

- Desculpe-me por isso, eu quase havia esquecido de contar-te – fez uma breve pausa para acalmar os ânimos enquanto observavam algumas das travas desarmadas – Há uma lenda sobre a última porta da alma. Dizem que após abrirem e atravessarem a porta, aquelas almas não pertencem mais a aquele corpo.

- Isso é terrível! Isso não traria algum benefício para Hades naquela época?

- Não, pois a alma levaria junto toda sua força vital. O senhor do submundo ficaria preso a um corpo de um boneco de pano, um alvo fácil. Ele precisa do hospedeiro vivo até terminar de cumprir com seus objetivos e agora sabemos como eles são deixados para morrer com aquelas faixas negras que esmagam seus espíritos completamente.

- Entendi – avistou de longe as vinhas de rosas e uma porta – Eu consigo senti-lo mais perto! Shun!

- Pelo visto a última trava que o impediu – se aproximaram mais – Seu estado consegue ser pior aqui do que o que vimos em seu exterior – disse triste – Acho que ele se feriu ainda mais ao atravessar todas essas barreiras.

- Meu pequeno anjo – sussurrou ao tocar seu rosto coberto pelas vinhas – Não consigo mensurar o tamanho da dor que o trouxera até aqui, mas, vamos conseguir juntos superar mais esse obstáculo. Você vai ficar bom e seremos muito felizes juntos! – as vinhas libertavam o menor cuidadosamente para os braços do pisciano e tornou-se uma pequena e bela rosa.

- Conviver mais com vocês dois deixaram-me mais emocional do que eu precisava – o outro loiro enxugava suas lágrimas – Nós precisamos ir.

- Não o deixará aqui para se virar sozinho novamente? – perguntou enquanto acomodava melhor o noivo em seus braços.

- Não permitirei dessa vez. Já que não seremos incomodados no lado externo isso não será um problema – enquanto faziam o caminho de retorno viram as barreiras se fecharem atrás de si – Shun está muito enfraquecido para tentar seguir esse caminho todo sozinho e por ter quebrado as travas não seria certo de que ele quisesse retornar.

- Por isso que eu acho que foram brandos demais com aquele cretino – sentiu o virginiano reagir um pouco quando saíram do inconsciente – Ele está despertando!

- Então precisamos chegar mais depressa ao melhor ponto para ele chegar plenamente consciente para o lado externo – conseguiu levitá-los para chegar mais depressa.

- Por que não fizesse isso antes?

- Havia esquecido que esse lugar não me repelia completamente – deu de ombros – O importante é que chegaremos lá.

- Será que aquelas rosas que o deixaram naquele estado de coma profundo?

- Deve ter sido o único jeito de pará-lo. Quando esse teimoso coloca algo em mente dificilmente conseguimos convencê-lo – chegaram próximos da saída segura – Você se sentirá um pouco tonto e bem cansado, acredito que dentro de uma hora você estará implorando por sua cama – ironizou – Então não se afobe e seja paciente com o meu aprendiz.

- Está bem, mandão – sorriu – Não sei se conseguirei me conter, mas, tentarei ao máximo.

Eles acessaram a passagem e retornaram aos seus devidos corpos. Shaka não estava brincando quando disse que o pisciano se sentiria muito cansado. Provavelmente precisaria de ajuda para retornar a sua casa, pois confiar em seus poderes em seu estado estava fora de cogitação. Em poucos minutos Shun despertava, seus olhos verdes de abriam e se acostumavam com a iluminação do ambiente e das coisas a sua volta. Demorou pouco para ficar ansioso ao notar no ambiente hospitalar no qual estava, mas, ao olhar os olhos azuis e calmos de Afrodite que estava a sua direita algo dentro de si o fez aquietar-se um pouco.

- Fico feliz que tenha despertado meu querido – sorriu – Agora ficará tudo bem Shun.

- Shun? – repetiu seu próprio nome como se fosse uma pergunta.

- Ele deve estar um pouco confuso com essa volta repentina do coma Afrodite – disse o virginiano mais velho – Como está se sentindo?

- Esse lugar está me deixando ansioso e não sei porquê – voltou sua atenção para o loiro à sua esquerda – Podem, por favor, me explicar quem são vocês e o que eu faço aqui? – isso deixou os dourados em choque – Podem também explicar quem sou? Pois não consigo me recordar de absolutamente nada – confessou – Só de tentar lembrar a minha cabeça dói.

Notes:

Nêmesis teve uma atitude de boa mãe, espero que o tempo presa faça com que Lana reflita melhor sobre suas atitudes de motivação egoísta.
E o que dizer desse final? Meus Zeus! Que situação?!
Agora vocês sabem do mistério da porta.
Abraços e até o próximo capítulo!

Chapter 13: Capítulo 12 - Livro em branco

Notes:

Olá pessoal! Cheguei com um capítulo novo e ainda dramático. Veremos melhor como está nosso Shun e o que as pessoas a sua volta vão fazer. Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Os dois amigos se viram numa bela enrascada. Shun havia despertado sem suas lembranças, confuso e até mais falante do que esperavam. O pisciano se manteve calado, o cansaço somado ao choque o deixou vagaroso em contraste com o que a situação lhe exigia. Shaka percebeu o estado do amigo, mas, também precisava passar a segurança que seu pupilo desmemoriado precisava.

- Você chegou aqui bastante ferido e os médicos estavam a cuidar bem de ti – disse com ternura – E nós viemos lhe visitar. Estamos felizes que tenhas despertado.

- Não consigo recordar como foi que eu me machuquei – notou as faixas em seus braços – Parece que foi bem feio mesmo! – disse surpreso – Vocês são da minha família ou são meus amigos?

- Somos amigos – respondeu Afrodite entre lágrimas – Mas, somos unidos como uma família.

- Eu devo ter ficado muito mal para você estar chorando assim – tocou a face do sueco e enxugou suas lágrimas – Me desculpe por isso e por não conseguir lembrar.

- Vai ficar tudo bem Shun – disse o indiano – Enquanto você não se recorda de tudo nós o reapresentaremos as coisas.

- Está bem, obrigado! Shun, esse é o meu nome – repetiu seu nome mentalmente algumas vezes para tentar vir uma lembrança – Esse nome é japonês, mas, estou aqui conversando em grego, isso é estranho.

- Estás na Grécia e é normal que fales grego – procurava ser mais simpático para não soar grosseiro com seu pupilo – Meu nome é Shaka e eu vim da Índia para cá. Já o Afrodite veio da Suécia.

- O nome de vocês não me soa familiar, mas, ao mesmo tempo soa agradável – sorriu – O que nos trouxe de lugares tão distantes para cá?

Antes que o mestre pensasse numa forma mais simples de responder aquela pergunta a médica entrou no quarto com a enfermeira. A entrada daquelas pessoas chamou a atenção de Shun que mudou seu semblante mais tranquilo por um mais ansioso, inconscientemente sentia medo daquelas pessoas.

- Olha só quem acordou doutora Lara! – disse a enfermeira radiante – Vocês são duros na queda mesmo – brincou – Então Shun, como está?

- Acho que ele não está com muita vontade de falar Helena – advertiu a médica – Se importa de o examinarmos rapidamente?

- P-por favor não! – gritou chamando a atenção dos presentes – Me tirem daqui, por favor! – implorou com um olhar suplicante para seus amigos.

- Acalme-se Shun – Afrodite o abraçou institivamente até que o mais jovem que chorava aflito se acalmasse – Elas não vieram lhe fazer mal, cuidaram tão bem de ti esses dias, sua atitude não foi educada.

- Me perdoem - curvou-se rapidamente – Eu não consigo explicar direito, mas, um sentimento de medo tão grande tomou conta de mim.

- Tudo bem criança – disse a enfermeira mais velha – Eu cuidei de ti lá no outro hospital, recordasse?

- O Shun despertou com amnésia – respondeu Shaka com prontidão para evitar mais uma situação estressante para seu pupilo – Estávamos tentando conversar com ele um pouco desde que despertara.

- Compreendo – disse a médica – Caso o mocinho colabore com os exames nós podemos dar a liberação ainda hoje, apenas teria que retornar para vermos a questão da amnésia, já que os ferimentos melhoraram bastante.

- Está bem – se deu por vencido – Mas, ele pode ficar? – segurou a mão do pisciano – Ainda estou sentindo aquela agitação e você conseguiu me acalmar, fique, por favor – o sueco não resistiu a aqueles olhos e assentiu.

- Sem problemas Shun – respondeu a médica – Será uma bateria rápida e o seu no... amigo – corrigiu-se ao ver a expressão do dourado – ... parece cansado. Então fique quietinho e atento as instruções do exame.

O virginiano mais novo seguia as instruções dos exames, às vezes segurava a mão de Afrodite e em outras ficava olhando para ele que passava a sensação de segurança da qual o jovem precisava. O portador da armadura dourada de peixes sabia que precisava se manter firme ali por seu amado, mas, seu interior se despedaçava. Afrodite temia que seu noivo não recuperasse a memória, estava triste por Shun não se recordar de forma consciente sobre o amor que sentia por ele e o quanto seu anjinho ficaria devastado quando se recordasse das atrocidades cometidas por Hyoga. Ainda era cedo para tentar julgar alguma coisa, mas, os pensamentos do pisciano viajavam longe e tudo o que ele precisava era de um tempo para descansar e se recompor.

- Você foi muito bem! Irei pedir a sua liberação, não vejo motivo de mantê-lo aqui já que despertastes a consciência, pode ficar à vontade para trocar de roupa.

- Obrigado doutora! – viu a médica e a enfermeira saírem – Na verdade eu preciso te agradecer também por ter ficado aqui comigo. Eu teria entrado em pânico se não fosse por ti.

- Não foi nada meu querido – sorriu e tratou de pegar a muda de roupas na gaveta da cômoda – Preciso lhe perguntar algo, por que escolhera a mim para ficar e não Shaka?

- Eu apenas senti que precisava de ti – vestiu a camiseta com um pouco de dificuldade – Desde que acordei sinto sensações das quais não consigo explicar. Por certo em algum lugar aqui dentro – apontou para seu coração – me avisa que você é uma pessoa especial em minha vida, mesmo que agora eu não consiga recordar de nada.

- Ai Shun! – o abraçou apertado – Nós vamos conseguir superar mais essa, eu sei.

...

Com Shun liberado, Shaka conversava com Afrodite na recepção sobre o que fariam. Aquele despertar repentino não era algo esperado dado o estado que os dourados viram o espírito de andrômeda. Tampouco contavam que fosse acordar com uma amnésia.

- Eu conversei rapidamente com a médica aqui na recepção enquanto vocês estavam lá dentro – olhou para o pupilo sentado no sofá da recepção distraído com a televisão – Ela disse ser compreensível dele ter despertado com essa amnésia, pois o péssimo tratamento que teve em cárcere com aquelas drogas e eletrochoques podem ter afetado algumas de suas funções, além do trauma sofrido.

- Pensei que nossa deusa havia dado conta disso naquele dia. Ela havia o curado, não?

- Tu estavas muito abalado, Atena conseguiu deixa-lo fora de perigo de morte, mas, quando conversamos ela me contou que não sabia como recuperá-lo completamente – suspirou – Não sei o que esperar, nosso pequeno parece bem saudável com a exceção da memória.

- Compreendo. Já conseguiu avisar o irmão dele?

- Avisei sim, ele está com Shion discutindo sobre o que é permitido para a punição de Hyoga – disse o nome do aquariano com desprezo – Eu só avisei que Shun despertou e que eu preciso conversar seriamente com ele antes de entrar em contato com o irmão.

- É necessário mesmo. Meu amado está tão confuso e mais estresse somente colaboraria com mais uma crise de pânico – deu um bocejo – Ainda quero conversar contigo a respeito de alguns acontecimentos, ideias que preciso organizar em minha mente após um boa noite de sono.

- Então vamos fazer assim, tu vais descansar em tua casa e eu levarei meu pupilo até a minha. Ikki ficará bastante ocupado amanhã e eu terei que conversar com ele antes.

- Aproveite para mandar uma mensagem para Shion, será problemático explicar para meu amado sobre as doze casas hoje.

- Tens razão. Então é melhor que vá na frente e peça ajuda para que Mu te leves para tua casa – o indiano sabia que o sueco precisava de um tempo – Aproveite teu descanso para colocar a mente no lugar, aconselho que medites quando já estiveres descansado. Eu sei o quanto isso será difícil, principalmente para ti até mais do que para o Ikki.

- Pois o laço fraternal é mais fácil de se resgatar – disse tristonho – Vou me despedir dele.

- Afrodite, você já vai embora? – o jovem sentia o tom de despedida apenas pela aproximação.

- Sim, eu preciso ir para casa descansar um pouco, tive um dia bem cheio – decidiu por omitir alguns detalhes – Você ficará com Shaka hoje e o restante das coisas vão se ajeitar melhor amanhã, está bem? – o virginiano assentiu – Ótimo! Até amanhã Shun – deu um beijo rápido em sua testa e o garoto ruborizou.

- Esse é algum costume comum entre amigos por aqui? – perguntou timidamente – Desculpe por perguntar isso.

- Não faz mal perguntar, apenas não se recorda – sorriu – Aqui na Grécia é um costume comum, já em minha terra natal é algo mais reservado para pessoas muito queridas.

- Então eu sou muito querido – sorriu – Obrigado!

- É sim. Até logo – “meu amor”, completou em seus pensamentos.

...

Afrodite foi embora para sua casa e pediu mesmo ajuda para Mu, pois a exaustão que sentia permitiu apenas que trocasse poucas palavras com o ariano que já o levou desacordado para peixes com seu teletransporte. Algo parecido aconteceu com Shun, Shion foi reapresentado para o rapaz que já estava um pouco sonolento. O grande mestre apenas o influenciou a dormir mais rápido e os transportou para a casa de virgem. Ikki já aguardava o anfitrião da casa para que conversassem sobre seu irmão caçula.

- Fiquei em alerta desde que recebi tua mensagem. Tu sabe que eu ‘tava louco pra correr até a enfermaria e ver meu irmão – disse o leonino angustiado – O que houve?

- Shion, por favor, fique. O que tenho para contar a Ikki eu preciso também contar a ti – se pronunciou o dono da casa – O assunto é urgente, por isso eu pedi para aguardar Ikki. Shun despertou, mas, está a passar por um momento delicado.

- Está bem Shaka, eu ficarei para escutar – respondeu o ariano – Acredito que a prosa não será curta.

- Vamos continuar essa conversa em meus aposentos privados, não precisamos de fofoqueiros para bisbilhotar esse assunto importante – saíram do salão principal da casa de virgem onde foram encontrar fênix – Afrodite e eu fomos buscar meu pupilo em seu inconsciente.

- Como aquela última vez com Atena – perguntou Ikki e Shaka assentiu – Ele despertou bem rápido em comparação!

- Isso aconteceu porque nós o levamos diretamente ao consciente – o moreno arqueou as sobrancelhas com aquela informação, como se questionasse um fato anterior – Vou explicar porque tivemos que tomar essa decisão – suspirou – As condições da mente de Shun estavam diferentes das que encontramos naquela época pós-Guerra Santa, nosso acesso foi facilitado, não víamos as lembranças dos espelhos de memória. A parte mais tensa foi quando adentramos o inconsciente, a prisão criada por Hades estava lá vazia e a minha teoria que ele tinha ido para lá se esconder das maldades feitas por aqueles dois cretinos caíra por terra.

- O que quer dizer com isso? – perguntou o grande mestre – Onde o encontraram?

- Próximo a última porta – pela reação do ariano, ele também conhecia, mas, teria que explicar para o irmão mais velho de Shun – Essa porta representa uma saída sem volta da alma do corpo, a morte terrena. Shun atravessou o inconsciente e quebrou as travas que o impediam de ultrapassar essa porta, com exceção da última trava. Nós o encontramos preso desacordado nessa trava e decidimos levá-lo de volta conosco.

- Porque talvez ele não tivesse forças para querer voltar – Shion completou o raciocínio – Para ter chegado tão longe assim ele não deveria mais ter esperanças, apenas a dor o levou – disse triste.

- Exatamente, por isso que tomamos essa decisão, pois consciente seria mais fácil de conduzi-lo a colaborar com o tratamento dos traumas adquiridos. No entanto, algo que nós não contávamos aconteceu.

- Do rapaz acordar com amnésia – o ariano conversou pouco com andrômeda na enfermaria – Ele realmente parece não se recordar de ninguém, tampouco de si mesmo, até diria que Shun está um pouco...

- Infantil? – completou o loiro – Acredito que alguns de seus conhecimentos básicos não tenham sido afetados nessa perda de memória, por exemplo, ele ainda se lembra de falar grego e conseguiu associar o próprio nome com o país de origem. O problema é que por não se recordar das memórias base deixaram-no “descalço” e emocionalmente ingênuo como uma criança, mas, Shun consegue compreender o que conversamos com ele.

- Então o meu irmão não se recorda de nada? Nem das pessoas mais próximas a ele? – perguntou preocupado – Quando ele atravessava aqueles espelhos de lembranças no passado, por mais que ele não fosse sua versão atual ainda me reconhecia.

- É diferente agora – disse com pesar – Afrodite estava arrasado ao meu lado e até conseguiu fazer um bom trabalho. O estado do qual Shun está não é culpa dele, então precisamos ser bastante pacientes para não o assustar, o rapaz já teve uma crise de pânico e precisamos evitar um pouco ambientes hospitalares. Eu acredito que o trauma, mesmo que não recordado faz com que seu corpo reaja negativamente a certas situações, isso aconteceu na enfermaria do Santuário.

- Compreendo. Eu passarei essa situação para nossa deusa, ela está interessada em saber as notícias sobre o cavaleiro – Shion já falava em tom de despedida – Ikki, lembre-se do que conversamos, sobre o que é permitido para amanhã. Seu irmão pode não se recordar do que houve, mas, faça por ele. Depois volte para a casa de Shaka para buscá-lo e com calma converse com ele – fez um sinal de despedida e foi embora para o salão do grande mestre com teletransporte.

- Posso vê-lo? – perguntou o leonino processando ainda as informações.

- Claro que sim – andaram até o quarto – Acho melhor vir depois da punição daquele covarde, eu tentarei distraí-lo até lá.

- Está bem – via o virginiano mais novo em posição fetal abraçado a uma almofada e com o cobertor próximo ao rosto – Ele dorme igual quando era pequeno – sorriu – Às vezes quando eu ficava de castigo e voltava bem tarde da noite o encontrava dormindo assim, só que com um ursinho de pelúcia, eu dizia que o boneco o protegeria enquanto eu estivesse fora durante a noite – recordava com nostalgia – Meu irmão ficará bem Shaka?

- Somente o tempo dirá, porém dentro das condições nas quais o encontramos é melhor de lidar com Shun assim do que aconteceria com a posse total de suas lembranças. Talvez a memória dele retorne aos poucos, por isso é importante que o preparemos para isso – abriu os olhos para contemplar da mesma visão do leonino – Parece mesmo o anjinho que Afrodite vive chamando – sorriu – Vamos sair daqui ou podemos acordá-lo – falava baixinho – Boa noite.

- Boa noite – o leonino retornou para sua casa – Ai pato! Você vai pagar caro pelo que fez ao meu irmãozinho – apertou os punhos – Tanto tempo que levou para que ele ficasse bem e feliz – derrubou algumas lágrimas já no silêncio de seu lar – Tudo isso ruiu por sua culpa e teremos que reergue-lo novamente sem as próprias memórias – tomou um comprimido para dor de cabeça e jogou-se na cama sem seus sapatos, dormiria daquele jeito mesmo – Amanhã lavarei minha alma com tuas lágrimas e terei que ser paciente com meu irmãozinho, tomara que não reaja mal a mim, afinal ele não se lembra e eu sou tão bruto – pensou até cair no sono.

Notes:

Então pessoal, o estado de saúde de Shun será melhor detalhado mais para frente, a intenção aqui é ver como ele despertou e como as pessoas próximas estão lidando com essa confusão toda. Os links de pesquisa estarão no capítulo que o quadro dele for melhor detalhado.
Sobre o próximo capítulo, apenas digo que após a punição do pato, um novo arco será criado nessa história e eu vou sinalizar isso.
Agradeço ao apoio recebido e de quem leu até aqui. Abraços e até a próxima ;)

Chapter 14: Capítulo 13 - Consequências

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Já era de manhã e Shaka estava acordado meditando em seu jardim buscando a iluminação que sua mente precisava para conseguir ajudar seu pupilo e consequentemente seus amigos. Desde a sua situação no passado envolvendo o virginiano mais novo, o guardião da casa de virgem aprendeu mais sobre a empatia, principalmente com os mais vulneráveis. Shaka permitiu-se abrir mais para os sentimentos e daí surgiu o laço que construíra com Shun, algo além da relação de mestre e discípulo, uma amizade fraternal.

No quarto de hospedes da casa de virgem, Shun despertara e estava um pouco confuso sobre o ambiente no qual estava. O jovem decidiu por explorar o lugar um pouco receoso, pois não queria incomodar o anfitrião ao entrar em algum cômodo no qual não deveria. Aos poucos o virginiano se recordava dos acontecimentos na enfermaria quando despertou do coma, ele sabia que estava na casa de Shaka e que provavelmente adormeceu no caminho, pois não se recordava como havia chegado lá. Sem querer acabou chegando ao jardim onde o anfitrião estava.

- Vejo que já despertaste, conseguistes dormir bem? – perguntou ainda na posição de lótus.

- Dormi bem sim, obrigado – o jovem olhava para seu mestre com um ar curioso – Costuma meditar?

- Sim, eu faço isso sempre e acredito que será bom que tu tentes também – falava com calma – Meditar faz bem ao corpo e a mente também.

- Eu gostaria de tentar – o estômago do jovem fez um barulho alto denunciando sua fome – Desculpe-me por isso.

- Podemos tentar em outra hora. Será melhor saciar essa fome primeiro, tua última refeição foi um lanche leve da cantina da enfermaria ontem, nós precisamos ver algo nutritivo – levantou-se e tomou o caminho até a cozinha – Venha.

- Você costuma andar pela casa de olhos fechados? Não tem medo de esbarrar em algo?

- Conheço melhor esse lugar de olhos fechados do que abertos – deu um breve riso – Você já fez esse exercício antes, mas, não se recorda.

- Há muita coisa de que eu não me recordo – disse tristonho – Eu tenho tantas coisas para perguntar, tanto para saber...

- Tente não se preocupar com isso agora, após o seu dejejum eu posso te explicar algumas coisas básicas sobre o local no qual estamos, outras coisas são muito pessoais e sei que há pessoas que conseguirão auxiliar nessa parte – uma serva já havia posto a mesa para o dejejum dos virginianos – O restante terás que recordar sozinho.

- Entendi – sentou-se a mesa após o sinal do anfitrião – Espero ficar bom logo!

- Eu também, todos nós...

Os dois fizeram uma refeição tranquila enquanto Shaka explicava o básico sobre o Santuário, da existência de deuses e que ali eles serviam a deusa Atena como guerreiros. Shun parecia uma criança vidrada na história contada pelo loiro, aquilo parecia uma grande ficção para si até o mais velho falar e fazer uma pequena demonstração do que era o cosmo quando retornaram ao jardim. Shaka teve uma ideia de fazerem alguns exercícios básicos de respiração e falou caso o mais novo se comportasse, ele mostraria como liberar um pouco da luz do próprio cosmo, aquela era a distração que o anfitrião precisava para fazer sua mente vagar e vislumbrar a punição do patife de gelo.

...

No templo principal a jovem divindade despertara de seu sono e começava a pensar no que faria em seu dia. Ela sabia dos seus afazeres como Saori Kido e como Deusa Atena, conciliar as duas personalidades em si foi um desafio, as memórias de deusa com seu coração humano. Por quatro anos sentia que conseguia desempenhar bem os dois papeis, em tempos se ausentava de um lugar ou então resolvia os assuntos de forma remota além de ter pessoas competentes trabalhando consigo. Porém ela acordou sentindo como se houvesse falhado em algo, ou melhor, alguém.

A moça soube do despertar conturbado de seu cavaleiro após a expedição de dois dourados sem seu prévio conhecimento. Seu lado humano estava feliz, mas, seu lado divino se sentira desafiado. O despertar de Shun após o julgamento de Hyoga a fez pensar se havia errado em ser mais branda com alguém que não demonstrava remorso por seus atos. Após comer e antes de dar seus telefonemas de mulher de negócios, ela pensava sobre o que Shion havia relatado na noite anterior.

- Meu querido amigo acordou sem suas memórias, eu não sei se isso será melhor ou pior para seu processo de recuperação – acomodava-se na poltrona de sua sala – Se estivesse desperto ontem no julgamento, mesmo sem ter suas lembranças, eu não conseguiria prosseguir com aquela sentença olhando em seus olhos... – olhava para seu aparelho telefônico buscando o contato de sua ligação – Irei checar sua situação pessoalmente Shun – deu um suspiro longo e se pôs a trabalhar.

...

 Em um local mais afastado era iniciada a punição do ex-portador da armadura de cisne. Ikki andava a passos lentos e seu pensamento estava em outro lugar. O leonino se recordava de velar parte do sono de seu irmão caçula, que parecia mais uma criança indefesa do que o poderoso santo de andrômeda. Fênix precisaria ser muito paciente com o rapaz sem memórias, torcia para que fosse algo temporário e o ajudaria a superar o outro grande trauma de sua breve existência.

Do outro lado caminhava Hyoga que estava sendo praticamente arrastado, fraco, por dois soldados rasos. O aquariano não sentia mais o seu cosmo fluir, o rapaz estava sujo e com a alimentação escassa recebida estava longe de seu pleno vigor físico. Ele caminhava de cabeça baixa, já sabia dos riscos do plano insano que executara, apenas torcera para o desfecho não ter sido aquele. Quando ergueu a cabeça vira apenas alguns cavaleiros e amazonas, seu antigo mestre Camus não estava lá para presenciar o final de sua ruína. Seus antigos amigos Seiya e Shiryu, estavam ali presentes com olhares reprovadores. Da elite dourada apenas Saga e Aiolos estavam presentes junto de Shion.

- Bom dia aos presentes – Shion andava até o centro – Hoje estou aqui representando a vontade de nossa deusa Atena do julgamento dado no dia anterior. Nossa deusa não estará presente, então estarei aqui para verificar se as ordens serão cumpridas de forma correta – olhou para Ikki – Cavaleiro Ikki de fênix, como representante do então cavaleiro Shun de andrômeda que não se encontra apto, irá executar parte da pena do cavaleiro renegado Hyoga – deu um breve suspiro – Sei que já está a par das regras, mas, terei que repeti-las para as testemunhas. Para que haja justiça não poderás utilizar ataques com cosmo ou ataques mentais, também poderás utilizar apenas uma das armas disponíveis além dos próprios punhos e não matar o condenado.

- Estou ciente – respondeu a ave de fogo.

- Enquanto a você – virou-se para Hyoga – Estarás livre das algemas e poderás tentar se proteger como puder, mas, não poderá levantar os punhos para ataque. Caso sinta que o cavaleiro de fênix está a abusar de seu benefício tem o direito de solicitar a mim uma possível interferência.

- Entendido... – respondeu com raiva.

- Ótimo! Fênix, tu tens duas horas – afastou-se Shion com os soldados rasos.

- Quantas vezes eu lhe avisei pato! – deu o primeiro soco no rosto – Para que não se metesse com o meu irmão! – o ex-cisne conseguiu bloquear parte do dano do segundo golpe.

- Não consegui evitar – ergueu-se do chão, mas, havia levado uma joelhada em seguida – Eu soube que ele acordou ontem a noite, por acaso perguntou por mim? – disse com deboche.

- Seu desgraçado! – o leonino partiu para cima ferozmente – A culpa é toda sua! Ele... – uma lágrima escapou de si enquanto deferia os golpes.

- O que houve com ele... para fazer a majestosa ave fênix chorar? – respirava ofegante no chão tentando se desvencilhar do mais velho que estava sobre si.

- Não vou responder suas perguntas ave imunda. Nós, as pessoas que o amam de verdade, vamos cuidar dele enquanto você pagará pelos seus crimes – levantou-se para pegar a arma escolhida – As marcas que você deixou em meu irmão não são visíveis e vão persegui-lo pelo resto da vida, nada mais justo o pato também ser marcado – pegou a arma de ferro que era aquecida nas brasas deixadas ali próximo das outras armas disponíveis – Isso ainda será pouco perto do que realmente merece por brincar com uma vida inocente.

Nem o próprio Pégaso conseguia terminar de ver aquela cena, estava sendo consolado por Shiryu e seu mestre Aiolos. O companheiro de batalhas difíceis pelo bem da paz e justiça terminaria daquele jeito? O sagitariano estava mal pela amizade terminar daquele jeito, ele foi um dos que ficaram magoados com a atitude do ex-cavaleiro de bronze no passado com Shun e outra vez seu amigo gentil foi alvo do russo de uma forma pior. Seiya estava ansioso para reencontrar o amigo e dar-lhe um abraço apertado, mas, Ikki havia explicado minutos antes brevemente o que havia acontecido com o irmão, então decidiu esperar um pouco como Aiolos havia recomendado.

Shion se manteve impassível diante da punição do aquariano e ordenou para que fênix parasse dado o horário devido. Aos poucos os presentes se dispersaram para darem continuidade em suas atividades, apenas o grande mestre, Saga e os soldados rasos que trouxeram o criminoso permaneceram ali.

- Nunca pensei que presenciaria algo assim – comentou o geminiano – Sei que fui influenciado por minha outra parte e fiz coisas terríveis. Eu preferi a morte do que ter uma segunda chance ofertada pela deusa e hoje revivido faço o máximo para redimir meus erros – olhou para o rapaz marcado no chão – Agora tu, em nenhum momento demonstrasse arrependimento ou medo de tudo o que perdeu e do que está por vir? A decadência como ser humano o abraçou e te carregará por esse caminho infeliz que escolhera.

- Vai...embora...traidor... – cuspiu o sangue que se formava em sua boca na direção do cavaleiro – Não tem... moral alguma... para falar de mim...

- Ao contrário – respondeu Shion – Saga demonstrou-se um guerreiro honrado e faz o seu melhor para construir uma nova imagem. Foi por isso que eu pedi gentilmente a presença dele aqui nessa manhã – fez um sinal para que o dourado se retirasse – Foi a última apelação que nossa deusa me fez em segredo, para que o visse e pensasse numa chance de se redimir passada sua pena, poderias ser um servo do Santuário no futuro.

- Grandiosa carreira... – debochou – Já estou atolado na lama, não me alimentarei do que lançarem nela.

- Já que és um caso perdido, por favor, levem-no daqui para a enfermaria avaliar o estado e o encaminharem para onde será iniciada a pena – se preparava para utilizar o teletransporte – O tempo ainda foi pouco para que fênix o fizesse engolir essa sua petulância.

...

O guardião da décima segunda casa despertou um tanto cansado. Ele havia sonhado com seu amado sorrindo aproveitando a brisa salgada do mar que bagunçava os cabelos de ambos enquanto caminhavam pela praia, o sonho que começara tranquilo teve um desfecho ruim e o pisciano jurava que era sua intuição o querendo avisar algo. Após banhar-se e fazer um rápido dejejum, Afrodite seguiu o conselho de seu amigo Shaka e foi meditar um pouco antes de reencontrar com seu amado anjo desmemoriado.

Quando saiu de seus aposentos privados e passava pelo salão de sua casa, ele avistou a jovem virginiana também de descida. O coração do santo dourado estava magoado com a decisão da deusa sobre a punição do russo, mas, precisava respeitá-la. Saori também queria ver de perto o estado de seu amigo, então desceram juntos em uma caminhada quase silenciosa, pois o pisciano ainda cumprimentava educadamente seus colegas cavaleiros.

- Afrodite, por favor, pare um pouco. Eu preciso falar contigo antes de adentrarmos a casa de virgem – seu tom de voz estava com uma certa tensão.

- Estou escutando minha deusa – apesar de estar com seu coração ansioso em reencontrar Shun, ele sabia muito bem da hierarquia do Santuário e não poderia negar um pedido tão simples vindo diretamente da deusa a qual serve.

- Eu sinto uma inquietação em seu cosmo e um certo ressentimento, na verdade eu sinto isso na maioria dos cosmos dos que estiveram presentes ontem no julgamento – confessou – Eu queria ser justa, mas, ao mesmo tempo me deixei influenciar pelas leis humanas para não ser severa demais com alguém que ajudou tanto no passado com um histórico limpo e com honrarias...

- Permita-me perguntar, se por acaso eu atentasse contra a vida de Seiya, tu me perdoarias ou me condenarias por meu histórico? Poria meus crimes e acertos na balança e veria para qual lado pender-se-ia mais? – não conseguia encarar a divindade – Apenas veja como meu noivo está. Ao menos posso falar a verdade sobre nossa relação sem assustá-lo – apertou seus punhos e tentava ao máximo conter as lágrimas que queriam transbordar de si.

- Desculpe-me Afrodite, eu errei – disse a virginiana entre lágrimas – Eu deixei os meus sentimentos humanos atrapalharem o meu senso de dever para com o julgamento. Após a avaliação médica de Hyoga, eu irei rever a pena dele com apenas os fatos na balança. Como a deusa da justiça eu preciso ser justa.

- Agradeço por reconsiderar minha deusa – aproximou-se da jovem e deu-lhe um abraço sincero – Eu não sou a pessoa que deveria perdoá-la, mas, posso dizer que tuas palavras fizeram bem ao meu coração. Vamos respirar fundo para entrarmos calmos na casa de virgem, não devemos preocupar Shun nesse momento.

- Eu compreendo – enxugou seu rosto com o lencinho de mão que carregava consigo – Shion me avisou sobre essa perda de memória, gostaria de apurar os fatos com vocês e conversar um pouco com meu amigo para que permita eu checar algumas coisas.

- Não acredito que hoje seja o melhor dia para isso. Essa coisa de entrar na mente cansa demais, sei que não estou acostumado e tive um sono de pedra por causa de ontem – recordava-se de não levar tão a sério os avisos de Shaka – Sei que para a senhorita não é algo difícil, mas, deixará o meu anjo cansado e eu sei o quanto o Ikki deseja passar um tempo com o irmão desde quando essa confusão toda começou.

- Está certo, eu farei isso e confiarei a vocês essa missão para que meu amigo possa se recuperar o mais rápido que puder – sorriu – Eu precisarei me ausentar do Santuário em breve, mais uma temporada de dois ou três meses, conciliar os deveres de deusa Atena com os de Saori Kido é cansativo e desafiante – suspirou – Shion me manterá informada de tudo o que acontece e foi avisado que em qualquer situação emergencial poderá me chamar que virei de imediato. Por isso que eu gostaria tanto de conversar com Shun antes de partir – o peixe dourado apenas meneou com a cabeça ciente.

Ao chegarem à casa de virgem, a deusa e o cavaleiro sentiram o cosmo de Shaka os convidando para entrarem nos aposentos privados. Ambos ficaram surpresos ao verem Shun manipular seu cosmo róseo e o expandir com a orientação do dourado. Sem suas memórias Shun não lembrava do motivo que o fazia conter tanto o seu real poder. Aquele era o potencial para ser o sucessor da armadura de virgem de que Shaka havia comentado com Shion e Saori, mas, a deusa a princípio estava cética por causa da natureza pacifista de seu amigo e desconhecia a extensão de seu cosmo. O virginiano mais novo estava tão concentrado que não percebeu os visitantes, então seu mestre decidiu orientar a interrupção do exercício de forma calma.

- Agora Shun, por favor, vamos diminuir a intensidade devagar e abra os olhos em meu sinal – falava em tom manso quase meigo com seu pupilo.

- Está bem – concentrou-se para dissipar aquela energia pelo ar de forma leve, com um controle formidável dada a sua atual situação – Vou diminuir a intensidade – respirou fundo.

- Pode abrir seus olhos, veja um pouco dessa luz que emanaste com teu cosmo – sorriu orgulhoso o indiano – Por acaso conseguiste sentir parte do que vês agora?

- É uma luz muito linda! – falava sorridente – Eu consegui sim, foi como se meus olhos estivessem abertos e eu estava entre as estrelas!

- Meus parabéns! Agora vai ter que dissipar essa pequena bola de luz – viu o pupilo seguir seu comando – Ótimo!

- Obrigado por me ensinar a fazer isso com o cosmo – falava empolgado – Foi uma experiência única!

- Que bom que gostaste – levantou-se devagar e estendeu a mão para ajudar a erguer o japonês – Nós temos mais visitantes em minha casa – Shun se virou rapidamente para vê-los – O Afrodite você conheceu ontem, já a moça é a reencarnação da deusa Atena nessa era a quem protegemos.

- Pode apenas me chamar de Saori meu amigo – andou na direção de Andrômeda que fez uma breve reverência – Vamos esquecer um pouco as formalidades.

- Está bem, me desculpe. Estou me sentindo um pouco deslocado com isso tudo de não lembrar de nada – aproximou-se para receber o abraço de sua amiga.

- Nós o compreendemos Shun – o caloroso cosmo dourado de Atena conseguiu aquietar o coração angustiado do rapaz – As coisas irão se resolver e é preciso ser paciente, seus amigos e família estarão ao seu lado nessa recuperação.

- Não estamos chateados contigo, então nem pense em ficar triste por nós meu querido – se pronunciou o pisciano – Vem cá um pouco meu anjo, acredito que eles não vão se importar se eu conversar alguns minutinhos contigo.

- Podem ir Afrodite – disse a moça sorrindo – Será bom, pois preciso trocar algumas palavrinhas com Shaka.

- Com licença – despediu-se educadamente o jovem de cabelos castanhos – Afrodite! – deu um abraço apertado no pisciano que correspondeu com todo o carinho – Você chegou a ver o que eu fiz? – as vozes de ambos desapareciam no ambiente conforme caminhavam para outro espaço.

No jardim houve um breve silêncio, Saori processava as informações do que presenciara, do talento oculto de seu amigo e do estado de suas memórias. O jovem não a havia reconhecido, mas, correspondia aos sentimentos das pessoas ao seu redor, aquilo era sua sensitividade aflorada ou então algum estímulo inconsciente de sua mente? Ao menos ver os olhos de um verde brilhante que carregava o estado pleno da pureza de sua singela alma e o sorriso radiante trouxeram um pouco de paz para a jovem também nascida sob a constelação de virgem. Uma conversa longa e necessária aconteceu entre a deusa e o dourado, ela há pouco estava ciente dos detalhes do resgate dentro da mente do cavaleiro de bronze e decidiu deixar o caso dele nas mãos competentes dos médicos e do mestre dele enquanto viajava. A jovem depositava sua fé na recuperação do cavaleiro. Os santos dourados e a deusa sentiram o cosmo e Ikki pedir permissão para entrar na casa de virgem, algo inédito, em vista da falta de etiqueta do rapaz de cabelos escuros. Se a fênix estava mansa daquele jeito era porque havia se preparado bastante para ter o tato que precisava para conversar com seu irmãozinho mais novo.

Notes:

Sobre o próximo capítulo tenho apenas o roteiro, que Shun e Ikki vão se reencontrar é certo. Após a punição de Lana e de Hyoga nós encerramos o primeiro arco dessa fanfic e um novo arco será iniciado com a questão da nova condição de Shun.

Chapter 15: Capítulo 14 - Turbulências (parte 1)

Notes:

Trouxe um capítulo novo para vocês e sim, ele estará dividido em duas partes. Vemos aqui o começo de um novo arco dentro dessa história. Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Momentos antes da chegada de Ikki à sexta casa, Shun conversava alegremente com Afrodite sobre as coisas que havia redescoberto com o auxílio de Shaka. O santo de peixes não conseguia deixar de sorrir ao ver o quanto o seu amado estava radiante, apesar de não ter o conhecimento de suas lembranças. Ele percebeu que o santo de bronze estava com um semblante mais tranquilo do que seu turbulento despertar na tarde anterior, aquele foi um sinal de que o santo de virgem havia o preparado bem para encarar sua nova e temporária realidade. Quando sentiu o cosmo de fênix se aproximar das doze casas, Afrodite sentiu a necessidade de preparar o terreno para que os irmãos pudessem conversar e se entenderem.

- Shun – chamou suavemente a atenção do jovem de cabelos castanhos ao tocar-lhe a mão – Há mais uma pessoa que o verá hoje, não sei se o Shaka te contou, mas, seu irmão está chegando para te buscar.

- O meu irmão? – ele repetia internamente a última palavra na esperança de se recordar sobre alguma coisa – Eu não gostaria de deixar mais uma pessoa triste Dite – falou em tom de desânimo – Nem de minha própria família eu consigo recordar...

- Essa é uma situação temporária meu querido, seu irmão e nossos amigos estão cientes e serão compreensíveis – enxugou a lágrima solitária que escorria na face do mais novo – Apenas se permita a esse reencontro, ele estava esperando por esse momento.

- Está bem – eu um suspiro profundo – É aquele que se aproxima o meu irmão? – perguntou baixinho e o loiro assentiu.

- Esse momento é de vocês dois – o abraçou em despedida – Prometo que nós nos veremos amanhã e o levarei para conhecer o meu jardim, acredito que gostará de ver minhas roseiras – sorriu – Ikki – cumprimentou o moreno – Até amanhã meu anjo.

- Até amanhã Dite – acenou para o sueco – Oi! – disse timidamente – Eu peço que me perdoe, pois eu não consegui me lem...

- Só me abraça tampinha – o leonino envolveu o caçula em seus braços – Vamos ficar assim mais um pouco. Nós ficamos tão preocupados!

- Desculpe – correspondeu ao abraço procurando alguma coisa que o remetesse a alguma memória, como por exemplo, a colônia que o mais velho utilizava naquele momento.

- A culpa não foi sua, não há motivo para desculpar-se – olhava para as orbes verdes do irmão entre lágrimas – Vamos nos acalmar para conversar – foram se sentar próximos as escadarias da sexta casa – Nem acredito que sou eu quem está falando sobre calma – riu de si mesmo.

- Costuma ser o mais agitado?

- E como! – abriu um sorriso – Acho que só você que tem o dom de me deixar mais tranquilo, meu mestre bem que tenta – recordou-se de Aiolia.

- Essa situação me deixa agitado e um tanto angustiado, sabe? – desviou seu olhar para as mãos apertando os dedos – Meus amigos disseram para que eu não me preocupasse por hora, mas, sinto que assim eu estou ferindo pessoas.

- Nossos amigos estão certos – puxou suavemente o caçula para um meio abraço ainda sentados – Não irei negar que é difícil para nós, mas, acredito que para ti esteja sendo ainda pior – notou o menor se encolher após suas palavras e teria que dar um jeito de consertar aquilo que disse – Sobre o que deseja saber?

- Como? – foi pego de surpresa.

- Imagino que queira saber algumas coisas sobre você, talvez contando um pouco o ajude a recordar-se, mas, sem pressão, ok?

- Posso perguntar qualquer coisa? – o mais velho assentiu – Nós estamos sozinhos aqui na Grécia? Onde está nossa família e como eles permitiram que nos tornássemos cavaleiros de Atena? – Ikki havia se metido numa bela enrascada, não havia se preparado para esses tipos de perguntas.

- Bom, Shun... A nossa história é um pouco complicada – tentou minimizar – Sempre fomos nós dois sozinhos contra o mundo até encontrarmos nossos amigos e somos como uma grande família.

- Então nossos pais...

- Eles faleceram, nosso pai morreu num acidente antes de você nascer, já nossa mãe ficou bastante doente e morreu quando éramos bem pequenos – viu os olhos verdes e vívidos de seu irmão formarem as primeiras lágrimas que escorriam pela face – Nós vivemos em um orfanato e em seguida um velhote nos levou para uma fundação com outros garotos. Foi ele quem nos mandou para treinarmos para sermos cavaleiros de Atena, passamos alguns anos afastados e nos encontramos já como cavaleiros de bronze.

 

 

- Me desculpe por acabar tocando em um assunto sensível, eu sinto muito – sua voz saía por um fio mínimo enquanto suas lágrimas caíam em abundância.

- Está tudo bem – o leonino se permitiu chorar também naquele momento. O pequeno Shun era um órfão desde que se lembrava e nunca havia chorado a perda daqueles que sequer lembrava de conhecer – Acho melhor continuarmos essa conversa em casa – sugeriu enquanto se levantava – Você me parece cansado e eu pude sentir o seu cosmo se expandir – mudou de assunto enquanto limpava o próprio rosto.

- Shaka me mostrou como fazer aquilo – respondeu após conseguir se acalmar um pouco – Estou com um pouco de sono, mas, gostaria de comer alguma coisa antes de dormir.

- Entendo, realmente estamos na hora do almoço, acho que consigo preparar algo rápido para nós, tive uma manhã cheia – lembrou-se do causador de toda aquela confusão – Quer se despedir de nossos amigos?

- Sim, por favor – esboçou um sorriso mínimo – Eu posso te ajudar com nosso almoço.

- Tem certeza? Não quero correr o risco de comer uma gororoba porque você não se lembra – brincou.

- Acho que sou capaz de preparar alguma coisa, ao menos me deixe cortar os legumes – inflou as bochechas.

- Vai rápido lá tampinha, também estou com fome.

O virginiano retornou para a parte interna da casa de virgem para se despedir. Saori havia partido para o seu templo e os dois dourados conversavam entre si, a interrupção bem vinda de Shun trouxera uma leveza necessária depois de um papo sério entre o indiano e o sueco. Foi uma despedida tímida e rápida, pois os irmãos precisavam de todo aquele tempo juntos, um cuidaria do outro como muitas vezes fizeram.

...

~Um mês e meio depois~

Shun saía de mais uma consulta com a médica na enfermaria e estava cada vez mais frustrado. Ele não havia feito nenhum progresso significativo e estava nítido que aquilo estava chateando as pessoas mais próximas, na visão do virginiano. Além de se esforçar para lembrar de coisas simples que faziam parte de seu cotidiano antes da perda de memória e das coisas as quais gostava de fazer, outra coisa problemática acontecera, o medo de vestir a própria armadura e principalmente por causa das correntes de andrômeda. Ver correntes disparava um gatilho em si e para evitar mais crises de pânico, o jovem treinava sem armadura.

Ao ter a amnésia psicogênica* diagnosticada, Ikki e os outros tentavam ao máximo contribuir para o tratamento de Shun. Os amigos contavam um pouco sobre ele e suas batalhas, omitindo as informações sobre o ex-companheiro de armas Hyoga, mas, nada reavivava suas memórias, apenas tinha sensações com aquelas histórias. O irmão o esperava do lado de fora da enfermaria do Santuário e ao ver o caçula passar pela porta de cabeça baixa já sabia que não houve progresso, suspirou baixo antes de chamar a atenção dele.

- Shun! Eu tô aqui – fez um aceno.

- Oi Ikki – tentava realinhar sua postura – Vamos para o treino? – perguntou com mais animação.

- Eu terei que conversar com o Shion, mas, você pode treinar com o Shiryu enquanto ele ainda está aqui.

- É verdade! Ele vai voltar pra China com o mestre amanhã – o mais novo se sentia grato pelo irmão ter tirado o foco do assunto de si – Ele está ansioso para reencontrar a namorada dele, a...

- Shunrei – ajudou-o a se recordar – Acho que talvez ele volte casado de lá, esse namorico está durando muito tempo. Aquela chinesa vai enlaçar o dragão de vez – os dois riram.

- E enquanto a nós?

- O que tem a gente?

- Não tivemos alguém especial assim como o Shiryu tem a Shunrei?

- Eu tive há muito tempo atrás, mas, infelizmente ela faleceu. Quem sabe um dia o amor resolve aparecer outra vez para me dar uma chance? – caminhavam com tranquilidade até o mais novo parar.

- E eu tive alguém especial assim? – perguntava ansioso – Eu não me lembro como é a sensação de amar alguém...

- O amor pode ser um sentimento arrebatador ou algo mais tranquilo, depende muito das pessoas – deu meia volta para trazer consigo o caçula em um meio abraço – Você quando está amando fica ainda mais meloso – riu – Logo vai conseguir se recordar sobre isso....

- Há uma pessoa me esperando irmão? – estava sério – Por favor, me diga a verdade. Eu estou deixando uma pessoa que me ama esperando por causa de minha amnésia?

- Ah Shun! Eu não queria ter que falar sobre isso...

- Então tem! Quem?

- Nós combinamos de não falar sobre isso para o bem da sua recuperação – ele não iria ceder o nome e o irmão estava zangado – Vamos viver um dia de cada vez, ok?

- Isso não é certo Ikki, não foi algo que eu finalizei antes de perder a memória! Eu estou fazendo uma pessoa importante sofrer e ao menos sei quem é! – saiu do abraço do irmão chorando – Isso não é justo!

- Essa pessoa já sabe o que aconteceu contigo e preferiu assim, largue de ser teimoso um pouco! – bufou – Vamos ao Santuário.

- Eu vou voltar pra casa agora e irei após o almoço, avise o Shiryu que quero encontrá-lo antes de sua partida – respirou fundo tentando se acalmar – Até mais tarde!

“Meu irmão pode não se recordar das coisas, mas, seu gênio não mudou nadinha” – pensava o cavaleiro de bronze – “Espero que Shion tenha alguma novidade boa”.

...

Shun partira para casa atordoado, pois ele amava alguém e não conseguia se recordar disso, o que na sua concepção é algo imperdoável. Também estava mal por essa pessoa e seu irmão estarem escondendo isso de si, se ele havia conseguido se reaproximar de Ikki e estavam indo bem na reconstrução dos laços até lá, então por que com a pessoa amada seria diferente?

Ao chegar em seu pequeno quarto, o jovem rapaz chorava copiosamente liberando sem travas a sua dor. Shun não se permitia chorar daquela maneira na frente dos outros nas últimas semanas, o que havia acontecido há pouco com Ikki foi apenas parte da tormenta que havia dentro de si e que não conseguiu conter completamente. A revelação a sua pergunta inocente o deixava ainda mais frustrado consigo mesmo. Ele apenas havia retirado seu casaco e os sapatos para deitar-se um pouco enquanto digeria tudo aquilo. O coração ainda estava acelerado e o virginiano sabia que estava na hora de sua medicação, ele havia pedido sigilo médico quanto a isso, pois para si já bastava preocupar seu irmão e amigos com sua amnésia, não precisava que tivessem ainda mais pena de si.

“Por que eu não consigo lembrar? O que tanto escondem de mim?” – se perguntava engolindo os comprimidos – “Eu pesquisei sobre essa amnésia, mas, pelo tempo eu já deveria começar a recordar das coisas nem que fosse lentamente. Eu deveria estar bom a essa altura e não preocupar mais ninguém”.

...

Enquanto isso o cavaleiro de fênix havia chegado ao salão do grande mestre com tranquilidade, alguns dourados estavam treinando e outros em missão, logo poucos guardavam as casas zodiacais. Ikki sabia que Shaka e Afrodite iriam querer notícias de seu irmão mais novo, afinal sabem de quase todos os passos que ele dá desde que retornara a Grécia. O mestre de Shun já tinha uma ideia de como o pupilo estava, por mais que tentasse disfarçar o jovem sempre fora cristalino para si em questão de sentimentos, o indiano sabia que essa amnésia o incomodava mais do que demonstrava ao longo dos dias que passaram, porém não o forçaria falar.

Ao chegar no templo do mestre do santuário, o leonino foi bem recebido por Shion que se despedia de Saga que estava partindo para uma missão solo. O ariano estava com o semblante sério e ao mesmo tempo preocupado. Antes que o moreno fizesse menção a falar, o grande mestre tomou a palavra:

- Que bom que chegaste rápido Ikki. Acho melhor continuarmos essa prosa naquela sala – apontou – O que preciso lhe falar é sigiloso.

- Está bem – o seguiu até dentro da sala e fechou a porta – Então?

- Soube que foi a enfermaria com seu irmão, diga-me antes como ele está?

- Eu só o acompanho até a porta, já tem tempo que minha presença não é permitida dentro do consultório e ele anda esquivo quando o assunto se trata dele. Eu sei que está frustrado pela amnésia não passar.

- Daqui a pouco vai para dois meses isso. É compreensível que o rapaz esteja frustrado.

- Hoje ele me perguntou sobre relacionamentos românticos. Não falei sobre o peixe dourado, mas, agora meu irmão sabe que tem uma relação congelada com alguém que não se lembra.

- Acho que vocês deveriam conversar logo com ele sobre isso, não acho justo com o rapaz – aconselhou o mais velho – Eu preciso te dar duas notícias e por isso o chamei para conversar aqui.

- E quais são? – o leonino estava ansioso.

- A primeira é que a comparsa de Hyoga já foi julgada pelo Olimpo e foi condenada, seu irmão poderá viver uma vida inteira tranquilamente, pois a pena pelos crimes dela não terminará antes de nossas existências mortais se findarem.

- Essa é uma ótima notícia! Aquela deusa ordinária está pagando pelo o que fez – abriu um sorriso vitorioso.

- A outra notícia é que o Hyoga cometeu suicídio ontem à noite na clínica– suspirou – Ele conseguiu se enforcar. O médico que cuidava do caso dele disse que ele não costumava se comunicar nas consultas, mas, que alguns pacientes o ouviam falar o nome do seu irmão.

- Não posso dizer que sinto pelo covarde, sei que Camus não receberá tão bem essa notícia.

- Irei comunicá-lo assim que ele retornar de suas férias na França – antes de abrir a porta o ariano quis falar uma última coisa com Ikki – Antes de ir eu preciso que faça uma missão numa região que conhece muito bem.

-  Sabe que eu não tenho saído do Santuário desde que houve todo esse problema com Shun, não é?

- Sei sim, mas, dessa vez você terá que partir por alguns dias fênix, pois é algo importante.

- Mais importante do que a saúde do meu irmão?

- Você mesmo disse que não está conseguindo fazer nada por ele no momento – colocou a mão no ombro do leonino – Atena está confiando na ciência para curar o seu irmão, mas, eu acredito que há alguém que tenha a competência para ajudar de forma rápida e eficaz. Então para isso nós precisamos conquistar a confiança deles.

- A quem se refere?

- Poseidon. Assim como Shun conseguiu fazer com que o Submundo confiasse em nós com a missão que fizera com Pandora há poucos meses atrás, tu e um marina de Poseidon precisarão fazer o mesmo para que eles possam nos ajudar.

- E nossa deusa sabe do seu plano?

- Não com a mesma riqueza de detalhes, por isso o sigilo, os frutos que poderão a vir ser colhidos com essa missão entre os exércitos dependem de você – abriu a porta – Não dei essa expectativa a ela.

- Entendi – assentiu – Por favor, cuidem bem dele!

  ...

Notes:

Podemos ver melhor agora os dois lados da mesma moeda dessa perca de memória do Shun. Vou deixar aqui a descrição dessa amnésia a qual me baseei.
*Amnésia psicogênica – este é um fenômeno muito raro. Pacientes esquecem não só o passado, mas a sua própria identidade. A pessoa acorda e de repente não tem qualquer sentido de quem ela é – mesmo se olhar no espelho, não se reconhece no próprio reflexo- (a pessoa no espelho é um estranho). Todos os detalhes da sua vida, como carteira de habilitação e cartões de crédito não fazem sentido. Este tipo de amnésia é geralmente desencadeado por um acontecimento, no qual a mente da pessoa é incapaz de lidar corretamente. Na maioria dos casos, a memória, seja lenta ou de repente, volta dentro de poucos dias. No entanto, a memória do evento em si pode nunca mais voltar completamente.
( fonte de pesquisa: https://hospitalsantamonica.com.br/o-que-e-amnesia/ )

Espero conseguir conversar melhor com vocês nos comentários, não estou muito inspirada para fazer as notas hoje. Abraços e até a próxima ;)

Chapter 16: Capítulo 15 - Turbulências (parte 2)

Chapter Text

O cavaleiro de fênix desceu as escadarias das doze casas em um ritmo mais apressado do que subira e fez apenas uma pausa rápida na casa de virgem a comunicar o anfitrião que estaria de saída pelo cosmo e foi respondido da mesma forma por Shaka, a ansiedade do japonês era nítida para o indiano que tentou tranquilizá-lo com sua energia calma. Ikki ainda passaria pela arena para avisar seu mestre Aiolia e o noivo de seu estimado irmão. Ao chegar lá viu que Seiya e Shiryu ainda treinavam e aproveitou a pausa dos rapazes para avisar ao dragão que seu irmão iria encontrá-lo para conversarem antes da partida dele para a China e aproveitou para dar uma alfinetada no dragão antes de ir falar com os dourados:

- Quanto tempo mais vai esperar para pedir a Shunrei em casamento? Uma hora ela vai se cansar dessa lenga-lenga – riu ao ver o libriano se enrubescer.

- Corta essa frango! Fala do Shiryu, mas, nem namorada tem ainda.

- Igual a você pangaré, melhor, ainda sou mais safo no assunto do que você – debochou – Eu não preciso fazer uma escolha e não estou enrolando três moças por ser um crianção.

- Por favor, não continuem com essa discussão boba – tentou apaziguar Shiryu – Eu ando refletindo bastante sobre isso que você acabou de me falar Ikki. Depois que toda aquela confusão maior envolvendo o nosso amigo passou, eu comecei a pensar em como seria a minha vida sem a Shunrei e estou decidido a retornar com ela sendo minha noiva.

- Ele tá todo romântico! – brincou o sagitariano – Finalmente, né?

- E quando será o “finalmente” de vocês dois? – foi a vez do libriano brincar – Seiya precisa fazer uma escolha e você Ikki? Quando vai se permitir amar outra vez?

- Algum dia talvez... – respondeu menos taciturno ao lembrar de um contato em especial na agenda telefônica do celular – No dia que eu resolver trocar alianças vocês saberão. Agora terei que sair em missão.

- Uma missão? – Afrodite e Aiolia se aproximaram dos cavaleiros de bronze – Pensei que não partiria enquanto Shun estivesse daquele jeito. Ele?

- Ele continua igual Dite – suspirou – Shion me convocou para uma missão que eu não poderia recusar. Também não é como se meu irmão quisesse olhar para minha cara no momento.

- Vocês brigaram? – perguntou Aiolia – Pensei que conseguisse controlar esse seu temperamento.

- Eu me controlei – o comentário do mestre o irritou – Acontece que hoje ele me fez uma pergunta sensível e eu não pude responder o que ele queria, por isso que ele não veio comigo pra cá e vai chegar mais tarde.

- E qual foi a pergunta de um milhão de dólares? – perguntou Pégaso curioso.

- Ah... – o leonino levou a mão até a testa, era constrangedor falar sobre a intimidade de seu irmão – Shun perguntou sobre relacionamentos românticos.

- Deixou algo escapar? – o pisciano o olhava preocupado.

- Ele sabe que há alguém o esperando, não quem – recordava-se da expressão do virginiano – Shun ficou muito chateado por não conseguir se lembrar de algo tão importante para si, foi do mesmo jeito que ele ficou quando não havia se recordado de mim e perguntou por nossos pais.

- Meu anjinho... – sussurrou triste.

- Acho que seria melhor que contassem a ele – sugeriu o leonino mais velho – Quase dois meses se passaram e nada mudou, pelo menos com o irmão e os amigos ele está voltando a reconstruir os laços. Para que começar do zero outra vez Afrodite?

- Nós não falaremos nada que não queira caso Shun venha nos perguntar sobre o assunto, não é Seiya? – cutucou o amigo.

- Ai Shiryu! – resmungou – Se eu consegui me manter quieto esse tempo todo, por que eu falaria agora?

- Realmente é um milagre vindo de você – Ikki falou e eles riram – Eu respeitarei qualquer que seja sua decisão. Cuidem dele enquanto eu estiver longe.

- Não precisa se preocupar com isso! O que pode dar errado nos poucos dias que você estará fora? – disse Seiya despreocupado – Nosso amigo está próximo de nós, seguro e não há mais nenhuma ameaça, estamos entre amigos!

- Então tchau! Voltarei dessa missão o mais rápido que eu puder! – fez uma saída rápida, não prolongaria mais uma despedida.

...

O moreno mais velho voltou para a casa que dividia com o irmão em Rodório, apesar do incidente envolvendo os outros cavaleiros no passado, Shun havia preferido manter-se ali e sua decisão foi respeitada pelos demais. Quando chegou viu que o caçula consumia uma sopa leve de legumes e apesar de chateado o convidou para juntar-se a ele.

- Não conseguirá treinar direito com apenas isso no estômago...

- Nem sei se conseguirei voltar a treinar sério algum dia, isso se levei a sério isso no passado – resmungou – Mal dá para acreditar que eu era um guerreiro.

- Não vamos voltar com esse assunto outra vez, ou vamos? – disse levemente irritado – Você sempre lutou para defender Atena e seus amigos, pela paz e justiça. Apesar de nunca ter gostado de levantar os punhos contra um inimigo ou adversário, tu o fazias quando não havia outra escolha.

- Ok, eu desisto de falar sobre esse assunto – foi lavar a pouca louça que havia – Você está com um semblante diferente, aconteceu alguma coisa ou também é algo que eu não possa saber? – alfinetou.

- Sairei em missão hoje, vim apenas arrumar as minhas coisas – limitou-se a responder isso – Não se preocupe comigo, apenas cuide de sua saúde, nossos amigos podem te ajudar enquanto...

- Posso ter amnésia, mas, ainda não sou um inválido Ikki – apoiou as mãos sobre a pia da pequena cozinha – Eu...eu vou ficar bem – estava um pouco ofegante e não encarava o irmão – Leve o tempo que precisar, não precisa ter pressa por minha causa.

- Desculpe por ter soado desse jeito – aproximou-se o mais velho que o abraçou pelas costas – Não acho que você seja um inválido, apenas temo por sua segurança.

- Por causa do acidente que me deixou assim? – era a mentira alimentada pelos demais após as suposições do virginiano sobre o que havia acontecido.

- Também...

- Não vou me envolver em nada perigoso durante esse tempo, acho que vou até tentar estudar um pouco para passar o tempo enquanto não estiver treinando.

- Está bem – desmanchou o abraço e bagunçou os cabelos castanhos do mais novo – Até breve tampinha! – ambos riram – Se cuida.

- Ok – esboçou um sorriso casto.

...

O cavaleiro de fênix havia partido para sua missão e o de andrômeda foi visitar seu amigo que estava na casa de libra, antes disso conversou brevemente com Shaka na casa de virgem. O indiano não queria ter que tocar em pontos sensíveis com seu pupilo, mas, suas meditações lhe disseram para fazer o caminho inverso. Ao ver a pressa de Shun, o virginiano mais velho deixou o rapaz partir para o encontro do amigo e deixaria para ter essa conversa na manhã seguinte.

Shiryu estava acompanhado do mestre, de Seiya e do mestre dele Aiolos. Os mestres deixaram os amigos interagirem entre si mais à vontade e foram para outra parte da casa conversarem mais um pouco já em tom de despedida. Quando Shun tentou conseguir alguma informação sobre a pessoa amada por ele, os amigos seguiram o pedido de Ikki e Afrodite de não contarem nada.

- Infelizmente não é um assunto nosso – disse o libriano – Essa pessoa está refletindo sobre te contar e cabe a ela fazer isso, não nós.

- ‘Tô com o dragãozinho aqui! – Seiya apontou com o polegar para o amigo – Eu entendo o seu lado Shun, mas, entendo o lado daquela pessoa também.  Por mais que minha língua esteja coçando pra te contar, eu não vou falar.

- Seiya... – o sagitariano nem deixou Shun falar e saiu correndo dali.

- Esse pangaré alado não tem jeito – riu Shiryu – Está na hora de partir. Espero que você esteja melhor quando retornarmos ao santuário, caso isso não aconteça eu terei o prazer de reapresenta-lo a Shunrei, vocês sempre se deram muito bem.

- Tudo bem meu amigo...

- Sei que está difícil para ti, mas, não se cobre demais. Nenhum de nós está querendo apressar o seu tempo – deu um breve abraço no amigo e segurou em seu ombro – Eu e seu irmão estamos partindo, mas, não ficará sozinho. Nossos outros amigos estarão aqui e acredito que Saori retornará em breve também. Adeus!

- Adeus!

...

Para não perder a viagem após se despedir de Shiryu, Shun decidiu fazer uma visita rápida ao guardião da casa de peixes. A angústia que sentia desde manhã depois da informação que Ikki deixou escapar sobre ele ter um amor estava piorando. Seu coração parecia comprimido e batia descompassado, uma torrente de emoções nublavam a mente e estava completamente alheio durante a subida acompanhada de Aiolos até sagitário.

Enquanto isso na décima casa, Kanon e Shura conversavam sobre amenidades até tocarem nos nomes de Afrodite e Shun. A antipatia dos dois dourados por andrômeda era desconhecida por muitos, pois apesar de tantos problemas passados, Shun era uma pessoa querida por sua bondade e gentileza.

- Sinto falta do velho Afrodite – disse o capricorniano esparramado no sofá em tom alto – Sei que tivemos uma época na qual lutamos por um ideal errado e eu reconheço isso, mas, ele se tornou um molenga por causa da influência daquele cavaleirinho – disse com desdém.

- Compartilho de teu pensamento Shura. Mesmo que a minha convivência com vocês se deu após os acontecimentos com Posseidon, aquele garotinho andrômeda me deu nos nervos desde lá no Submundo! – disse o geminiano irritado – Hoje ele tem medo das correntes que tanto o protegeram e o ajudaram a lutar.

- Não sei o que essa amnésia fez com a cabeça dele, mas, pelo jeito vai continuar um problemático, só que de um modo diferente. Não sei como os outros o aguentam, o irmão e os outros dois pirralhos de bronze por ter um vínculo maior desde a infância consigo até compreender, agora o implacável Shaka e o Afrodite que não se davam com os mais fracos foram dobrados por um meninote débil?

- Pior que Virgem que o acolheu como pupilo somente Peixes que o teve como noivo! Logo eles que tiveram uma batalha mortal no passado!– riram – A melhor coisa que o garoto das correntes tinha que fazer era renunciar como cavaleiro e aproveitar essa segunda chance que ele tem de reconstruir sua vida sem se recordar das vergonhas que passara.

- Kanon, você sentiu? – perguntou em tom baixo – Ele esteve aqui.

- Que se dane! Ao menos assim ele toma consciência do que acontece fora da redoma de vidro que aqueles superprotetores o colocaram após o último incidente – espreguiçou-se e seguiu em direção a saída – Voltarei para gêmeos, acho que depois disso o circo pegará fogo e mesmo querendo ser uma mosquinha é melhor eu ir para longe da pólvora.

- Se eles descobrirem ficarão furiosos conosco.

- Não seja um frouxo Shura. Só haverá problemas se o moleque falar isso para Shion ou nossa deusa, uma briguinha com outro dourado será mais interessante do que esses treinos que fazemos.

- Não quero confusão sobrando para o meu lado, não sou mais um menino para ser castigado pelo grande mestre.

- Tá que seja! – desceu as escadas acenando despreocupadamente de costas para o amigo.

...

O jovem virginiano estava tão distraído após se despedir de Aiolos que nem notou que havia chegado em frente à casa de capricórnio. Foi quando ele ouviu as palavras duras de Shura e Kanon sobre si e o que mais lhe chocou foi o nome de seu amado, o nome que tentou recordar-se o dia todo, era o mesmo nome da pessoa que se apresentou como amiga para si. Shun redescobriu que tinha um noivo e se sentia um traidor por esquecer alguém tão importante como também se sentiu traído.

 Andrômeda cruzou às pressas a casa de capricórnio se sentindo um tolo e incapaz como os dourados o pintaram. A casa de aquário estava vazia, pois seu guardião estava tendo uma conversa sensível com Shion, então o rapaz a cruzou com pressa. Escorriam muitas lágrimas pelos seus tristonhos olhos verdes, ele precisava ver o tal noivo. Ao chegar na casa de peixes, alguns flashes de memória lhe invadiram a mente, ele estava ofegante e confuso. Shun viu Afrodite encostado em uma das pilastras segurando uma rosa vermelha na mão. O pisciano notou que havia algo errado com o amado, seu cosmo estava tenso.

- Shun, meu querido, o que houve? – aproximava-se devagar tentando sondar o mais novo.

- Por quê? – a voz estava embargada pelo choro – V-você é...

- Recordou-se? – abriu um pequeno sorriso – Meu anjo...

- Eu te machuquei, não... foi pior... – apoiou-se em uma pilastra, seu coração parecia estar sendo esmagado – Eu o matei! Como pôde ficar comigo? Eu fui seu assassino!

- Então lembrou-se de nossa batalha? – respirou fundo e reiniciou sua caminhada – São águas passadas meu amor, provavelmente não se recorda do contexto que levou a isso, você ajudou Atena e também a nos trazer de volta.

- E-então é tudo verdade? – não percebeu que formava correntes de cosmo, seus olhos estavam fechados por não conseguir visualizar seu amado devido a vergonha e a forte dor que sentia em sua cabeça também.

- Depende do que pensas ser verdade, nós lutamos e depois fizemos as pazes, ficamos amigos, algum tempo depois namorados e finalmente noivos – falava em tom calmo assim como seu cosmo que se expandia suavemente pelo ambiente – Temos uma história linda juntos, desculpe se não contei antes, eu queria te dar um tempo, mas, vejo que o fiz sofrer por isso – sentiu seu pé preso pela corrente – Agora, por favor se acalme e desfaça essa corrente de ar, precisamos conversar.

- Corrente? – abriu os olhos e assustou-se com o resultado do que fizera – E-eu não quero te machucar de novo! C-como eu paro isso? – ver as formas das correntes pioraram sua crise.

- Apenas feche os olhos que eu cuido do restante, está bem? – materializou outra rosa com o cosmo com um pouco de veneno atordoante e a lançou – AAAH! – gritou quando o cosmo dissipou-se de forma violenta e o arremessou até uma das colunas da casa de peixes.

O pisciano não esperava levar aquele dano, mas, não poderia culpar o rapaz caído a sua frente. Ele se levantou devagar, mesmo sendo um dourado, Afrodite estava sem sua armadura e não se protegeu adequadamente, alguma costela deveria estar magoada no processo. O cosmo atordoado de seu amado acalmou-se após o golpe acidental e agora o rapaz dormia influenciado pela rosa. Camus e Shion que estavam mais próximos do local chegaram ali as pressas para ajudar. O ariano ficou com Afrodite para apurar os fatos e pediu gentilmente para que Shun fosse levado até seu mestre Shaka. O francês parecia inabalável apesar da notícia que acabara de receber, mas, apenas por colocar a sensação de dever na frente. Quando cruzaram a casa de escorpião os dois não escaparam do olhar curioso de Milo e o ruivo sabia que quando voltasse não teria como escapar do interrogatório, mesma sensação que Afrodite sentia naquele momento na presença de Shion. 

Chapter 17: Capítulo 16 - Rebaixamento Temporário

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

O guardião da casa de peixes estava ainda atordoado com o que havia acontecido, a dor física era algo que ele estava conseguindo lidar bem apesar do impacto sofrido, porém era o estado de seu noivo que o deixara desconcertado e entristecido. Shion entendia que Afrodite precisava de um tempo sem verbalizar nada para processar aquelas informações e sentimentos, em outro momento ouviria a versão de Shun que estava desacordado. Após alguns minutos, ao escutar um gemido de dor do pisciano e ver a expressão sôfrega que era parcialmente ocultada pelos cabelos loiros do dourado, o grande mestre resolveu finalmente romper o silêncio.

- Acho melhor irmos até a enfermaria ver seus ferimentos. Quando se sentir pronto poderá contar-me o que houve aqui.

- Eu... posso contar agora – tentou realinhar a postura, mas, a dor havia impedido fazer isso com perfeição – Está tudo bem, posso ir outra hora lá – dirigiram-se devagar para os aposentos privados da casa e sentaram-se no sofá da sala.

- Camus e eu nos assustamos com a expansão de cosmos de vocês dois, principalmente o de Andrômeda – seu semblante estava sério – Ver-te assim ferido e ele desacordado aqui nos surpreendeu.

- Nós não brigamos, meu amado chegou aqui com uma expressão atordoada e falava sobre nossa batalha nessa casa no passado – enxugou suas lágrimas com o dorso da mão – Acredito que não tenha se lembrado de tudo, mas, de alguma forma soube que estávamos juntos antes da amnésia.

- Então por que ambos se atacaram? Vi tua rosa fincada no chão próximo a ele.

- Shun estava chorando e não percebeu a manifestação do próprio cosmo. Quando eu avisei sobre as correntes de ar e ele as visualizou acabou por entrar em pânico...

- Recordo de andrômeda ter ficado transtornado ao ver as correntes de sua armadura.

- Ele viu a forma das correntes de cosmo e o pânico foi tanto que não sabia como parar. Foi daí que eu precisei lançar minha rosa para nocauteá-lo, mas, descuidei-me por não esperar o impacto da dissipação do cosmo dele.

- Então está a me dizer que foi acidental o ataque de Shun?

- Não haveriam motivos para ele me atacar, eu sentia o remorso na voz dele ao falar sobre o que lembrara de nossa batalha – recordava com pesar – Acho que as memórias dele estão voltando a se manifestar finalmente, mas, foi uma pena ter começado por uma tão dolorosa...

- A depender do que esse rapaz se recordar pode causar outras situações semelhantes a essa – ponderava o ariano – Não irei isolá-lo do convívio com os outros, será bom estimular as lembranças a emergirem. Eu prometi a Ikki que o irmão dele ficaria seguro e acho que a melhor forma de garantir isso é bloquear o cosmo dele temporariamente. Avisarei nossa deusa sobre esse incidente, creio que ela pode ter alguma ideia sobre o que fazer.

- Mas, Shion...

- Nem tente retrucar Afrodite, acredito que o próprio Shun concordará com isso assim que despertar – levantou-se e usou o teletransporte para chegarem depressa à enfermaria – Você fará os exames e descansar um pouco. Conversamos outra hora.

...

Algumas horas depois Shun despertava na sexta casa, Shaka meditava no mesmo cômodo em vigília. O jovem se remexeu um pouco antes finalmente abrir os olhos levantando-se em sobressalto. O indiano tentou transmitir um pouco de calma a partir de seu cosmo dourado ao seu pupilo.

- Shun, por favor, ouça-me – falava em tom sério para chamar a atenção – Precisas acalmar-se para conversarmos. É necessário.

- Shaka? – seus olhos focaram no mais velho – O Afrodite? Como ele está? Eu...eu...

- Acalme-se Shun, ele está bem, é um cavaleiro de ouro – suspirou alto – Shion me comunicou que ele está bem.

- Eu não queria...

- Sabemos disso, Shion pediu para que eu o chamasse assim que acordasse, mas, antes queria falar sobre o ocorrido. Foi alguma lembrança que o deixou naquele estado?

- Começou um pouco antes, não sei como lhe explicar...

- Pode permitir-me investigar? Prometo que serei cuidadoso.

- Por favor, não – colocou uma das mão sobre sua testa, o cabelo ainda ocultava-lhe a face – Estou com dores de cabeça e não desejo passar por aquilo outra vez – Shun sabia o tipo de ajuda que seu mestre o oferecera, pois já haviam tentado acessar a mente dele outras vezes sem sucesso.

- Tudo bem, não insistirei por hora – levantou-se do chão devagar – É melhor levantar-se para comer alguma coisa, vamos jantar e convidarei Shion para que junte a nós para a conversa.

- Está bem, obrigado por não insistir.

- Tenho um chá que pode ajudar com essa sua dor de cabeça.

- Agradeço por isso – suspirou, ainda estava apreensivo pelo o que estava por vir – Eu precisava conversar mesmo com o Grande mestre – seu tom era sério.

- O que quer que esteja a pensar, por favor, não seja precipitado – respondeu Shaka – O mestre apenas quer apurar sua versão dos fatos além de querer saber sobre teu estado – Shun apenas maneou a cabeça e eles foram à cozinha.

Os virginianos faziam uma refeição nutritiva, o mais jovem não conseguia se atentar tanto ao prato por estar preocupado com o sueco e aquele sentimento de culpa e ansiedade o fez perder o apetite. Shaka apenas percebia a movimentação ansiosa do aprendiz pelo tintilar dos hashis no prato dele. Antes que pudesse chamar a atenção pelo ato do rapaz, ambos sentiram a presença de Shion pedindo permissão para adentrar a casa de Virgem que fora prontamente concedida pelo anfitrião.

- Boa noite jovens cavaleiros – saudou-os – Podem continuar com a refeição, não quero incomodá-los.

- Mestre Shion, gostaria de juntar-se a nós? – perguntou o anfitrião.

- Obrigado, eu já jantei. Apenas vou sentar-me ao lado de vocês – sentou-se entre os dois rapazes – Shun.

- Perdão mestre, eu estava a pensar em tantas coisas...

- Tenho uma breve ideia do que se trata – olhava para o garoto de semblante abatido – Afrodite está bem, apenas lesionou algumas costelas e o ombro esquerdo, pelo impacto inesperado e estar sem a armadura que o causaram esse dano.

- Pela deusa! Isso é terrível! – exclamou andrômeda – O que foi que eu fiz?!

- Acalme-se, a recuperação de vocês cavaleiros é mais rápida por causa do cosmo. Acredito que em duas ou três semanas ele estará completamente recuperado – tentou acalmar o jovem inquieto que ainda não conseguiu comer nada – O cavaleiro de peixes me contou a versão dele dos fatos e eu vim colher a tua.

Shun explicou brevemente o dia que tivera e os sentimentos inquietantes que o assolaram sua mente durante o dia, que começou a se sentir apreensivo na subida até peixes e ficara hesitante em comentar sobre os cavaleiros de ouro que falaram mal de si, assim pulou essa parte. Quando vira o pisciano aquela lembrança ruim havia eclodido e o descontrole foi uma consequência. Shion estava atento ao rumo que aquela conversa levaria.

- Eu me sinto muito mal pelo o que fiz e não quero que haja uma chance de acontecer outra vez. Então eu te peço para que bloqueie o meu cosmo e aplique o castigo que desejar.

- A parte do cosmo iria falar sobre isso, mas, já se adiantasse. Quanto ao castigo, tu julgas mesmo necessário? Afinal ambos confirmaram que foi um acidente.

- Eu me sinto responsável e não desejo sair impune – levantou-se rapidamente da mesa, ficando um pouco tonto, mas tomou o controle apoiando suas mãos sobre a mesa – Também gostaria de deixar a disposição a armadura de andrômeda para que outro cavaleiro seja digno de vergá-la, eu declino de minha posição.

- Jovem Andrômeda, não tome atitudes drásticas por causa desse acidente!

- Escute o Grande Mestre, você ainda não está em plenas condições para querer renunciar seu posto de cavaleiro – advertiu Shaka – Não se precipite.

- Por causa de minha amnésia? – bufou impaciente – Eu depois desse tempo todo não me sinto como um cavaleiro, tampouco digno de ser um, as correntes de minha armadura e as que foram feitas com meu cosmo me fazem ter um ataque de pânico – disparava em sua fala – Não sou útil para proteger ninguém, eu feri alguém que me ama e nem entendo o motivo da pessoa que eu ceifei a minha vida me amar. Então não desejo continuar com isso.

- Acalme-se Shun – disse o mais velho – Eu não tomarei uma atitude precipitada em seu caso, levarei sua solicitação a nossa deusa e ela julgará melhor a sua situação. Quanto ao seu castigo, eu já tenho em mente o que será.

- Por favor, diga-me qual será a minha punição – enxugava suas lágrimas com o dorso da mão e prestava atenção na fala do ariano.

- A serva de Afrodite entrou de férias ontem e uma substituta seria designada, mas, como o jovem deseja tanto um rebaixamento, eu o farei temporário. Ficarás na posição de servo até a recuperação do guardião da casa de peixes.

- Não haveria outra punição? Eu não queria...

- Já está decidido, afinal não fostes tu a pedir um castigo? Não estás arrependido dos danos que causara a Peixes?

- Sim, eu estou...

- Então amanhã começarás em sua nova função e quando Atena me der a resposta dela ao seu caso não tardarei em comunicar-te, está bem?

- Sim senhor – disse tristonho – Vai bloquear o meu cosmo agora?

- Certamente – olhou rapidamente para o mestre de Shun que apenas abaixou a cabeça suspirando baixo. O dourado estava chateado com a decisão precipitada do garoto, mas, sabia que o bloqueio do cosmo dele era essencial para evitar outra tragédia – Tu sentirás uma estranheza inicialmente, mas, logo se acostumará. Advirto que não tente fazer tarefas mais pesadas na primeira semana, pois poderás sentir uma fraqueza súbita – o rapaz assentiu – Melhor irmos para seu quarto aqui para que repouses em seguida.

- Vamos lá – Shaka guiou o caminho – Irei recolher as coisas na cozinha, qualquer problema pode chamar, com licença – retirou-se.

- Ele está chateado comigo – disse o virginiano sentado na cama – Será que algum dia hão de me compreender?

- Shaka deixou nítido isso, vocês tinham uma relação além de mestre e aluno. Era bonito de se ver a troca de aprendizados e sentimentos entre vós – puxou a cadeira próximo a cama – Tudo bem, respire fundo para acalentar essa energia – fazia o jovem de madeixas castanhas repetir seus movimentos de respiração – Será preciso compreender-se primeiro para deixar claro para os outros sobre o que queres ser compreendido – executou um selamento de forma mais branda e delicada – Shun?

-E-eu... vou ficar...bem – falava ofegante e um tanto atordoado pelo bloqueio do cosmo – Não se preocupe comigo – o ariano ajudou-o a recostar-se na cama para dormir.

- Bom, como já resolvemos o que tinha de ser resolvido hoje, nada melhor a fazer do que retirar-me – despedia-se Shion – Falarei com o cavaleiro de peixes sobre a sua punição, esteja lá às 6:30. Boas noites! – teletransportou-se para a entrada da casa de peixes.

O servo temporário mal conseguia se mexer, suas energias pareciam completamente drenadas de si, não somente pelo bloqueio de seu belo e poderoso cosmo róseo, mas, também da negligência que cometera a si mesmo. A exaustão só não era maior do que o sentimento de culpa que carregava. O jovem pensava em seu ex-mestre Shaka e na memória do cavaleiro que o treinou, que seus amigos contaram para si, o tamanho da decepção que havia causado com sua decisão. Nem queria ter que pensar em Ikki, que diferentemente do indiano, gritaria consigo. Shun não se importava em ser motivo de chacota, principalmente por parte de Shura e Kanon, pois inferiorizado do jeito que se sentia acreditava que aquele lugar o pertencia.

Naquele momento Afrodite tomava conhecimento por Shion sobre a punição do recém-servo do santuário e estava estarrecido. O ariano apenas tentou serenar os ânimos do pisciano, dizendo-lhe que apenas estava a criar uma oportunidade de aproximação, que assim ficaria mais fácil estar de olho nos passos de Shun e tentar convencê-lo a desistir daquela ideia absurda. O sueco acabou por aceitar sem mais resistências a decisão do grande mestre, pois acreditava na sabedoria e do senso de justiça dele. O guardião da décima segunda casa sabia que o dia seguinte seria longo e mentalmente cansativo para si, as dores em seu corpo não o incomodavam mais do que sentir-se impotente quanto a situação de seu amado. Ele teria que se acostumar a ver o olhar triste de Shun mais uma vez e saber como colocar a estratégia de Shion para funcionar.

- Amanhã será um longo dia – disseram juntos os ex-amantes em casas diferentes em tons diferentes de desânimo, o mais velho pelo desafio e o mais novo pelo sentimento de vergonha, ambos tristes.

Notes:

Esses jovens são bem inconsequentes, né?
Shun precisa ser protegido dele mesmo no momento e veremos isso melhor nos próximos capítulos. Os santos de peixes e virgem precisarão ter uma santa paciência com esse virginianinho com amnésia.
Enfim gente, vejo vocês no próximo capítulo. Até lá ;)

Chapter 18: Capítulo 17 - Aliados

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Já distante do Santuário, Ikki já estava próximo de encontrar com seu parceiro de missão. Ficou surpreso ao ver que o braço direito do deus dos mares, Sorento de Sirene iria trabalhar consigo. O leonino não conseguiu deixar de recordar-se de Shun, que em sua primeira missão em parceria com o reino de Hades seria com Pandora, a general. Uma coincidência do destino fez com que os dois irmãos lidarem com pessoas de confiança de dois deuses poderosos. Andrômeda havia conseguido a confiança e a simpatia da jovem alemã, tanto que solidarizou-se com a situação do desaparecimento dele e não mediu esforços para ajudar. Agora Ikki precisava fazer o mesmo com o austríaco. Ele sabia que não tinha o carisma do caçula, então teria que se esforçar para cumprir com seu dever e quem sabe assim ganhar alguns pontos com Poseidon.

— Olá, companheiro de viagem — disse o virginiano em tom amistoso — Vejo que o Santuário enviou um de seus melhores guerreiros.

— Olá Sorento — caminhava em direção ao general marina — Agradeço o elogio, mas acredito que Shion me enviou por eu conhecer bem a região para a qual vamos — esboçou um meio sorriso — Fico aliviado por lidar com o braço direito de Poseidon.

— Bom, vamos aos detalhes?

— Certamente.

Sorento começou a explicar a situação sobre o que suspeitavam que estava acontecendo em um conjunto de ilhas na Oceania. Ikki as conhecia por causa da proximidade com a Ilha da Rainha da Morte, que ao contrário do ambiente hostil onde havia sido treinado, as ilhas possuíam um terreno fértil, apesar de sofrerem com as altas temperaturas no verão e uma delas possuir um vulcão ativo. Uma turista que havia ido recentemente para lá de férias carregava consigo uma mensagem de um morador e comerciante local que estava com medo de um grupo de mercenários poderosos que dominam o território.

— Acha que esse grupo podem ser de ex-guerreiros de ambos exércitos?

— Provavelmente. O bilhete falava sobre poderes e força sobre humana. 

— Quanto tempo para chegarmos lá?

— Nós precisamos de um plano primeiro. Acho melhor chegarmos lá infiltrados.

— Então recomendo fazermos uma escala na Austrália e de lá conversar com uma companhia de viagens local para essas ilhas — começavam a desenhar um plano — Acredito que o poder esteja concentrado na ilha principal, Marisol¹.

— Descentralizando o poder lá ficará mais fácil de lidar com os demais nas ilhas menores, Luna² e Delfina³ — tocou o ombro do cavaleiro — Então não vamos perder tempo — utilizou seus poderes para chegarem em um lugar conhecido da Austrália, por ter acompanhado Julian em uma de suas viagens, foi fácil do marina ter memorizado o local.

— Nossa! Isso foi bem rápido! — riu brevemente até seu semblante se alterar para preocupação.

— O que houve, Ikki? Algo errado?

— Eu sinceramente espero que não — estava pensativo sobre os momentos que passara com o irmão e a discussão que tiveram — Talvez seja só uma preocupação boba.

— Seu irmão também saiu em alguma missão perigosa? Já faz tempo que eu não o vejo.

— Shun está no Santuário, é uma situação delicada, mas com certeza está em segurança — aquela era a deixa perfeita que havia pedido ao destino que se encarregar O cavaleiro de fênix não queria forçar alguma situação ou parecer interesseiro, era apenas uma esperança a mais para a recuperação do caçula.

— Desculpe se estou sendo intrometido, mas seu irmão foi um oponente formidável no passado e tenho apreço pelo tipo de guerreiro justo que ele é, e pela sensibilidade que possui — olhava para a fachada do hotel — Acredito que teremos algum tempo até sairmos daqui para as ilhas amanhã, então podemos conversar sobre isso se quiser e se de alguma forma eu puder ajudar.

— Eu sinceramente agradeço pela sua generosidade. Nós mal nos conhecemos e já deseja fazer algo por nós — o japonês estava surpreso com a atitude do austríaco e precisava reconhecer que alguns de seus ex-adversários não eram maus em essência, apenas foi a situação que os jogou uns contra os outros, hoje trabalhavam como aliados. 

— Estamos todos do mesmo lado agora, não vejo motivos de negar uma ajuda que estiver ao meu alcance — mexia no bolso da mala — Espero que tenha trazido consigo os documentos para o check-in.

— Eu trouxe sim — esboçou um meio sorriso esperançoso — “Espero que fique bem enquanto não posso retornar, meu irmãozinho” — pensava enquanto adentrava o hall do hotel em direção a recepção.

Os jovens já haviam feito o check-in e estavam no quarto que compartilhariam aquela noite. Sorento havia perguntado na recepção se havia algum pacote turístico para as ilhas que em um passado distante pertenceram à coroa espanhola, por isso a origem dos nomes, e teve uma resposta positiva. Já Ikki havia subido com as malas e as colocou sobre as camas separadas. 

A cabeça do jovem estava cheia, sabia da importância da missão e não poderia fracassar, ao mesmo tempo estava preocupado com o irmão. Por mais que a razão e seus amigos garantindo a segurança de Shun, o coração do irmão mais velho sentia que algo de errado havia acontecido e não poderia retornar. Ele havia enviado uma mensagem para Afrodite para ter notícias, pois sabia que Shaka e Shion não falariam nada que o desviasse de sua missão caso não fosse de extrema urgência. O pisciano falaria algo mínimo que fosse, pois quando o assunto se tratava do cavaleiro de Andrômeda, os dois não exitavam em contar para aplacar os ânimos causados pela intuição que sentiam.

O marina havia chegado ao quarto e contava sobre a novidade para o plano, havia pego o contato da empresa que faria o turismo para as ilhas e agendaria na manhã seguinte, por causa do fuso-horário lá já era noite e não tinha muito a ser feito, apenas acertar os detalhes e descansar. Sorento foi o primeiro a tomar uma ducha para conseguir relaxar e quando foi a vez de Ikki, o general se comunicava com Poseidon para informar que estava bem e que o Santuário realmente estava cooperativo na aliança.

— Nós temos direito a um jantar. Quer pedir para entregarem ou vai ao restaurante do hotel?

— Não sou do tipo que curte um ambiente cheio, vou pedir para entregarem, mas pode ir ao restaurante se quiser — disse o cavaleiro.

— Eu lhe faço companhia, lá embaixo costuma ter gente, não fica muito cheio, mas alguns esnobes aproveitam do horário para tirar selfies e fazer extravagâncias, isso faz com que a refeição perca o clima de serenidade que deve ter — explicou — Façamos a refeição juntos, assim podemos conversar um pouco.

— Tudo bem.

Enquanto faziam a refeição, os rapazes discutiram novamente sobre a missão, o primeiro dia para reconhecimento, conversarem com o informante que provavelmente trabalha em uma pousada, por causa da marca d’água no papel usado no bilhete o virginiano havia deduzido isso. Já o leonino pensava em como faria para confrontar o grupo sem atingir as pessoas inocentes na ilha, pois não esperava que a retomada fosse fácil e de maneira diplomática, como Shun costumava fazer.

Em algum momento da conversa, o assunto havia retornado para o irmão de Ikki e então comentou sem muitos detalhes a situação atual dele. Sorento ficou chocado ao saber de alguns dos percalços enfrentados por Andrômeda e da amnésia que ele enfrenta.

— Realmente é muita coisa para lidar, imagino como vocês todos estão se sentindo, principalmente o Shun, que deve estar muito frustrado e perdido por não se recordar as coisas já há um bom tempo.

— Quando eu voltar dessa missão, eu continuarei dando o meu apoio, mesmo sabendo que não adianta muito.

— Talvez um pouco de musicoterapia ajude um pouco para estimular as memórias a emergirem. Posso pedir a autorização para levar Shun aos nossos domínios por algum tempo, para tentarmos esse tratamento alternativo, o que acha?

— Isso é ótimo! Muito obrigado Sorento — colocou as bandejas de ambos sobre o carrinho e em seguida deu um aperto de mão forte e esboçava um sorriso esperançoso sincero — Não faz ideia do que isso significa para nós.

— Está tudo bem, farei isso com prazer — sorriu — Agora vamos dormir bem e pensar na missão. Acho que teremos uma motivação extra para a acabar rapidamente com êxito.

— Certamente. Boa noite!

— Boa noite.   

Notes:

Marisol¹ - Nome para a ilha fictícia principal.
Luna² - Segunda ilha fictícia menor.
Delfina³ - Última ilha fictícia.
~~~~~~~~
Espero que tenham gostado e sejam um pouco pacientes, pois estou fazendo algumas pesquisas para desenvolver os próximos capítulos. Essas ilhas são fictícias, como anteriormente mencionado, fiz com o propósito de ligar um pouco com a vivência e o conhecimento de Ikki para relacioná-lo com essa missão com Sorento. O próximo capítulo mudará um pouco o foco para nossos protagonistas. Beijinhos e até a próxima! ;)

Chapter 19: Capítulo 18 - Preocupações

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Antes dos primeiros raios de sol levarem a luz para o Santuário, Shun já estava acordado e se preparava para a subida até o décimo segundo templo. O virginiano ainda sentia-se esgotado por causa do bloqueio de seu cosmo, por razões de segurança. No entanto, pior que o cansaço que o acometia, estava lá a culpa por ter ferido o seu ex-noivo. A confusão que suas recordações haviam causado, as pessoas que foram magoadas com suas recentes ações.

O rapaz arrumou a cama no quarto de hóspedes de Shaka e após tomar uma ducha rápida, aproveitou do fato do anfitrião estar dormindo para sair de lá sem despedidas. Em algum outro momento teria de conversar com seu antigo mentor, pois sabia o quanto ele estava decepcionado, apesar de ter visto suas feições calmas na noite anterior. Seu estômago estava embrulhado devido ao nervosismo, mas havia prometido a si mesmo que comeria ao menos uma fruta ao chegar à casa de Afrodite.

A subida foi tranquila, pois a maioria dos cavaleiros ainda dormia e quem estava em vigília eram Mu e Aiolos, o que rendeu um suspiro aliviado do virginiano. Ele sabia que em algum momento teria que conversar com os dourados, os quais dispararam um gatilho em si. Segundo seus pensamentos, por não ser querido pelos dois, eles não ocultariam a verdade de si, mesmo que dolorosa. Ao mesmo tempo sentia medo de recordar mais coisas negativas, não se sentia preparado para lidar com a volta de suas memórias como esperava. Tudo o que sabia sobre si mesmo foi uma versão resumida e podada de sua própria história que seu irmão e amigos haviam contado. 

Quando chegou em seu destino, Shun resolveu começar pela cozinha e preparou o desjejum do anfitrião. Ele conhecia um pouco sobre o que agradava o pisciano, por causa das vezes que visitou o templo para um chá da tarde. A dispensa estava cheia e aquele espaço estava bem organizado, pelo visto a serva havia deixado algumas coisas adiantadas para suas férias e Afrodite apenas conservou a limpeza.

Seu coração batia acelerado à medida que se aproximava da porta do quarto do anfitrião. Os sentimentos estavam bagunçados, porém o mais nítido em sua mente era a culpa. Deu umas batidas leves e abriu a porta se anunciando.

— Com licença. Bom dia, Afrodite. — seu tom de voz estava instável devido ao nervosismo — Eu sinto muito por ontem…

— Por favor, acalme-se. Apenas venha me dar uma mãozinha para que eu consiga sair dessa cama — o pisciano precisava transmitir a calma que o mais jovem necessitava — Bom dia, Shun.

— Claro, vou ajudar — foi prontamente mais próximo ao leito e vagarosamente levantou o pisciano — Está doendo muito?

— Eu sou um cavaleiro de ouro, esqueceu? Vou ficar bem logo. Apenas não esperava ser pego de surpresa daquele jeito, isso deixou a minha defesa aberta demais.

— Desculpe pelo o que aconteceu. Eu… — seu estômago roncou alto e isso o deixou constrangido.

— Vamos continuar essa conversa lá na mesa? Acredito que o que tenha preparado esteja esfriando, consigo sentir o cheiro bom daqui — abriu um sorriso.

Afrodite poderia estar dolorido, mas jamais culparia Shun pelo acidente que aconteceu. O semblante abatido do virginiano o denotava, a culpa e a negligência consigo mesmo. Os sinais - nem tanto - sutis foram suficientes para o dourado agir, pensar naquela época marcada por recaídas* eram lembranças difíceis e não gostaria que passassem por aquilo outra vez. A mente de seu amado precisava se manter saudável, apesar da amnésia persistente.

O pisciano sentou-se à mesa e começou a refeição silenciosamente. Ele decidiu romper com o silêncio, visto que a postura servil e cabisbaixa de Shun naquele momento o incomodava. Eles se tornaram íntimos há tanto tempo, estavam noivos e graças a amnésia haviam voltado ao patamar de amigos. Sabia que o castigo de Shion era apenas uma desculpa para que ficassem juntos e conseguissem se resolver enquanto ajudavam-se mutuamente. O virginiano parecia levar a sério seu lugar como servo.

— Vai ficar aí em pé? Não sei o que Shion disse para você ou vice versa, mas nunca irei negar o que você representa em minha vida, Shun — estendeu a mão suavemente e ele a pegou, sentando-se na cadeira ao lado — Então comece a comer um pouco, pois não acredito que tenha se alimentado e nossa conversa não pode ser mais adiada. Não quero dar margem a novos mal entendidos.

— Desculpe, você tem razão. Eu não deveria estar me comportando assim, mas não estou conseguindo lidar com esse remorso e…

— Ontem foi um acidente e o Grande Mestre contou o que pretende fazer, não decline de sua posição de cavaleiro por minha causa. Ainda não está em condições para decidir algo tão importante assim.

— Por causa da minha amnésia? Por que todos me tratam como um incapaz? — estava de cabeça abaixada para não visualizar os olhos do sueco, não saberia lidar com um olhar de pena naquele momento. A mão que estava sobre a mesa estava trêmula e algumas lágrimas caíram sobre ela. — Antes eu queria tanto me lembrar… Estava me esforçando, pois eu sabia que contavam com isso… Quando Ikki deixou escapar que eu tinha uma pessoa especial esperando por mim, tudo o que eu mais queria era me recordar para não deixá-la sofrer mais ainda por minha causa.

— Shun, por favor, tente se acalmar. Eu…

— Deixe eu continuar, por favor— enxugou as lágrimas com o braço — Quando eu soube, algo veio à minha mente e a primeira lembrança que tive foi aquele dia que eu ceifei a sua vida… — estava ofegante — Eu não mereço todo o cuidado, amor e atenção que tens dedicado a mim. Estou tentando entender o porquê e ao mesmo tempo tenho medo do que mais vou lembrar…

— Meu querido, há muita coisa a se lembrar. Até as rosas mais belas carregam espinhos e com suas lembranças não será muito diferente. Teve momentos de vitórias e felicidade, em paralelo teve momentos tristes e dolorosos, como o que recordou ontem — levantou-se devagar devido a limitação temporária e Shun também fez menção ao mesmo gesto, mas Afrodite o impediu ao colocar a mão em seu ombro — Aquilo lá faz parte de um capítulo de nosso passado que está mais do que resolvido, entendeu?

— E-eu — levou a mão fechada em punho até o próprio peito e respirou fundo.

— Shun? O que está havendo? — perguntava preocupado.

— A dor… vai passar…

— Respire fundo que eu vou chamar ajuda.

— Não precisa.

Mal havia se passado um minuto e Shaka estava na entrada do décimo segundo templo. Na verdade ele não havia sido chamado, Afrodite estava pensando nas opções que poderia chamar pelo cosmo.

— “Por favor, entre Shaka. Veio na hora certa.” — comunicou-se pelo cosmo.

— Então a minha intuição estava certa. Sabia que era algo urgente — olhou para o pupilo — O que houve aqui?

— Ele está com dor, acredito que seja relacionado ao coração, pois ele mantém a região pressionada, além de estar ofegante.

— Eu vou ficar bem… não precisa…

— Pode estar esquecido, mas continua igualmente teimoso — bronqueou o indiano — Isso já aconteceu antes? — o mais jovem assentiu — Ok. Vamos deitá-lo um pouco no sofá e eu vou entrar em contato com a sua médica, mocinho. Tente se concentrar em sua respiração para que consiga se acalmar até essa crise passar.

 

Os três foram para a sala por ser o cômodo mais próximo que poderiam acomodar o jovem. Shaka o carregou no colo e Afrodite o seguia atrás mais devagar, porém não menos nervoso com a situação. O sueco puxou um pouffe para mais próximo do sofá e acariciava o amado no rosto e a mão subia para os cabelos. Viu que o amigo já encerrava a chamada com a médica

— E então? 

— Não acredito que você escondeu algo tão sério de nós, Shun.

— O que ele escondeu, Shaka?

— Arritmia cardíaca — respondeu o japonês ainda trêmulo.

— A princípio esse foi o diagnóstico médico, ele está fazendo o uso de medicação e continuam a estudar o caso dele, talvez seja necessário realizar uma cirurgia.

— Shun, isso é grave!

— Desculpem — engoliu a seco — Não queria preocupar mais ninguém, já bastava a amnésia e…

— Isso é ainda mais sério do que a amnésia. Vou pedir para Seiya buscar seu remédio e algumas mudas de roupa, mas antes irei conversar com Shion.

— Mas, mestre.

— Sem objeções ou começarei a retirar os seus sentidos — voltou seu rosto para Afrodite que entendeu o recado sem palavras.

— Pode deixar que eu continuarei de olho nele.

Notes:

Bom, estamos retratando finalmente o problema misterioso que Shun apresentou há poucos capítulos atrás. Não será necessariamente uma arritmia cardíaca, como apresentado no capítulo. Eu tomei a doença como base para o que está acontecendo com nosso virginiano. O nome da doença é apenas algo preliminar que a ciência pode explicar. Deixarei um link sobre o assunto para que seja possível entender melhor e quem sabe possa ajudar alguém que identifique algumas dessas características a procurarem um médico. link: https://saude.abril.com.br/medicina/o-que-e-arritmia-cardiaca-causas-sintomas-e-tratamentos/
Espero que continuem se cuidando e feliz ano novo!

Chapter 20: Capítulo 19 - Retorno

Chapter Text

Uma semana havia se passado desde a partida de Ikki e o incidente entre Shun e Afrodite. O Santuário se preparava para o retorno de sua deusa, após passar uma temporada distante, pois realizava seus afazeres como a jovem empresária Saori Kido. A jovem estava a par dos acontecimentos por Shion, que enviava relatórios semanais que destacavam as coisas mais relevantes.

O grande mestre fez questão de buscá-la assim que chegou no aeroporto, iriam “cortar caminho” utilizando a habilidade do antigo cavaleiro de Áries. Teriam de conversar bastante e um dos assuntos estava residindo temporariamente no Templo de Peixes. Como amiga, Saori sempre procurou saber de notícias de seu amigo. No entanto, como divindade, aquele era um enigma o qual estava com dificuldades de solucionar, mas não poderia admitir em voz alta. Afinal, ela era conhecida como deusa da sabedoria e estratégia.

— Fico muito feliz em recebê-la, minha deusa — disse o patriarca: — Acredito que tenha lido os meus últimos relatórios e gostaria de ter uma boa conversa com a senhorita, após o seu descanso, é claro.

— Agradeço pelo cuidado, Shion — sorriu — Porém eu creio que tem algo que não posso mais negligenciar. Fiquei preocupada com a situação de Shun, o descontrole de cosmo contra Afrodite, retorno de memórias, selamento, rebaixamento, doença. Foram tantas coisas dentro de uma semana que eu mal pude acreditar no que estava lendo.

— Bom, senhorita. Tudo o que estava escrito é a verdade — suspirou profundamente — Precisei pedir a quebra de sigilo médico, pois o paciente insistiu em manter segredo sobre o prontuário e deixou todos aqui preocupados.

— E o que ele tem?

— Uma espécie de arritmia cardíaca. Pelo menos está sendo mantida sob controle.

— Tem relação com o que eu não consegui restaurar naquele dia — disse com pesar — Consegui evitar a morte, mas aquela é uma região delicada e temi por prejudicá-lo mais. Tentei pesquisar um pouco, mas estava atolada de reuniões e papeladas, por passar uma temporada aqui e outra lá. Confiava que os médicos pudessem ajudar.

— Eles fazem o possível, minha deusa. Acredito que seria bom procurar por uma ajuda externa, os tempos de paz têm uma vantagem — sugeriu.

— Mesmo assim, falar com outros deuses dentro de uma aliança recente ainda é complicado. Eu discuti com Hades há poucos anos pela situação deplorável que ele havia deixado o interior de meu cavaleiro.

— Compreendo, mas a general dele colaborou conosco recentemente. E Ikki está retornando de uma missão bem sucedida com Sorento de Sirene. Isso é um bom sinal.

— Gostaria de ser mais otimista, Shion — andaram pelo salão até os aposentos dela — Preciso tomar um banho e descansar um pouco. Eu prometo que vou refletir sobre o que disse.

— Obrigado, bom descanso.

 

Na Casa de Peixes, Shun sentia-se novamente enclausurado em uma bolha de superproteção. Não que achasse completamente ruim, mas detestava se sentir como um incapaz. Raramente ficava sozinho, pois em parte cumpria com seu dever ao cuidar do anfitrião. Por outro lado, tinha a fiscalização para não negligenciar a si mesmo e com isso sua privacidade havia escorrido pelo ralo. O jovem não conseguia compreender na totalidade os motivos para tanto. Ele estava com o cosmo selado, cumprindo um castigo em posição subalterna que poderia se tornar permanente e sua saúde estava sendo bem acompanhada. Então refletia: “Para que tudo aquilo?”.

— Vou precisar fazer algumas compras em Rodório, tentarei não demorar muito.

— Pode pedir para que Kiki o acompanhe, o poder dele pode vir a calhar para que não necessite se esforçar tanto — disse o pisciano.

— Está bem, posso pedir esse favor para o mestre dele quando passar por Áries — esboçou um sorriso mínimo — Como está se sentindo hoje?

— Estou muito bem, acho que já posso retomar com as atividades mais leves a partir de amanhã — a verdade era que estava difícil estabelecer um diálogo longo desde o incidente — Que tal uma partida de xadrez quando voltar?

— Melhor fazermos isso após o almoço, está bem? E depois posso terminar o serviço enquanto descansa.

— Sei que tem um quê cultural de seu país natal quanto ao que se trata de limpeza, mas tem certeza de que é isso o que realmente quer? Ser um servo do Santuário? — o sueco estava visivelmente incomodado com aquela situação. O plano de Shion não havia saído totalmente como o esperado.

— Eu sei que contou isso para o meu irmão, ele está me mandando incontáveis mensagens a respeito. Apenas um milagre faria com que eu mudasse de ideia — ligava seu aparelho celular — O melhor a ser feito é que respeitem a minha escolha, ao menos isso, pois vejo que apoiá-la será difícil.

— Não sei se está ciente disso, mas um rebaixamento é algo muito mais humilhante do que pensa — o sueco tentava explicar — Se há quem seja grosseiro com os servos comuns do Santuário, um ex-cavaleiro consegue ser pior pela pressão psicológica.

— Sabe que não me importa o status de alguém, eu sei respeitar a hierarquia, mas isso não dá o direito de discriminar ninguém! — estava indignado.

— Não saíste daqui desde o dia que começou a trabalhar comigo. Só esteve na presença de poucos amigos, então não faz ideia de como é. Muitos pedem para terem suas memórias apagadas para viverem uma nova vida fora daqui, isso que em um passado distante alguns se rebelavam e eram mortos, isso quando não tiravam a própria vida— aproximou-se — Sei que não pode sentir agora, mas o cosmo caloroso de nossa deusa está bem próximo de nós. Ela chegou e vocês irão conversar bastante. Creio eu que por seus feitos como cavaleiro, como também a amizade que tens farão com que ela decline o seu pedido.

— Er… com licença — despediu-se apressadamente.

— Infelizmente ele terá que entender por si mesmo — resmungou o loiro sozinho ao ver seu amado se afastar — Continua igualmente teimoso…

Nos arredores do Santuário, Ikki e Sorento haviam chegado naquele ponto graças aos poderes do austríaco. A missão havia sido muito dura, mas a dupla conseguiu dar conta em um tempo louvável graças ao planejamento que fizeram e as habilidades que possuem, além da pressa de um certo leonino. Após derrotarem os inimigos nas três ilhas, chamaram alguns cavaleiros rasos próximos daquela região que levaram os rebeldes para as prisões comuns os que não detinham poder do cosmo. Já o pequeno grupo que articulou todo o esquema de domínio das ilhas e colocou terror nos moradores foram levados junto com a dupla, primeiramente os que estavam sob a responsabilidade de Poseidon e os que restaram para Athena.

— Foi um ótimo trabalho, Ikki. Esses são os últimos e assim terminamos a nossa missão conjunta.

— Realmente, Sorento. Já fazia tempo que eu não participava de uma boa ação. Foi ótimo para não perder a forma — apoiou seu pé em um dos rebeldes desacordado — Por quanto tempo vai durar o efeito dessa tua flauta neles?

— Por mais uma hora talvez. Por isso acho melhor chamar alguns de seus companheiros pelo cosmo e deixar que se encarregam do resto — olhou para a direção do templo de Athena — Precisamos reportar a sua deusa sobre nossa missão, além de sabermos se temos a autorização para levar seu irmão aos nossos domínios, pois meu deus já deu seu parecer favorável.

— Acho que convencer Saori será mais fácil do que convencer o Shun de vir conosco.

— Ele não tem respondido às suas mensagens?

— Com ou sem memória, a teimosia do meu irmão mais novo é bastante conhecida — bufou nervoso — Se eu pudesse sentir o seu cosmo nesse momento iria atrás dele.

— Lembre-se de não pressioná-lo demais, isso seria pior para os nossos planos. Temos que fazer com que ele venha espontaneamente.

— Tem razão… — suspirou alto.

Chapter 21: Capítulo 20 - Decisões

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Shun voltava ao Santuário com Kiki após terem feito as compras que precisavam para o décimo segundo templo. Eles não haviam demorado tanto, Kiki já estava mais crescido e menos pidão quando se tratava de supermercado. No entanto, o virginiano se sentia agradecido pela ajuda e comprou alguns dos doces favoritos do ariano, além de ter pego um pouco para si. Estava tudo bem até eles cruzarem caminho com Shura que estava retornando de seu treinamento e não perdeu a chance de alfinetar o servo temporário.

— Vejo que está bem adaptado aos seus novos afazeres como servo — disse com desdém. — Acho que terá que cobrir o meu templo quando a serva do Afrodite voltar.

— Não teria problemas com isso, senhor Shura — disse em tom amistoso — Agora se puder nos dar licença, nós precisamos ir, certo Kiki?

— Acho que não se deu conta do tamanho da desonra que é para um cavaleiro ser rebaixado. Mais insano ainda é pedir para isso!

— Esse é um assunto pessoal. Não é minha obrigação responder a esse tipo de questionamento — estava firme.

— Poderia ter se aposentado como o doente mental que sempre foi e não seria tão julgado assim.

— Senhor Shura, por favor, pare com isso!

— Fique quieto, discípulo de Mu. Isso não é da sua conta! 

— Kiki… — chamou-o com um fio de voz — Vamos…

O adolescente os teletransportou rapidamente para os aposentos do Templo de Peixes. As compras estavam no chão da entrada principal junto com os rapazes. Kiki estava agachado e amparava Shun que havia desmoronado sobre seus joelhos. Seu coração descompassado contrastava com a mente que parecia muito mais distante de onde estavam.

— Shun? O que houve? Você está bem? — perguntava o ruivo aflito — Shun?

— O que está acontecendo aqui? — Afrodite caminhava rapidamente até os dois — Estou sentindo seu cosmo aflito, Kiki!

— Não é para menos, senhor Afrodite! Estávamos lá embaixo quando encontramos o Shura e o clima ficou bem ruim entre ele e o Shun— procurava explicar rapidamente — Daí o Shun pediu para que eu tirasse a gente dali e parecia que ele estava começando a se sentir mal.

— Obrigado, Kiki. Eu peço para que fique por perto, por favor, acredito que precisarei de ajuda com ele — olhava para o noivo que estava de cabeça baixa em estado catatonico — Shun? — Mexeu levemente na franja que cobria o rosto — O olhar dele está distante — suavemente posicionou sua mão contra o peito do rapaz e chegou seu ouvido mais próximo — Os batimentos estão irregulares como a respiração.

— O que faremos? — perguntou preocupado.

— O ideal seria levá-lo à enfermaria, mas nós já passamos por crises parecidas. Com o cosmo bloqueado fica mais fácil de administrar. Por certo está se recordando de alguma coisa.

— Então ele vai ficar bem?

— Há quanto tempo ele entrou nesse estado?

— Acredito que menos de cinco minutos, por quê?

— Espere mais um pouco. Caso a musculatura não comece a relaxar, assim como a respiração, aí sim podemos nos preocupar mais. 

Aqueles momentos pareciam uma eternidade para os dois que estavam de espectadores de um momento de tamanha aflição. Shun aos poucos começou a relaxar o corpo e sua respiração. Ele estava agora com a cabeça deitada no colo de Afrodite. Tentava balbuciar algumas palavras enquanto admirava a visão do rosto do pisciano.

— Eu... não... entendo… — uma lágrima escorreu —  Dite, por que você…

— Shhh… Se acalme Shun. Eu estou aqui — fazia um carinho em seu rosto — Recordou-se de mais alguma coisa?

— A clínica…

— Acho que posso imaginar o que tenha se lembrado, mas não se preocupe com isso agora. Nós vamos conversar mais tarde, está bem?

— Ok..

— Agora você vai descansar e eu cuido do nosso almoço — olhou para Kiki — Me ajude a levantá-lo, por favor. Nós vamos ao quarto de hóspedes.

— Tudo certo, senhor Afrodite — o ariano ajudou a levantar o virginiano. Ele e o dourado o apoiaram enquanto andavam até o cômodo.

Shun não ofereceu resistência, pois se sentia exausto por ter sido consumido por lembranças. Não era a primeira vez que tivera uma reação intensa como aquela e dessa vez não se recordara de algo trivial, como algumas pequenas coisas durante sua estadia na casa de Afrodite. O olhar distante e aéreo do cavaleiro de Andrômeda em alguns momentos já fazia parte do dia a dia do loiro. Ele via como um progresso para a retomada das memórias perdidas de seu noivo, por isso não estava tão alarmado.

Na cozinha, o anfitrião ainda estava com Kiki após ter recolhido as compras e agora cozinhava algo rápido e nutritivo. Uma questão não saía de sua mente depois que a questão principal parecia ter se resolvido, que era o bem estar de Shun. Antes que o discípulo de Mu partisse, Afrodite o questionou:

— Kiki, eu preciso que me conte a verdade. O que aconteceu lá embaixo?

— Está bem, senhor Afrodite, eu conto.

Momentos antes, no Templo de Athena, um grupo estava reunido.Ikki e Sorento estavam juntos e entregaram o relatório da missão conjunta entre exércitos. Shion estava bem satisfeito ao ver o entrosamento e o progresso feito dos dois, isso significava muito para que futuros trabalhos fossem feitos em parceria. Saori sentia que havia algo a mais ali para que Sorento estivesse presente, pois ele poderia ter feito como Pandora e retornado ao próprio território, enquanto apenas seus cavaleiros traziam o relatório das missões.

— Fico feliz com o êxito da missão. Isso representa muito para mim e acredito que para Poseidon também — disse a deusa — Bom, se não for se incomodar Sorento, eu preciso me ausentar para resolver alguns assuntos do Santuário.

— Foi bom colaborar com Fênix, meu senhor também está satisfeito com os resultados — disse o General Marina —  Antes de partir, eu gostaria de fazer um pedido.

— Claro — esboçou um sorriso.

— Eu acho melhor começar a falar primeiro — Ikki tomou a palavra — Durante a missão, eu e Sorento conversamos um pouco sobre algumas coisas pessoais. 

— Eu havia perguntado sobre o irmão dele e então ele me contou um pouco sobre o ocorrido.

— É justamente a situação do Shun que eu iria apurar agora — Saori estava um tanto ansiosa — É um assunto bem delicado.

— Eu creio que eu possa ajudá-lo com relação a memória. A minha música não serve apenas para batalhar ou entreter, também há uma função terapêutica — fez uma pequena pausa antes de realizar o pedido: — Gostaria de ter a autorização para levá-lo comigo até o reino de Poseidon para começar um tratamento alternativo.

— Isso seria maravilhoso, é muita gentileza de sua parte — disse Shion — Não acha, minha deusa?

— Bom, essa foi uma proposta inesperada para mim, mas eu acredito em suas boas intenções, Sorento — abriu um sorriso iluminado de esperança — Está autorizado o seu pedido. No entanto, será necessário falar com Shun sobre isso. Além disso, há outra questão médica envolvida que precisa ser observada durante essa estadia.

— Eu havia mencionado esse fato com Sorento no dia que eu soube do último incidente envolvendo o meu irmão.

— Serei cuidadoso, eu prometo.

— Creio que agora a decisão depende somente do rapaz — disse o Grande Mestre — Podemos encerrar essa reunião?

— Certamente — concluiu Saori.

Após o almoço que ocorreu de forma um pouco mais tranquila no Templo de Peixes entre Shun e Afrodite. Kiki havia partido um pouco antes para se juntar ao seu mentor. Já Ikki e Sorento acabaram ficando para o almoço no Templo principal para depois tratarem desse assunto delicado junto a Deusa e Shion.

— Obrigado por tudo — disse o mais novo — Eu não me sinto merecedor de tudo o que fizeram e fazem por mim. Eu…

— Por favor, Shun, não fale assim de si mesmo — suplicava Afrodite — Muitas coisas aconteceram entre nós das quais ainda não se recorda. Nós já superamos diversos obstáculos e temos condições de enfrentar mais esse.

— Está bem — deu-se por vencido — Não farei mais esse tipo de comentário. O que realmente me deixa mal é que eu sinto que todos vocês estão escondendo coisas importantes de mim — o pisciano iria protestar, mas Shun continuou — Eu compreendo que queiram me proteger de alguma coisa, mas eu prefiro que sejam totalmente honestos comigo. Talvez isso estimule algum progresso com minhas memórias.

— Não está se referindo ao que aconteceu hoje com o Shura, não é? Kiki me contou o quanto ele foi desrespeitoso e insensível! — estava muito irritado com aquilo.

— Ele realmente foi isso, não irei negar e… — pensou bem antes de continuar — Não foi a primeira vez.

— Mais que cretino! Então aquele dia?

— Sim. Eu estava de passagem para lhe fazer uma visita antes de voltar para casa, já que eu tava perto e então eu ouvi uma conversa sem querer — respirou fundo — Shura e Kanon em algum momento falaram sobre nós dois. Eu sentia um leve mal estar antes, mas aquilo fez com que eu me recordasse de nossa batalha aqui. Já o que houve hoje…

— Fez com que se recordasse sobre a clínica, certo? — soltou um suspiro — Não concordo com a atitude deles e vamos informar Shion sobre isso. No entanto isso me fez pensar que erramos em não termos falado sobre tudo, mas até os médicos recomendaram para que não levasse um choque. Quando você acordou estava tão vulnerável, tão descalço da maturidade necessária para encarar a situação que vivia. Eu, seu irmão e todos nossos amigos entramos em acordo para te preservar disso. Contávamos que a sua amnésia não era tão persistente…

— Entendi a decisão de vocês. Eu quando acordei não estava preparado para isso, acho que até para essas lembranças que eu tive até agora não estava preparado — enxugou as lágrimas teimosas que escorriam de seus olhos — Antes eu desejava tanto saber de tudo e eu sei que preciso, mas a falta de controle sobre esses flashes de memória me confundem mais do que ajudam.

— Então eu acredito que chegamos com a solução — Ikki adentrava a parte interna da casa de Afrodite.

— Quando? 

— Eu autorizei a entrada deles pelo cosmo — explicou o sueco — Que solução é essa, Fênix?

— Eu faço parte dela — disse o Marina — Mas a decisão cabe somente a você, Shun.

Notes:

É muito bom reconhecer que algo está fora do nosso alcance e deixar que outra pessoa ajude a cuidar disso. Estamos evoluindo, não é Saori?
Apesar do susto, Shun está bem e finalmente teve essa conversa franca com Afrodite.
Abraços e até a próxima ^^

Chapter 22: Capítulo 21 - Tratamento

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

O grupo formado por Shun, Afrodite, Ikki, Sorento, Shion e Saori decidiram se reunir em um dos jardins da Casa de Peixes para terem uma conversa mais reservada. A Deusa e o Grande Mestre não poderiam demorar muito, pois haviam muitas tarefas a serem realizadas no dia, mas não poderiam negligenciar os cuidados que o cavaleiro de bronze necessitava. A jovem não pode evitar de sentir culpa ao olhar o estado do virginiano que sente um carinho fraternal.

 

— Faz tanto tempo que eu não o vejo, Shun. O que houve contigo? — perguntou Saori.

 

— Sinto muito em preocupá-la, minha deusa. Algumas coisas aconteceram, principalmente nas últimas semanas que eu não me julgo capaz de explicar com clareza. Parte da confusão tem relação com as minhas memórias.

 

— Você me parece abatido, ainda mais do que o dia do último incidente que me relataram — observou Shion — Por acaso conseguiu se recordar de mais alguma coisa?

 

— Sim, eu recuperei mais uma lembrança, mas não sei se isso está sendo bom para mim — olhou para suas mãos que apertavam em sinal de nervosismo — Eu queria recuperar minhas memórias a todo custo, mas isso está afetando mais o meu físico e meu psicológico também — respirou fundo antes de olhar para os demais — Talvez fosse melhor recomeçar tudo de novo, mas seria egoísmo de minha parte, pois deixaria todos que me conhecem e gostam de mim sofrerem.

 

— Eu temia que suas primeiras lembranças pudessem ser ruins, meu irmão. Afinal, nossas vidas não foram fáceis desde o início, mas vê-lo assim me faz questionar se fizemos o correto em termos omitido detalhes importantes de seu passado por tanto tempo — aproximou-se para abraçá-lo — Esse que está aqui é Sorento, ele é um general marina do exército de Poseidon.

 

— Permita-me continuar, Ikki — disse Sorento — Nós também já nos enfrentamos no passado, Shun. Você foi um adversário formidável e devo reconhecer que o ocorrido naquela época não foi certo, pois toda aquela guerra foi manipulada, mas deixaremos essa história para outro momento — abanou o ar com a mão esquerda — Eu fui o companheiro de missão de seu irmão e surpreendi-me com o que ele havia me contado quando perguntei sobre ti. Por isso estou aqui para fazer um convite. Eu posso tentar fazer com que suas memórias ressurjam de forma mais ordenada utilizando minhas habilidades especiais. Isso seria feito fora do Santuário, pois não tenho licença de ausentar-me de minhas funções ao lado de Poseidon por muito tempo.

 

— Eu sou muito grato pelo convite, Sorento. Fico contente ao saber que pude converter antigos adversários em amigos. Seu gesto representa muito para mim — sorriu como não fazia há muitos dias — Afrodite, eu…

 

— Não precisa se sentir preso a mim — disse o pisciano — Todo esse castigo foi uma baboseira e você sabe bem disso. A única sorte nisso foi que pudemos ficar próximos um do outro — alisou a bochecha do mais novo — Aceite esse convite, será uma ótima oportunidade de fazer isso com segurança. Eu confio na capacidade de Sorento.

 

— Obrigado.

 

— Tudo bem, eu aceito. Confio que isso será o melhor para todos nós — abraçou o dourado antes de apertar a mão do austríaco — Senhorita Athena, sobre o meu pedido…

 

— Eu nunca considerei rebaixá-lo, Shun — respondeu a Deusa — Você entenderá o motivo assim que se recordar totalmente de quem é e suas ações que tanto ajudaram a alcançarmos a paz que temos hoje — abraçou-o em despedida — Sei que mal nos reencontramos e precisamos nos despedir, mas é por uma boa causa.

 

— Obrigado, obrigado a todos vocês! — tentava secar algumas de suas lágrimas já emocionado — Despertaram em mim a esperança de melhorar e prometo que darei o meu melhor para voltar a trajar a armadura sagrada de Andrômeda vestido de minhas memórias.

 

— Vamos que eu te ajudo a arrumar suas coisas, tampinha — Ikki bagunçou seus cabelos antes de seguirem para o quarto de hóspedes.

 

 

Poucas horas depois, Shun e Sorento já se encontravam no Templo de Poseidon. O virginiano mais jovem admirava o local, ainda surpreso sobre como poderia estar respirando normalmente debaixo d’água e ver um “céu” repleto de criaturas marinhas. O General Marina não pode deixar de sorrir vendo aquela cena, apesar da primeira e última vez que haviam se encontrado naquele local, o contexto era completamente diferente. Não havia tempo para contemplar a beleza da Fortaleza Submarina, um inimigo jamais teria esse direito. Agora o Cavaleiro de Andrômeda estava ali como um aliado, mais do que isso, um convidado.

 

— Vejo que gostou da vista, Shun.

 

— Esse lugar é maravilhoso e sinto que conheço pouco — olhou para o austríaco — É incrível como podemos transitar por aqui como se estivéssemos na superfície.

 

— Aqui melhorou depois da reconstrução — disse o Imperador dos Mares — É um prazer revê-lo, Shun. Sorento explicou-me sobre sua situação e espero que tenha uma boa estada por aqui.

 

— Eu agradeço pela hospitalidade, senhor Poseidon — pela imponência do cosmo, o cavaleiro pode reconhecê-lo como um deus e logo se curvou em respeito.

 

— Vocês ficarão por aqui em dias alternados, de acordo com os deveres de Sorento, mas poderão acessar a casa de Julian na superfície. Com o acordo de paz entre os deuses, eu e Julian pudemos entrar em um acordo que pudesse nos beneficiar — explicou.

 

— Então haverão momentos que estarei interagindo com o senhor e outros com o senhor Julian, certo?

 

— Exatamente — sorriu — Eu os deixarei à sós para que possam ver suas instalações, Andrômeda. Até logo!

 

— Até logo!

 

— Venha comigo, eu lhe mostrarei onde você vai dormir. Acredito que esteja bastante cansado ao ter o selo removido, mas é algo necessário para a evolução do seu tratamento — caminhavam pelos corredores do templo.

 

— Eu entendo, mas ainda sim fico receoso de que algo dê errado como da vez que tive minha primeira memória liberada — apertou forte a alça da mala que carregava — Eu não desejo machucar mais ninguém por descontrole.

 

— Me disseram que foi um susto, você pegou o Cavaleiro de Peixes de surpresa. Foi normal ter acontecido esse acidente, mas eu estou ciente dos riscos e irei me preparar melhor — abriu a porta do quarto — Naquela outra porta tem um banheiro — apontou — Descanse que eu ou algum servo o chamará para o jantar. Dependendo das condições podemos tentar ainda hoje ou amanhã pela manhã.

 

— Está bem, muito obrigado por tudo, Sorento.

 

— Será um prazer.

 

No Santuário, Shun já deixava saudades. Ele não conseguiu se despedir de todos antes de partir com Sorento. Para Afrodite e seus amigos, aquela partida representava também a esperança de que o rapaz voltaria a sua saúde plena. Ikki estava na pequena casa que divide com o irmão e pensava no breve reencontro seguido de despedida.

 

— Eu sinto que posso confiar nas intenções de Sorento, mas não ter ideia de quanto tempo levará para que retorne para casa me deixa ansioso — pegou o celular — Talvez seja bom conversar um pouco com alguém de fora — abriu a lista de contatos e apertou para chamar — Oi, alô! Tem algum tempo?

 

“Por sorte eu tenho sim. Já voltou para casa?” — a voz feminina perguntou.

 

— Sim, eu estou de volta — caminhava com o celular pela casa — Até que o trabalho foi rápido, em equipe até que ajuda mais.

 

“O lobo solitário aprendeu a trabalhar em equipe?” — alfinetou em meio a risos — “Brincadeiras a parte eu sinto sua voz tensa. Aconteceu algo?”.

 

— Não aconteceu nada ruim, aliás é até positivo, mas eu não queria ter que me despedir do meu irmão tão cedo.

 

“Ele recobrou as memórias para partir em missões? Não acha isso um pouco cedo?” — disse a moça preocupada.

 

— Bom, ele estava recuperando aos poucos, mas o modo que ocorria isso estava sendo destrutivo para ele, pelo o que eu entendi — já bagunçava o próprio cabelo em pensar — Isso é uma das coisas que me preocupa. Nós já passamos por um caminho longo no passado para que ele pudesse se recuperar…

 

“Eu sei… E pelo o que você me contou, esse sequestro foi muito devastador” — antes que o leonino começasse a falar, ela retomou sua fala — “Você acha que o Shun vai conseguir lidar com o peso dessas lembranças?”.

 

— Sinceramente, não. O que aquele desgraçado e aquela deusa fajuta fizeram foi de um mal irreparável, o destino foi bonzinho demais com aqueles patifes — seu tom estava agressivo — Desculpe o jeito, Pandora. Eu fico alterado só de lembrar do estado em que o encontramos.

 

“Não precisa se desculpar por isso, Ikki. E se serve de consolo, a alma do antigo cisne está sendo devidamente punida aqui” — disse aquilo animada — “Seu irmão é uma pessoa muito boa e se seus amigos o encontraram perto da porta significa que sua alma não suportava mais a dor de viver em seu corpo. Talvez relembrar o que aconteceu reative esse sentimento de desespero e…”

— Se for o que eu estou pensando, não diga, por favor — sua voz chegou a falhar no pedido — Se houvesse algum jeito dele não se lembrar disso, com certeza eu correria atrás.

 

“Eu conheço uma maneira dele esquecer, mas precisamos ser rápidos” — suspirou — “Ele está fazendo tratamento médico em outro lugar?”.

 

— É um tratamento alternativo com Sorento de Sirene, essa aliança entre os deuses está fazendo com que colhamos bons frutos.

 

“Concordo. Amizades e até um flerte” — riu — “Acho que temos mais coisas positivas juntos do que batalhando um contra o outro. O acordo de paz em si já era positivo, mas a aliança entre exércitos tornou nossos trabalhos ainda melhores”.

 

— Realmente. Pode me dizer como pretende fazer o Shun esquecer o que passou naquele lugar?

 

“As águas do Rio Lete faz com que uma pessoa esqueça o que houve nas vidas passadas, já o Muro das Lamentações possui uma função parecida, deixar todo o lamento que o alimenta” — raciocinava — “Andrômeda teria que estar pleno de seu cosmo para vir ao Submundo e deixar tudo no muro, o que não acredito ser a melhor opção. Ele precisa esquecer rapidamente sobre esse trauma para não colapsar”.

 

— Só que as águas desse rio o fariam esquecer tudo outra vez. Voltamos à estaca zero — bufou.

 

“Se pegássemos uma pequena porção e manipularmos com o cosmo, nós podemos conseguir com que ele esqueça apenas o que ocorreu no período de tempo do sequestro” — estava confiante — “Vou pedir ao Senhor Hades, ele sabe que está em débito com vocês”.

 

— Me avise se conseguir, mas de qualquer forma eu sei que precisaremos contar para meu irmão o que houve. Aprendi da pior forma que omitir coisas importantes é pior para as pessoas afetadas.

 

“Você tem razão, ele precisa tomar conhecimento do que houve, mas não precisa ter que conviver com essas lembranças o assombrando” — finalizou a moça — “Mande mensagem quando estiver próximo de partir. Caso Poseidon não aceite minha presença, fale com Sorento para irmos a um território neutro. Até breve!”

 

— Ok. Até breve — se despediu desligando o celular — Pandora está certa, cada passo precisa ser devidamente calculado. Nós conseguiremos, eu acredito nisso.

 

Notes:

Finalmente descobrimos quem era o contatinho da agenda do Ikki. Acho que indiretamente Shun acabou os aproximando.
E a teimosia de Andrômeda foi dobrada kkkkk No próximo capítulo veremos como vai funcionar esse tratamento com o Sorento. Até a próxima!

Chapter 23: Capítulo 22 - Imersão

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

No dia seguinte, Shun e Sorento se preparavam para a primeira sessão de tratamento. O músico já estava com sua flauta em mãos e Shun havia se deitado em um banco de pedra. Ambos concordaram que seria mais seguro estarem em um ambiente aberto e o marina queria entender a extensão dos efeitos do cosmo do aliado. O mais jovem respirou fundo lembrando-se de como Shaka o ensinou para controlar a própria ansiedade. Ele pensava em todo o processo que eles fariam para recuperar suas memórias e o medo do que poderia encontrar.

 

— Vejo que está bem centrado, Shun. Podemos começar?

 

— Não vou dizer que estou bem com toda essa ideia, mas eu quero começar — fechou os olhos —  Estou pronto. Por onde iremos começar?

 

— Eu consigo compreender o que sente, mas não se preocupe que farei o processo ser o mais leve o possível. Como um guerreiro, você já sabe o que esperar com relação às batalhas que precisou enfrentar — o outro assentiu — Vamos começar por uma fase primordial de sua vida, a infância.

 

O marina começou a tocar sua flauta e não demorou para a melodia deixar o outro virginiano em transe. Shun havia conseguido acessar seu subconsciente novamente e via algumas telas coloridas com suas memórias mais recentes e começou a entender como aquilo funcionaria.

 

“Shun, me ouça, estou utilizando de meu cosmo para estimular suas lembranças emergirem”— dizia pelo cosmo — “Essa melodia trará de volta o frescor de seus dias mais doces da infância. Concentre-se e siga seus instintos, eles o levarão para o lugar certo”.

 

— Certo — começou a caminhar até avistar um espelho de memória que estava “piscando” como se fosse uma gravação com defeito — Eu vi uma coisa.

 

“Ótimo! Chegue mais perto. Talvez você precise imergir” — continuou a explicar — “Ikki me explicou sobre algo de seu passado. Caso você atravesse esse espelho, você acabará vendo o que houve nessa época. Estará seguro, pois minha música não permitirá que acorde confuso influenciado pela memória”.

 

— Eu vou tentar atravessar — estendeu a mão e a tela brilhou forte.

 

“O que está vendo?” — perguntou curioso.

 

— Estou brincando perto da fonte. Está um dia tão quente! — resmungou — Seiya disse para eu pular lá, mas acho que vão brigar com a gente. Os passarinhos vieram beber água e começaram a cantar.

 

“Acho que demos sorte de encontrarmos uma boa lembrança, mas precisamos continuar” — o comunicou — “Vou estimular sua mente a abrir uma porta de saída para essa lembrança. Acredito que o restante desta memória desperte quando você acordar”.

 

— Tudo bem. Acho que vou tentar entrar na mansão, talvez seja esse o portal — caminhou até a porta e a abriu — Do outro lado parece o local que eu estava antes.

 

“Então é esse o portal. Atravesse que farei você voltar à sua consciência”.

 

E assim, Shun atravessou a porta e a música de Sorento o fez despertar cuidadosamente. Aquela primeira experiência exigiu bastante das habilidades do general, mas agora que ele pegou o jeito de conduzir essa experiência não desperdiçará tanto cosmo.

 

— Como se sente?

 

— Um pouco tonto, mas consigo me recordar sobre tudo o que aconteceu naquele dia — levou sua mão à cabeça, ainda deitado — Acha que poderemos continuar hoje?

 

— Vamos fazer uma breve pausa, ok? Preciso encontrar suas lembranças base, acredito que elas sirvam como uma chave que desbloqueia as anteriores.

 

— Eu acho que compreendi o que pretende fazer. Se eu continuar no ritmo que estamos agora, nós demoraremos muito tempo — disse preocupado.

 

— Eu conversei com seu mestre ontem para ter mais certeza do que eu faria. Shaka me contou brevemente sobre a época que você despertou do coma e da questão das memórias base. Elas fazem parte do que conhecemos sobre nós mesmos — explicou — Podemos não ter muita ideia sobre quais são, mas creio que quando descobrirmos a primeira, o caminho será mais fácil para encontrar as demais.

 

— Certo. Mais uma vez, obrigado por tudo o que está fazendo, Sorento. Essa não é uma obrigação sua.

 

 

No Santuário, Afrodite voltava com boas notícias da ala médica, seu processo de recuperação  ocorria com rapidez e já poderia voltar com as atividades leves. O cavaleiro estava satisfeito com isso e por seu amado ter aceitado o tratamento alternativo de Sorento, mas não poderia negar que já sentia falta de sua presença perto de si. Ele queria conversar melhor com Ikki sobre o que o General Marina faria com Shun, mas a fênix desapareceu novamente, sem explicações.

 

“Acho que ler seus sentimentos pelo cosmo ficou mais fácil depois que Shun entrou em nossas vidas” — comentou Shaka pelo cosmo, assim que Peixes pediu permissão de passagem — “Não termine de subir ainda, eu sei que precisa conversar”.

 

“Posso dizer que ele também teve uma influência forte em sua vida, Shaka” — comentou pelo cosmo adentrando a Sexta Casa — Você se tornou uma pessoa mais atenciosa e menos indiferente com as pessoas.

 

— Errado. Eu ainda não me abri tanto assim para todos ao meu redor, mas confesso que me tornei uma pessoa mais compreensiva pela influência de meu pupilo — esboçou um meio sorriso — Voltou da enfermaria?

 

— Sim — sentou-se ao lado do virginiano no jardim das árvores gêmeas — Poderei retornar aos exercícios mais leves, mas vou começar amanhã. Assim eu me distraio um pouco e não fico pensando tanto…

 

— No que está acontecendo na fortaleza marinha? — completou — Eu pude conversar um pouco com Sorento antes da partida de Shun. Dei alguns detalhes que podem ajudar nesse processo.

 

— Acha mesmo que a música dele pode representar uma chance?

 

— A música é um meio de estimular o cérebro e sinceramente considero que Sirene fará isso de um modo suave. Quando ele descobrir o padrão para ativar as lembranças adormecidas, mais rápido será para nosso menino voltar ao que era — de repente a expressão do indiano mudou — Mas…

 

— Se Shun se recordar de tudo, também lembrará o que aqueles malditos fizeram. Esse é o meu maior temor — o sueco estava sendo consumido pelo nervosismo — Eu sei que meu amor já superou muita coisa pesada, mas temo como mais uma recaída possa ser tão extrema como daquela vez…

 

Shaka então se levantou da posição de lótus e convidou Afrodite a fazer o mesmo. Ele abriu os olhos e parou para refletir por alguns instantes antes de dizer:

 

— Creio que Ikki tenha encontrado alguma forma de neutralizar esse tipo de consequência.

 

— Eu não compreendo. O que quer dizer com isso?

 

— Ele me enviou um sinal de um lugar bem inusitado — deu um breve riso — Andrômeda não cativou apenas os corações do Santuário, tem quem o queira bem entre os outros exércitos da aliança.

 

Notes:

Esse capítulo funcionou como uma introdução nessa incursão pelas lembranças de Shun e vislumbrar quais serão os próximos passos. Foi feita uma menção à época da fanfic antecessora "Recaída" e sabemos que nossa querida Fênix está lutando contra essa maré que se aproxima.
Veremos mais sobre essas jornadas no próximo capítulo.

Chapter 24: Capítulo 23 - A ressaca

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Mais alguns dias se passaram e Shun fazia progressos com suas memórias. Se recordou das coisas mais corriqueiras como algumas de suas manias e também de acontecimentos mais complexos como suas primeiras batalhas. Sorento procurava ir devagar, principalmente quando notava que o virginiano mais jovem tinha bastante coisa para digerir, por isso utilizava de sua música para acalmá-lo.

— Tente respeitar seus próprios limites, Shun — aconselhava o general — Sua mente está sendo “desbloqueada” aos poucos e a carga das lembranças de hoje foi demais. Olhe para seu estado!

— Eu estou bem, Sorento… — disse ainda ofegante — Não posso abusar de sua boa vontade e tomar mais ainda de seu tempo. Já estou aqui há quase um mês!

— E quer se recordar de dezoito anos de sua vida em apenas um mês? — Questionou-o — Nosso progresso foi enorme! Conseguimos chegar aos seus treze anos e como um cavaleiro de Athena foi com essa idade que você passou por enormes provações.

— Chegamos até a batalha das doze casas… — enxugou suas lágrimas com as costas da mão rapidamente — Agora eu entendo como tudo aconteceu, mas não deixo de me sentir péssimo pelo o que fiz.

— Como guerreiros, nós fazemos o que julgamos certo, seguimos antes mesmo de nossos ideais as ordens de nossos superiores. Você lutou por Athena e eu por Poseidon. Logo se recordará de quando fomos adversários e eu não demorei tanto para conseguir entendê-lo, assim como acredito que Afrodite também o fez quando teve a chance de retornar a vida — colocou sua mão sobre o ombro dele para confortá-lo.

— Eu entendo o que quer dizer, mas é difícil. Essa imersão nas minhas lembranças é bastante intensa. Às vezes, vejo as coisas como se fosse o espectador de um filme, outras vezes, eu faço parte do filme e vivencio tudo como se fosse a primeira vez. Não consigo controlar meu corpo ou o que digo, meus pensamentos de agora se misturam com os da época e viram uma completa bagunça! — respirou fundo — Você tem razão… Eu não aguento mais por hoje. Obrigado!

— De nada! — ajudou-o a se levantar — Eu sou apenas um fio condutor entre você e suas lembranças perdidas. Aos poucos estou conseguindo entender como realmente funciona essa coisa que pra mim é uma experiência inédita. Apenas não se esforce demais, ok?

— Tudo bem — concordou — Que tal um treino mais tarde? Preciso continuar me exercitando, principalmente depois que lembrei sobre o meu treinamento, isso me deixou motivado e agora entendo melhor o meu lugar como cavaleiro.

— Se estiver se sentindo melhor, nós podemos treinar sim! — sorriu — Eu preciso ir, meu senhor está me chamando.

Ikki estava apreensivo enquanto esperava Pandora no lugar combinado. A moça não poderia se ausentar por muito tempo do Submundo, mas estava fazendo sua parte para ajudar seu novo amigo. Ela trazia consigo as águas do Rio Lete modificadas com o cosmo de Hades. O deus dos mortos não estava arrependido do que fizera com Shun durante a guerra santa, mas depois de reavaliar o que deixou de fazer por ele após o acordo de paz, ele se sentiu em dívida pelos danos causados ao rapaz que se provou um aliado digno depois de tudo o que Pandora relatou sobre a missão.

— Espero não ter demorado muito — disse a alemã ao chegar próximo da Fortaleza Submarina — Sei que Poseidon está ciente de nossas presenças, mas preciso retornar logo ao Submundo, as coisas estão um pouco complicadas por hoje.

— Eu entendo, tive várias missões para realizar nesse meio tempo, mas consegui a autorização para ficar alguns dias com meu irmão, já que Sorento relatou sobre ele estar na reta final do tratamento. Eu sinto que ele precisa de mim, pois sei o quanto fui ausente em algumas das épocas que ele mais precisou.

— Creio que o noivo dele deve ter concordado com isso, pois acredito que ele também queria estar aqui com ele.

— Sim, Afrodite concordou que eu viesse e o reencontro deles ficou para o Santuário depois. Eles costumam conversar pelo telefone, não é como se meu irmão estivesse incomunicável.

— Ok. Eu preciso apenas repassar as instruções para você e irei embora.

— De novo isso?

— Nem venha reclamar, Ikki — disse a virginiana irritada — Esse líquido aqui é poderoso e precisa ser usado no momento certo. Shun passou por experiências fortes e outras traumáticas demais, mas que com o tempo e muita ajuda foram superadas, ele se recordará disso no tempo certo. Por mais que fique tentado, não use!

— Tudo bem, vou usar somente quando ele se recordar do que aquele desgraçado fez — apertou os punhos — Ele sequer pagou pelo o que fez em vida, foi muito pouco!

— Se quer saber o que ele está vivendo no inferno, eu posso te levar para dar uma tour rápida. Acho que meu senhor não se oporia a isso, se for para aliviar um pouco a revolta em seu coração — disse com um sorriso malicioso — Às vezes eu mesma gosto de dar uma espiada nele e em outras almas que cometeram crimes hediondos.

— Pelo menos nessa justiça divina eu consigo acreditar, pois já vi com meus próprios olhos — riu — Quando tudo isso acabar, eu acredito que será mais fácil de contar para ele sobre nós.

— Seu irmão ficaria confuso se você contasse sobre mim se ele não se recordasse de sua última missão comigo — aproximou-se do leonino e tocava em seus cabelos curtos — Acho que esperamos muito tempo por um beijo, concorda?

— Absolutamente! — a pegou de leve pela cintura e finalmente se beijaram.

— Até breve! — disse a moça um pouco corada antes de desaparecer.
 

O reencontro dos irmãos aconteceu pelo final da tarde e Shun estava surpreendentemente feliz por ter Ikki ali, talvez estivesse bastante influenciado por suas memórias adquiridas até o início da puberdade, havia até esquecido sobre o climão antes da partida de seu irmão daquela outra missão. O mais velho percebeu que Shun recuperou aquele brilho nos olhos que viu pela última vez no início de sua fase ingênua após o choque. Eles conversaram um pouco sobre os últimos dias e Ikki explicou que acompanharia suas últimas sessões para ajudá-lo a lidar com experiências passadas.

Nos dias seguintes, Shun conseguiu se recordar sobre a Guerra Santa contra Poseidon e sobre suas lutas contra Io e Sorento. Naquele dia em especial, o general Scylla estava próximo e acompanhou a parte final daquela sessão, o que foi positivo, pois tanto ele quanto Sirene puderam dar seu ponto de vista atual e o consolaram. Quando o “capítulo Hades” começou a ficar claro na mente de Andrômeda, suas reações não foram as melhores, principalmente por ter sentido em si a possessão do deus e de sua prisão mental com as amarras. Já ali que Ikki sentia a necessidade de usar as águas modificadas do Rio Lete, mas precisou controlar esses impulsos, pois lembrava-se das palavras de Pandora.

“Ele conseguiu superar tudo isso e vai se lembrar que superou” — Ikki repetia essas palavras como um mantra em sua mente — Por favor, meu irmão, tente se acalmar. Tudo isso que você recordou sobre a guerra contra Hades já foi superado, não se esqueça.

— Ikki, você não faz ideia sobre o que eu vi. Eu… — o jovem o abraçava forte de forma que seu rosto não era visto, mas a Fênix conseguia sentir sua camiseta ficar molhada e apenas retribui o abraço.

— Shhh… não precisa me dizer o que viu porque você já contou para mim. Eu sei que foi terrível o que houve.

— As coisas vão piorar, meu irmão? — olhava para ele, mas não recebia uma resposta — Talvez seja melhor não continuar mais com isso.

— Shun, você ouviu o que Ikki disse? — perguntou Sorento — Você vai lembrar que superou. Sei que a maturidade que exigem de nós guerreiros sempre foi desproporcional a nossa idade cronológica e não é qualquer humano que consegue lidar com a ideia de ter sido um receptáculo de um deus. Você era apenas um menino quando precisou lidar com o que viu — começou a tocar uma música relaxante com sua flauta e quando acabou disse: — Acredito ser uma boa ideia conversar com Julian agora que está mais calmo. Ele e Poseidon aprenderam a conviver nessa dualidade de dividir o corpo e talvez ele possa te ajudar nessa.

— Está bem, obrigado! — Andrômeda se retirou dali para descansar um pouco e mais tarde tentaria conversar com Julian.

— As coisas estão ficando mais difíceis — comentou o virginiano mais velho com Ikki.

— Nem me fale! Está sendo horrível vê-lo assim novamente — continuou a conversa depois de ver que seu irmão estava longe — Shun pode ter conseguido superar tudo no passado, mas foi um processo lento. Em breve ele vai recordar de outros acontecimentos ainda mais pesados e eu adoraria que isso não fosse necessário.

— A vida dele não foi fácil e imagino que a sua também não tenha sido, não falo isso pensando só no local que foi treinado para ser um cavaleiro, mas por ser o irmão mais velho acaba segurando parte do fardo para que ele não se machuque tanto e fica tão ferido quanto.

— Eu precisei trabalhar muito com meu psicológico para ser imbatível, mas percebi depois que fazia do jeito errado, sabe? Me alimentei demais de sentimentos negativos como o ódio e usava como força até que meus amigos e principalmente Shun me fez ver que estava errado — se recordava — Você agora tem alguma noção do que passamos, mas a parte da vida que ele está prestes a se recordar será uma das mais difíceis de nossas vidas.

— Teria como me explicar melhor sobre o que houve? Acredito que assim eu possa tentar pensar em algo para amenizar a dor dele — o marina estava preocupado — Shun é uma ótima pessoa. Eu sei que perder sua memória o deixou desestabilizado e nesse processo de recuperação ele anda inseguro, mas faz parte.

— Ok. Eu conto, mas vai demorar.

— Tudo bem, eu ainda tenho tempo.
 

Notes:

Então pessoal, acho que deu para perceber o quanto as coisas estão ficando sérias por aqui. O capítulo de hoje faz várias referências à fanfic antecessora a essa chamada “Recaída”. Nosso querido Shun vivenciou muitas coisas ruins das quais estão sendo recobradas em sua memória, por isso que Ikki retornou. Aposto que estão sentindo a falta do Afrodite, mas ele logo retornará, talvez até mais cedo do que possamos imaginar.

Chapter 25: Capítulo 24 - A Torrente

Notes:

Primeiramente, feliz ano novo!
Segundamente, boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Sorento sentiu um leve mal estar após ouvir uma versão resumida dos fatos que ocorreram com Shun, mas conseguiu disfarçar para que Fênix não se preocupasse. Foram anos numa sequência de altos e baixos. Shun carregou o estigma de ter sido o receptáculo de Hades, a depressão profunda e a ansiedade. O rapaz quase foi destruído em definitivo várias vezes. O general Sirene queria muito conseguir atenuar o efeito de algumas dessas memórias. Shun merecia tranquilidade e ser feliz novamente. Por isso, o virginiano mais velho voltou-se à pesquisa depois de tomar um chá relaxante de camomila.

 

O cavaleiro de Andrômeda estava na superfície para pegar um melhor sinal de cobertura para trocar mensagens com Afrodite que estava no Santuário, mas algo incomodava o pisciano que insistia em querer fazer uma ligação. No final das contas, Shun acabou cedendo e eles voltaram a se falar por chamada de voz.

 

— “Olá, meu querido! Finalmente poderei ouvir sua voz novamente” — disse o dourado do outro lado da linha — “Estou com saudades!”

 

— Oi, também estou sentindo saudades — seu tom de voz era baixo e mais contido — Acredito que em breve estarei em casa.

 

— “Eu sinto sua voz triste. Era por isso que não queria conversar por voz?” — sua intuição sobre o que acontecia não estava errada — “Foi sobre algo que se recordou hoje?”.

 

— Sim, eu não queria conversar por voz justamente por não estar tão bem. Disse pro Ikki que eu queria privacidade para conversar, mas também precisava respirar um pouco. Hoje foi um dia bastante intenso… Agora sei tudo o que se passou na última guerra santa há seis anos atrás.

 

— “Então você se recordou da possessão e isso está te afetando, certo?” — suspirou — “Eu sei que vai soar clichê, mas lembre-se que tudo isso passou e todos estamos em paz, sem mais guerras entre deuses”.

 

— Meu irmão e Sorento constantemente falam algo do tipo, que eu superei e vou lembrar disso em breve, mas isso não diminui a dor. É como se tudo tivesse ocorrido…

— “Hoje. Diante de seus olhos” — completou — “Nós que estamos de fora do processo fica abstrato demais para mensurar o que se passa contigo. No entanto, por mais duro que seja, é importante que se recorde das coisas para que isso não fuja ao seu controle caso se depare com algum possível gatilho no futuro. Inimigos ou até mesmo desafetos podem usar isso contra você”.

 

— Eu compreendo isso. Eu agradeço por tudo o que está fazendo por mim, Dite — fez uma pausa tentando controlar seu tom emotivo em vão — Você é uma pessoa incrível e forte em mais de um sentido da palavra. Eu não sei se suportaria ter guardado de você o segredo de que éramos noivos por causa de uma amnésia.

 

— “Shun, não precisa agradecer por isso…”

 

— Eu preciso sim — o interrompeu — Eu ainda não me recordo de como passamos de adversários a noivos. De nossa primeira reaproximação e nossa intimidade. Só sei que gosto muito de ti e meu coração não consegue negar. Creio que possamos ser mais do que bons amigos com o meu retorno, caso queira, é claro.

 

— “É lógico que quero retomar de onde paramos, meu anjo” — seu coração estava cheio de felicidade com as palavras do virginiano, mas algo o deixou em alerta: como a relação deles começou — “Shun” — seu tom voltou a ser sério — “Não sei se o Ikki te adiantou algo, mas suas próximas sessões serão ainda mais desafiadoras”.

 

— Então algo pior realmente aconteceu depois da guerra? — perguntou preocupado — A minha intuição queria me dizer alguma coisa ruim, será isso?

 

— “Sim, infelizmente. Uma provação muito forte se pôs diante de ti após a guerra e isso desencadeou uma torrente que estava contida dentro de você. Apenas quero que se lembre que não esteve sozinho nessa e não estará agora” — tentava transmitir confiança — “É complicado para um cavaleiro de ouro se ausentar das doze casas, mas não é impossível. Alguns companheiros retornaram de missões nessa última semana e outros voltam após cumprirem seus castigos.”

 

— Isso quer dizer que você virá para cá também?

 

— “Shion me liberou para uma curta licença de sete dias. Não sei se será o suficiente, mas faço questão de estarmos mais próximos do que qualquer tecnologia possa permitir” — queria muito estar ali para abraçá-lo — “Shaka me passou uma lista para entregar ao Sorento nessa reta final. Ele gostaria de estar por perto, afinal vocês são mestre e discípulo, grandes amigos”.

 

— Mesmo que eu ainda não me recorde, eu sempre senti desde o momento que despertei naquele hospital que eu poderia confiar em vocês. Acredito que apesar da amnésia era possível sentir o calor dos nossos laços. 

 

— “É ótimo ouvir isso!” — o sueco sorria — “Espero conseguir ser liberado a tempo de chegar antes da sessão começar. Boa noite!”.

 

— Eu também espero. Boa noite!

 

 

A noite passou um pouco conturbada, pois apesar das palavras de conforto que recebeu, Shun teve alguns pesadelos por causa de suas últimas lembranças recuperadas. Ikki acordou rápido devido ao sono leve de seu estado de alerta. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, mas antes do leonino chegar o virginiano conseguia esconder a existência dessas crises para não alertar os anfitriões. No final, eles terminaram aquela noite abraçados na mesma cama.

 

O dia mal amanheceu e a Fortaleza Submarina estava recebendo Afrodite de Peixes como convidado. Ele trajava suas roupas civis, assim como os outros cavaleiros por estarem no território de outro deus do acordo de paz. Após cumprimentar respeitosamente os anfitriões, Afrodite deu um abraço forte em Shun e um aperto de mão foi dado em Ikki.

 

O quarteto se dirigiu até a área que Sorento fazia as sessões, um ambiente aberto rodeado pela natureza submarina. Shun se deitou sobre um banco reto de pedra e sua cabeça estava apoiada no colo de Afrodite dessa vez. Não demorou para que Sirene tocasse sua flauta e a música influenciasse o mais jovem nessa busca pelas lembranças perdidas.

 

— O corpo dele está mole — comentou ao ver o braço de Andrômeda pendurado — É sempre assim?

 

— É como se ele não estivesse mais aqui — respondeu Ikki — Eu sei que é estranho, mas em alguns minutos ele volta.

 

— Ele encontrou um fragmento de memória mais rápido dessa vez — disse o outro virginiano — Agradeço pelas anotações que Shaka enviou por ti, acredito que elas serão bastante úteis baseado no que Ikki me contou ontem.

 

— Então disse tudo à ele?

 

— Sim, Dite. Foi necessário — respondeu Fênix.

 

— Consigo ter uma dimensão maior sobre o que houve no pós-guerra. Não imaginava que as coisas piores, com exceção do incidente recente, tivessem acontecido. Eu lamento.

 

— Tudo bem, contar sobre o que se passou com meu anjo foi necessário. Precisamos ficar atentos ao despertar dele — o dourado retirava alguns fios da franja do jovem que cobria seus olhos para o lado — Creio que Shaka está certo quando disse nas instruções que era para fazê-lo adormecer assim que voltasse da sessão.

— Ele vai conseguir internalizar as ideias melhor pelo sono e refletir melhor depois — disse o austríaco — Mesmo tentando acalmá-lo depois com minha música era ruim demais vê-lo em estado de choque, isso estava ocorrendo sempre após recordar de suas batalhas.

 

— Agora ele se recordará de algo pior, pois foi meu irmão que causou esse próprio mal a ele mesmo. Sei que houve uma influência de outros fatores, mas não foi algo que se resolveu num piscar de olhos — relembra Ikki — Foi lento e duro na maior parte do tempo. Uma melhora de fato foi percebida de fato nos últimos dois anos.

 

— E a alta médica dele em definitivo foi recente — completou o sueco.

 

— Tem certeza que não pode usar essa água que a Pandora lhe deu agora?

 

— Infelizmente não, Sorento — disse com pesar — Ela foi bastante clara que era para usar somente para o último trauma. Usar isso agora apagaria muita coisa e outras nem fariam mais sentido na mente dele.

 

— Apagaria o progresso, como ele se sente em seus relacionamentos. Foi durante a recuperação que Shun pôde fortalecer seus laços com as pessoas que valiam a pena — refletia Afrodite.

 

— Compreendo a posição de vocês — respondeu — Acho que ele está despertando — colocou-se em postura para tocar sua flauta.

 

As expressões faciais do rapaz denotavam que ele estava despertando de uma espécie de pesadelo. Shun acordou sobressaltado e não conseguia dizer nada, sequer chorava dessa vez, o que deixou os outros três em alerta. Afrodite apoiava seu amor que agora estava sentado recostado em si. Já Ikki se prontificou a segurar a mão do irmão que estava trêmula, assim como podia se notar no restante do corpo. O general marina tocou sua flauta, mas parecia que o outro virginiano relutava em adormecer. Então Afrodite teve a ideia de dar uma rosa feita de cosmo que estava com pólen sonífero, o que funcionou.

 

— Adormeceu, finalmente — pronunciou-se o noivo — É melhor levá-lo ao quarto para descansar.

 

— Se quiser eu posso ficar com vocês!

 

— Talvez demore para seu irmão acordar, Ikki — carregava o rapaz no colo — Vejo que não tem dormido adequadamente por essas olheiras. Pode ir descansar que eu consigo cuidar disso. Você se lembra bem da dinâmica que fazíamos na clínica.

 

— Eu recordo sim. Está bem, eu vou conseguir dormir, pois sei que meu irmão será bem cuidado — o grupo caminhava junto — Pode me chamar se precisar de ajuda.

 

— Ok. Eu chamo — sorriu — E obrigado por tudo, Sorento! Posso dizer que somos gratos pelo o que tem feito.

 

— É um prazer poder ajudar em um assunto tão delicado — guardou sua flauta — Acho que com isso estamos criando laços de amizade com essa aliança, o que é ótimo para todos. Qualquer coisa também pode me chamar.

 

 

Horas se passaram até que Shun despertou com a reação que era esperada por Afrodite, começou por um choro contido que aumentou a proporção. Ele estava sentado encolhido com os braços agarrando as próprias pernas. O pisciano que estava ao lado e velava seu sono logo se prontificou a se aproximar e dar o abraço que o mais jovem precisava. Os dois ficaram assim por alguns minutos, nada foi dito até que Shun se acalmasse o suficiente para falar:

 

— Me desculpe, eu… — não tinha forças para continuar a falar.

 

— Não tem pelo o que se desculpar, meu anjo — acariciava sua cabeça delicadamente sem separar-se do abraço — É a sua história, nossa história. Os nossos caminhos se cruzaram pela primeira vez em uma batalha e pela segunda vez por uma quase fatalidade, mas vencemos tudo isso juntos com nossos amigos.

 

— Eu agora me lembro da dor, da depressão que me arrastou por meses até eu querer dar um fim em toda essa dor — se desfez do abraço para encará-lo — E você impediu. Acho que jamais esperaria que você me ajudasse, Dite. Mesmo sendo um companheiro cavaleiro, a nossa amizade sequer existia.

 

— Eu fiquei intrigado com o que acontecia em minha casa, mas jamais poderia ter te deixado naquele estado — segurou as mãos de Andrômeda — Foi aquele momento que mudou em definitivo as nossas vidas e eu preciso te contar mais algumas coisas. Eu preciso te preparar.

 

— Teve mais, não foi? — teve coragem de perguntar — Com tudo o que consigo me recordar no momento, eu não acredito que teria desistido dessa ideia tão facilmente.

 

— Teve sim, infelizmente outros gatilhos foram suficientes para que tentasse novamente outra vez e vai se lembrar disso. Também preciso contar algo que soube por Saori na época, a depressão na sua família é um traço hereditário e você a desenvolveu por causa de outros traumas que lhe acometeram, mas o último da guerra havia sido pior.

 

— Nem sei o que dizer… Fico péssimo com tudo isso. Sempre fui tão fraco assim e não percebi?

 

— Você é mais forte do que aparenta. Precisou lidar com tantas coisas que nenhum outro jovem sequer sonharia passar e já estava com catorze anos — encostava sua mão direita no rosto do japonês e lhe deu um beijo casto na testa — Hades havia sido um dos principais culpados pelo seu estado na época, pois quando foi o hospedeiro dele, aquele deus o trancou à força numa espécie de prisão mental com amarras que não o deixaram quando o sangue de nossa deusa o libertou. Então você foi muito forte por ter suportado por tanto tempo sem ajuda, mas alguma hora nós precisamos reconhecer que podemos ir mais longe e superar um problema com ajuda e foi o que você fez.

 

— Obrigado, Dite! Obrigado! — o abraçou apertado novamente por menos tempo.

 

— Agora nós precisamos nos alimentar e o senhor terminar de descansar. Que tal assistirmos um filme?

 

— Tudo bem — respondeu tentando se animar.

 

Notes:

Afrodite apareceu e nós estamos chegando na reta final. No próximo capítulo nós podemos esperar a recuperação das últimas lembranças de Shun e como ele vai lidar com isso.
Até a próxima!

Chapter 26: Capítulo 25 - A dor de saber demais

Notes:

Olá pessoal! Trago mais uma atualização dessa fanfic. Sem mais delongas, boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

A semana passou rapidamente e os avanços de Shun eram perceptíveis. Os piores momentos que datavam suas crises até seus dezesseis anos conseguiram ser administrados graças às técnicas de Sorento e Afrodite, além de bastante carinho e diálogo. Relembrar todo o mal que aconteceu deixou o virginiano mais jovem bastante sensível, mas ele tentava resistir aos sentimentos negativos repetindo uma espécie de mantra em sua mente: “Já passou, eu consegui superar e vou lembrar disso”. Com essa determinação, o jovem cavaleiro conseguiu finalmente chegar às suas lembranças do início de seus dezoito anos. 

 

— Essa semana foi bastante intensa, mas finalmente consegui chegar às lembranças de minha idade atual — estava animado — Então significa que acabamos?

 

— Ainda não, meu irmão. Até o momento você lembra dos acontecimentos até o seu aniversário de dezoito anos — suspirou alto — Existem coisas importantes que aconteceram até a primeira quinzena de outubro. Então teve o seu coma e você despertou do jeito que você sabe alguns dias depois.

 

— Primeiro nós vamos nos concentrar no que houve após o seu aniversário — disse o marina — Você tentará visualizar tudo o que aconteceu antes de sua última missão.

 

— A missão que me colocou nessa confusão?

 

— Não exatamente, meu anjo — Afrodite tentava explicar — Se recordar de tantas coisas de uma só vez lhe trouxe um mal estar nos últimos dias, esqueceu? Por isso estamos nos concentrando em pequenos blocos de seus fragmentos de memória, entende?

 

— Ok. Eu entendi, mas não estão me escondendo mais nada, não é? Por favor, sejam honestos sobre o que devo esperar. Eu consigo sentir uma apreensão em seus cosmos — franziu levemente sua testa.

 

— Sobre o período delimitado apenas espere boas surpresas — garantiu o pisciano — Confie em nós e preocupe-se com uma etapa por vez. Se ficar ansioso assim nossos planos não vão sair como o esperado.

 

— Acho melhor contar a verdade a ele, Dite — disse o cavaleiro de bronze — Olha, Shun, nada disso está sendo fácil para nenhum de nós, mas você tem o direito de saber.

 

— Tem certeza disso, Ikki? — Sorento perguntou preocupado.

 

— Tenho sim. Então, meu irmão, você vai se recordar da missão que fez pela aliança ao lado de Pandora e tudo terminou tranquilamente, mas depois…

 

— Eu sofri algum acidente na volta para o Santuário?

 

— Não. Você sofreu com uma traição de uma pessoa da qual julgava ser amiga e esse verme o colocou em problemas — o irmão mais velho apertava os punhos — Agora entendeu o porquê de nós querermos evitar esse assunto por enquanto?

 

— Então eu fiquei mal por ter sido traído por um amigo? — refletia — Imagino que tenha sido doloroso, mas comparado com o que lembrei que vivenciei, não acha preocupação demais?

 

— Não é excesso de preocupação, meu querido. Apenas siga nossas instruções e garantiremos que você vai ficar bem.

 

E assim, Shun finalmente conseguiu relaxar para a primeira sessão do dia. Ele estava ansioso para que aquilo acabasse e pudesse voltar para casa. Não é que recuperar suas lembranças pudessem garantir que seu emocional havia voltado ao patamar que estava antes de toda a confusão com o ex-discípulo de Camus acontecer, mas já dava uma ideia de que tipos de desafios o cavaleiro de Andrômeda enfrentaria nos próximos tempos.

 

A sessão terminou relativamente rápido e Shun despertou feliz, pois havia se recordado do pedido inusitado de casamento do sueco que estava ao seu lado durante tanto tempo. O trio estava aliviado com a expressão serena do caçula de Ikki e Sorento decidiu fazer uma pausa de uma hora para que seu amigo também regido pelo signo de Virgem pudesse ter tempo para assimilar e desfrutar dessa felicidade. Poseidon se comunicava com o seu leal general pelo cosmo e resolveu que assistiria a próxima sessão, pois sua intuição indicava que precisava estar presente.

 

No Santuário haviam outras pessoas que estavam com uma intuição forte acerca do que acontecia nos domínios de Poseidon. Shaka então conversava com Shion que estava chegando a hora.

 

— Eu confio que Ikki saberá quando agir a tempo com as águas do Rio Lete que Pandora entregou a ele — disse o patriarca.

 

— Eu não gosto de ficar conectado a esses aparelhos eletrônicos, mas eles são bem úteis para a comunicação. Recebi uma mensagem do Dite e eles estão fazendo uma pausa — terminava de ler — Meu pupilo está com o coração mais leve por causa das últimas lembranças, mas meu temor está no impacto de se lembrar de uma vida inteira cheia de traumas em pouco tempo. Sei que logo ele vai se esquecer das ações daquele covarde, mas e o resto?

 

— Tens razão, Shaka. Levaram anos para que Shun voltasse ao seu eixo e talvez sua autoestima não seja a mesma de antes da missão com Pandora.

 

— Depois de ouvir tanto o que as más línguas do Santuário diziam, a depressão dele piorou, estava mais arredio e distante.

 

— Fora a fobia social… Eu já cuidei daqueles dois, não irão mais incomodá-lo com comentários maldosos, mas o que isso impactou em Andrômeda fica difícil medir.

 

— Nós teremos alguma ideia quando ele retornar. Só espero que esse mal pressentimento não se cumpra.

 

— Eu também espero.

 

 

Na Fortaleza Submarina, o grupo se reunia novamente e dessa vez na presença de Poseidon. Shun estava deitado novamente se preparando para sua última sessão se desse a sorte, mas antes de começarem Afrodite decidiu falar brevemente com seu amado noivo:

 

— Meu amor, sei que agora está feliz e nós dissemos para se preparar para uma coisa de cada vez — voltava seu olhar para os olhos verde-esmeraldas — Sobre o que você vai se lembrar agora não foi culpa sua. Eu preciso que tenha isso em mente.

 

— O baiacu tá certo — disse Ikki — Meu irmão, não se culpe por nada que aconteceu. Foi uma traição covarde de um sujeito baixo e nós contaremos o que houve depois quando estiver pronto, ok?

 

— Ok. Eu estou pronto, Sorento — voltou a deitar confortavelmente — Vou confiar no que disseram.

 

 

O cavaleiro de Andrômeda estava novamente no interior de sua mente. O caminho que antes era iluminado, mas com um ar vazio deu lugar a um ambiente mais complexo. Seu subconsciente estava em alguns pontos iluminado e em outros era coberto por uma penumbra, o piso desnivelado era um problema, mas o jovem virginiano era persistente e seguiu sua intuição para a primeira tela que viu que começou a se iluminar.

 

Ele teve acesso a sua missão com Pandora e recobrou os momentos que passaram juntos. Estava contente, pois aquela foi a primeira missão em conjunto com a aliança que fizeram e foi um sucesso. Ao conseguir sair daquela tela a continuação estava logo na tela ao lado, era possível ver uma lanchonete que ficava no caminho do templo que pretendia visitar.

 

— Então será que foi aqui? — colocou a mão contra o peito um tanto receoso — Quem será que me traiu? — começou a pensar — Desde que eu despertei não consigo recordar de ter visto… será? Ele ficou longe por tanto tempo e era a pendência que eu queria tanto resolver. O que será que ele fez? — debruçou-se para dentro da tela.

 

Shun pode ver que sua suspeita estava correta. Hyoga foi a pessoa que o traiu e descobriu da pior maneira como. Sua memória estava um pouco confusa, pois havia sido dopado naquele dia e acordado dentro de um cativeiro com uma mulher misteriosa e um homem mascarado que descobriu se tratar do russo alguns dias depois. Sofrer na pele aquelas torturas em suas lembranças, trazia para seu corpo físico consequências danosas que não conseguia administrar, mas o pior estava se passando diante de seus olhos novamente.

 

— N-não! Isso não é possível que esteja acontecendo… ele não… — o virginiano estava tendo a perspectiva de seu lugar naquela cena grotesca — NÃO ME TOQUE! SOCORRO! — tentava se movimentar, mas nada poderia fazer, pois estava novamente preso naquele pesadelo.

 

 

O grupo estava preocupado, pois além da demora maior para o retorno, Shun demonstrava sinais físicos de colapso. A musculatura de sua face estava rígida e Afrodite se prontificou a verificar como seu amado estava.

 

— A respiração dele está fraca e a pulsação também! — disse preocupado — Ikki, cheque o coração, por favor! — tentava deixar o jovem em uma posição mais confortável.

 

— Os batimentos estão fracos! Eu juro que o vi tomar a medicação para a arritmia dele! — gritava desesperado — O que nós vamos fazer?!

 

— Deixe comigo, ele provavelmente está passando por uma parada cardiorrespiratória — disse o deus — Vou emanar meu cosmo para estabilizá-lo — os presentes começaram a sentir o cosmo poderoso de Poseidon — Essa arritmia dele não é comum, não acredito que Athena deixou isso passar assim. Vou precisar da energia de meu tridente — conjurou o objeto que apareceu na sua frente — Agora sim posso fazer algo a respeito.

 

Poseidon estava bem concentrado e não perderia tempo para salvar o jovem cavaleiro. Após quase uma hora o procedimento havia sido finalizado e o coração de Shun estava recuperado. No entanto, sua consciência estava demorando para ser recobrada, o que gerava uma insegurança no grupo.

 

— Precisa fazê-lo despertar logo, Sorento! — o irmão mais velho estava nervoso — Eu não posso dar esse líquido com ele desacordado!

 

— Vou tentar guiá-lo de volta com minha música. Seu irmão certamente ficou abalado com as suas últimas lembranças — voltou a tocar sua flauta. 

 

— Parece que ele está acordando — disse o pisciano — Shun?

 

O rapaz despertou quieto e agora estava sentado com a cabeça abaixada, muitas coisas se passavam em sua mente e tentava processar tudo o que havia visto e sentido. Estava estarrecido com a traição, o quão longe Hyoga foi por uma obsessão doentia por si. Shun se sentia tolo por ter acreditado que poderia recuperar a amizade do russo e ficarem bem. Seu peito subia e descia rapidamente com sua respiração acelerada e suas mãos foram ao rosto.

 

— Meu anjo, diga algo, por favor…

 

— Eu não consigo acreditar… Digam que foi um pesadelo, isso não pode ter acontecido!

 

— Infelizmente não posso atender ao seu pedido — o mais velho tentava acolhê-lo, mas o garoto se levantou para caminhar — Shun, fique aqui conosco! Temos um jeito de aliviar esse sofrimento!

 

— Como? Um velho amigo que tanto confiei, quase perdi a vida por ele… — estava tão magoado que nem se importava com as presenças do deus e seu general para confidenciar algo tão íntimo — Como ele pôde me sequestrar? Como ele permitiu que uma mulher insana fizesse todas aquelas coisas comigo? Como ele pôde me… — Afrodite foi rápido para impedir que a última palavra fosse pronunciada ao colocar seu dedo sobre os lábios de seu noivo.

 

— Shhh! Não continue com isso, por favor, só vai se machucar mais se o fizer — deu um abraço forte para transmitir a segurança que o outro precisava — Vamos conversar a sós um pouquinho, o que acha?

 

— Tudo bem, eu aceito.  Me desculpem por qualquer coisa… — curvou-se em respeito — Ikki pode vir conosco?

 

— Claro, meu anjo — os três começaram a caminhar — Aqui está bom?

— Vamos para a superfície? Preciso de um pouco de ar puro… parece que ainda sinto o cheiro de mofo — seu comentário não passou despercebido, mas os outros cavaleiros decidiram não comentar.

 

O trio então chegou até uma superfície rochosa e ainda estavam à beira-mar. O vento bagunçava os cabelos deles, mas aquele detalhe era meramente irrelevante, pois a atenção de Peixes e Fênix estava voltada à Andrômeda. Em momento algum queriam ser invasivos, esperavam o tempo dele para voltar a se comunicar. Ikki estava apreensivo e louco para utilizar o líquido que Pandora entregou, pois já havia visto aquele olhar antes em seu irmão e aquele não era um bom sinal. Apesar da ansiedade, Afrodite procurou esperar pacientemente que Shun retomasse a falar porque pelo o que conhecia de seu amado, se ele guardasse coisas demais dentro de si ficaria doente.

 

— Eu sinceramente não sei o que dizer… Não quero crer que aquilo foi real… — disse em tom baixo enquanto encarava o horizonte — Como isso foi acontecer? Por que aconteceu?

 

— Aquele desgraçado era um egoísta que não sabia o que era amor de verdade, meu amor — aproximou-se mais — Ele pegou a todos desprevenidos, ninguém esperava que algo tão terrível seria feito.

 

— No passado, ele deixou o Santuário numa espécie de remorso pelo mal que havia causado. Pelo menos foi isso que Shiryu disse para mim na época — disse Ikki apertando os punhos — Hyoga ficou fora do nosso radar e não nos deu problemas até tomarmos conhecimento sobre ele ser um dos responsáveis por seu rapto.

 

— Eu lembro que ele parecia tão arrependido por nossa briga… — seus olhos estavam marejados — Eu pensei que nós dois havíamos sido pegos pelos sequestradores. Eu não havia entendido quando aquela mulher disse que alguém queria somente a mim. Era ele o tempo todo… — sua voz saiu como um fio.

 

— Aquela mulher era uma deusa desconhecida e que não lhe fará mais nenhum mal — explicou Afrodite — Você não tem culpa sobre as ações perversas deles, você me entendeu?

 

— Uma deusa? Por que ela fez algo assim? Eu nunca a vi na vida, não batalhamos contra ela…

 

— É complicado de explicar, meu irmão. Soube que tinha alguma relação com a família dela e que ela queria fazer apenas um “teste”. Infelizmente você foi escolhido para esse experimento atroz.

 

O ambiente ficou silencioso por alguns momentos. Shun tentava processar o que havia acontecido a si e as explicações de seus entes queridos. Ele foi a vítima e nenhuma outra ação que tivesse feito mudaria essa equação, não havia a possibilidade dele saber ou desconfiar naquela época e precisaria aceitar aquele fato. Outra coisa passou por sua mente, suas últimas lembranças naquele inferno, como se sentiu após o ato grotesco do ex-cavaleiro de Cisne e o abrigo em seu inconsciente. A forma a qual passava por ali e quebrava todas as travas de sua mente, nenhuma dor conseguia ser maior do que a que sentia naquele momento. Recordou-se da armadilha perto da porta misteriosa e sentia que precisava conversar sobre aquilo.

 

— Shun, se eu disser que tem uma forma de esquecer o que esse desgraçado te fez, você toparia? — disse o leonino — Eu não quero ter que te forçar a fazer algo que não queira, por isso estou te pedindo porque eu acredito que vai conseguir se recuperar melhor.

 

— Eu me senti tão mal, tolo, sujo… Queria me livrar da dor, quis tanto que me perdi dentro da minha própria mente — divagava — Vocês não entenderiam. Lembrei que queria escapar daquele pesadelo e também escapar de um resgate… Eu fui fundo, várias armadilhas surgiram para impedir que eu conseguisse me esconder de todos. Até uma porta eu vi e queria atravessar, mas fiquei preso… como eu saí de lá?

 

— Sobre isso, Shun, fui eu junto de Shaka, nós entramos em sua mente e o encontramos próximo a porta — o dourado engoliu a seco ao se lembrar — Graças aos céus que você foi impedido de passar por aquela porta! — agarrou-o de repente em um abraço e depois suas mãos correram ao rosto do rapaz — Aquele seria seu fim, estaria morto, seria uma alma perdida sem um corpo.

 

— O quê?! — estava assustado — Eu não…

 

— Nós sabemos, maninho… Não é possível fazer com que se esqueça de tudo, isso o afetaria demais, mas você pode esquecer que aquele cara… — não conseguia completar aquela frase — Pandora mandou isso para ajudar, essas são as águas do Rio Lete modificadas com o cosmo do Imperador do Submundo. Até que enfim que aquele deus resolveu fazer alguma coisa que prestasse para se redimir do caos que causou em ti — suspirou rapidamente para retomar o foco — Desculpe, perdi o foco… Hades não virou meu deus favorito depois desse favor, mas esse gesto devo reconhecer que será benéfico a você.

 

— Obrigado. Eu sei que já precisei superar muita coisa e provavelmente mais aparecerão para superar, mas isso eu não consigo conceber — andou até o cavaleiro de bronze num meio abraço com Afrodite — Eu aceito beber essa água e esquecer…vocês devem saber… mas, antes eu preciso fazer uma coisa.

 

— O que, meu anjo?

 

— Precisamos voltar, eu preciso escrever uma carta a mim mesmo. Eu sei que vou sentir falta de uma explicação e nada melhor do que explicar com as minhas próprias palavras o motivo de eu decidir esquecer.

 

— Faz bem, Shun — bagunçou de leve o cabelo do caçula — Vamos voltar à Mansão Solo e enquanto arrumamos as nossas coisas, você escreve o que tiver que escrever para si mesmo. Pode ir no seu tempo, ok?

 

— Obrigado, gente — deu um sorriso mínimo e puxou Ikki para o abraço coletivo — Agradeço pela ajuda e por não terem desistido de mim inúmeras vezes.

 

— Nós nunca poderíamos desistir de uma pessoa tão maravilhosa quanto você, Shun! — disse o sueco tentando animá-lo.

 

— Não poderia ter dito coisa melhor, Sardinha — a Fênix o chamou assim porque sabia que arrancaria alguns risos dos dois e estava certo — Pelo menos consegui o objetivo de te ver sorrindo novamente.

 

— Conseguiu, meu irmão, mas ainda terei forças para realizar por mim mesmo em breve — disse esperançoso — Vamos? 

 

— Vamos! — disseram em uníssono e rumaram na direção da morada em que estavam hospedados.

Notes:

Sobre o estado de Shun durante o procedimento de Sorento que precisou da intervenção de Poseidon, eu me baseei numa parada cardiorrespiratória. Sendo que o que houve foi consequência da cura mal feita por Athena quando Shun foi levado ao hospital, a doença se confundia com uma arritmia e ficou sendo tratada com um tratamento paliativo, Poseidon o curou finalmente.
link: https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/parada-cardiorrespiratoria

Veremos mais sobre a recuperação de nosso querido virginiano no próximo capítulo. Até lá!

Chapter 27: Capítulo 26 - A recuperação

Notes:

Olá pessoal! Trazendo mais uma atualização para vocês! Só para avisar que esse será o penúltimo capítulo da fanfic e espero conseguir lançar o próximo em breve. Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Já era noite quando o trio de cavaleiros se despediu de Poseidon e Sorento. Eles expressaram a gratidão que sentiram pela hospitalidade e pela ajuda gigantesca que prestaram à saúde de Shun. O virginiano deixou para beber as águas do Rio Lete já em casa, queria ter aquele momento sozinho, mas Afrodite e Ikki estavam temerosos de ter uma recaída longe de seus olhos. Foi então que Shun decidiu que pediria a Shaka um espaço em seu jardim para tomar este elixir milagroso e meditar um pouco para conseguir organizar sua mente. Andrômeda sabia o quanto seu irmão e seu noivo estavam sobrecarregados por terem acompanhado suas sessões, mas que não dariam seus braços a torcer por o amarem demais. Então quis ficar com Shaka, pois sabia que seu mestre e amigo saberia respeitar seu espaço pessoal, ao mesmo tempo que o supervisionaria.

 

Ao chegarem ao Santuário, os três foram ver Shion e Ikki entregou o relatório que fez sobre o tempo que ficaram fora. Shun conversou pouco com o grande mestre, pois estava muito cansado e logo foi dispensado para a casa de Shaka. Já a conversa continuou no décimo terceiro templo.

 

— Então gente, eu sei que fizeram os relatórios que lerei depois e que Shun alegou estar bem, mas nós o conhecemos há tempo suficiente e dados aos últimos acontecimentos, não consigo confiar cem por cento nisso. Digam-me a verdade apenas, rapazes.

 

— Bom, Shion, meu irmão conseguiu recobrar todas as suas memórias, mas pelo intervalo entre essas lembranças ter sido curto, está difícil dele ficar realmente bem.

 

— Faço as palavras de Ikki as minhas — disse Afrodite — Sei que o acompanhei por menos tempo, mas estive perto durante a recuperação das lembranças mais difíceis. Eu vi o quanto ele tentou demonstrar ser forte, acredito que por nós, mas tudo foi muito duro para ele. Levaram anos para que meu noivo finalmente ficasse estável e levasse alta médica. Tudo isso para aquele maldito canalha… — apertou os punhos em sinal de nervosismo — Ele ruiu novamente, Shion.

 

— Shun está assim mesmo depois de ter tomado as águas que Pandora lhe deu, Ikki?

 

— A questão é essa, ele ainda não bebeu! Não entendo o motivo de tanta demora!

 

— O Shun ficou muito tempo agoniado por ter perdido suas memórias. Acredito que mesmo que as lembranças sejam péssimas, principalmente as últimas, ele precisa de um tempo e fazer isso perto da gente talvez seja…

 

— Difícil? — questionou Ikki — Nós já o vimos vulnerável e cuidamos deles diversas vezes, Afrodite. Qual será o problema dessa vez?!

 

— Shun precisa fazer o que tem que fazer sozinho — disse o ariano — Agora ele tem o conhecimento de suas experiências passadas, seus tratamentos médicos e seus treinamentos. Andrômeda tem que fazer isso por si mesmo. Nós sabemos o quão autônomo e independente ele foi até sua missão com Pandora. E creio que Shaka é a melhor opção para ficar por perto até que Shun consiga retornar ao seu próprio eixo.

 

— Tudo bem, farei como disse — fez uma breve saudação — Retornarei para Peixes e o esperarei até quando ele estiver pronto. Com licença.

 

— Vejo que não tenho outra opção mesmo além dessa, né? — Ikki estava inconformado — Voltarei para casa, mas me chamem pelo cosmo se precisarem de mim.

 

— Combinado, Ikki — disse o Grande Mestre — Agora vá descansar. Boa noite.

 

— Boa noite!

 

 

No Templo de Virgem, Shaka aguardava a vinda de seu querido pupilo. Ele já notava as presenças de Ikki, Shun e Afrodite de volta no Santuário e seus cosmos estavam em uma sintonia muito parecida. Não havia a tranquilidade desejada, mas sim uma inquietude que o indiano já cogitava que eles teriam. Resolver o problema da amnésia de Andrômeda não sanaria todas as outras questões acopladas por completo. Aquilo seria apenas a primeira etapa do processo de cura.

 

Quando sentiu a presença do virginiano mais jovem, Shaka se preparou para recebê-lo logo no início da passagem que dava para as escadarias para o Templo de Libra. Aos poucos pode notar uma silhueta se aproximando à luz pálida da lua. Shun carregava uma pequena mala com algumas peças de roupa. Seu cosmo estava pacífico, mas não com a ternura que sempre costumava acompanhar.

 

— Boa noite, mestre Shaka! — o cumprimentou quando se aproximou mais — Eu gostaria de me desculpar pelo meu comportamento anterior, imagino o quanto ficou descontente e…

 

— Não precisa dizer mais nada, está bem? — o abraçou rapidamente e em seguida abriu seus olhos para analisar de perto seu pupilo — Não precisa se desculpar, pois eu compreendo todo o contexto que o levou a tomar aquelas atitudes. Vamos ao jardim? Temos bastante coisa para conversar.

 

— Ok. Vamos — o mais velho pegou a mala e Shun apenas o seguiu em silêncio.

 

Os virginianos chegaram ao jardim e sentaram-se em frente às Árvores Gêmeas. O cavaleiro de bronze retirou seus sapatos e sentia-se entrando em contato com a natureza novamente por seus pés, isso sempre o ajudava. O silêncio foi rompido por seu mestre que disse:

 

— Foi uma longa jornada com Sorento, não foi?

 

— Realmente.

 

— Acredito que ele tinha a técnica mais adequada para lidar com seu caso. Eu refleti sobre o que eu conhecia e percebi que não poderia ter feito melhor, pois ou seria invasivo demais para ti ou não teria a efetividade esperada — ponderou — Você ainda se recorda de tudo?

 

— Sim, estou em posse de todas as minhas lembranças — podia se notar tristeza em sua voz — Dentro dessa mala tem algo que me ajudará a esquecer ao menos uma lembrança.

 

— Já sei do que se trata e creio que seja a melhor escolha, mas por que não fez isso antes?

 

— Eu já passei por um longo período sem lembrar de nada e ninguém, aquilo foi duro para mim — mordeu os lábios em sinal de nervosismo — Há semanas atrás eu sequer conseguia imaginar tudo o que houve em minha vida. Eu sei que não falaram tudo para tentar me preservar, mas não sei se ficaria bem ou realmente superaria o que houve. Por isso que eu decidi escrever para mim mesmo e ler quando estivesse pronto.

 

— Bem, consigo compreendê-lo melhor — sorriu orgulhoso da atitude dele — Já escreveu a carta?

 

— Sim, eu a fiz quando ainda estava na Mansão Solo.

 

— Então quer que eu lhe entregue a garrafa?

 

— Por favor.

 

— Se já conhece as instruções de como utilizar isso, pode começar — estendeu-lhe o recipiente após pegá-lo na bolsa de Shun.

 

— Obrigado!

 

Shun abriu a garrafa e aos poucos começou a engolir o líquido. Ele se concentrou em esquecer a violência sexual sofrida, pois sabia que era algo que nunca conseguiria superar em condições normais. O restante de sua infeliz experiência estava lá e teria que enfrentar esse novo demônio junto dos antigos que há pouco se recordara. A água milagrosa havia terminado e inicialmente o jovem cavaleiro sentiu-se fraco. Ele apoiou suas mãos no chão para frente do corpo e deixou a garrafa de lado, sua visão começou a nublar quando ouviu as últimas palavras proferidas por Shaka:

 

— Não resista, apenas durma. Você precisa descansar.

 

Não demorou para Shun ceder e seu corpo ficar mole, dando o sinal de que já estava adormecido. O indiano apenas o pegou e levou até o quarto de hóspedes o seu aluno. Internamente o loiro gostou de recordar o velho hábito, pois além de ser leve, Shun exalava uma aura muito tranquila quando dormia bem.

 

— Descanse bem, o amanhã sempre será mais desafiador do que o hoje — cobriu-o e logo voltou-se ao jardim. Como sabia que os outros estavam cansados, o cavaleiro de ouro teria que deixar a prosa para o dia seguinte.

 

 

Já havia amanhecido no Santuário e as notícias correm mais rápido do que o vento. Shiryu e Seiya sabiam que seu amigo havia retornado e podiam sentir o cosmo dele na casa de Shaka, mas apesar da ansiedade para rever Shun, eles sabiam que precisam ter calma, isso porque sempre que podiam se atualizavam da situação com Shion ou Shaka.

 

— A gente poderia apenas passar e dar um “oi”, sabe? — insistiu Seiya — Sei que ele ‘tá cansado do tratamento, mas nem quero ficar muito tempo para não atrapalhar! — resmungou — Tem quase dois meses que não o vemos, Shiryu!

 

— Então façamos o seguinte, já que teremos que treinar na arena e passaremos por Virgem de qualquer jeito, nós podemos perguntar a Shaka se o momento é o melhor para ver nosso amigo — ponderou — Que tal?

 

— Vamos fazer do seu jeito dessa vez, não quero ser expulso de lá do jeito difícil pelo Shaka!

 

— Ser expulso pelo Shaka pode ser doloroso no sentido físico da palavra, mas você se lembra como era ser expulso pelo Shun na época da clínica?

 

— Aquilo era bem pior… Espero que ele possa nos receber…

 

Assim os cavaleiros de bronze desceram as escadarias de Libra até Virgem e pediram para entrar. Diferente do que esperavam, Shaka aceitou recebê-los e o fez bem. Ele explicou que Shun já estava em seu jardim meditando para reorganizar suas ideias.

 

— Então chegamos em uma hora ruim? — perguntou o Pégaso.

 

— Não, Seiya. Sei que ele ficará feliz em revê-los, pois já faz bastante tempo que não se veem — guiou os dois até o cômodo — Shun, que tal fazer uma breve pausa para rever bons amigos?

 

— Obrigado, mestre — respondeu calmamente enquanto abria os olhos para vê-los — Seiya! Shiryu! É um prazer reencontrar vocês! — levantou-se para dar um abraço triplo — Estava com saudades!

 

— Nós também! — disse Seiya — Eu queria ter feito uma visitinha lá no fundo do mar, mas não fui autorizado — estava chateado.

 

— Seiya…

 

— Tá tudo bem, Shiryu! — o garoto sorriu — Eu estive bem ocupado durante esse tempo de tratamento e quando não estava fazendo as sessões, eu treinava um pouco ou descansava a maior parte do tempo. Essas coisas que envolvem a mente acabava me deixando bem esgotado apesar do treinamento que tive, mas eu não me recordava disso, então…

 

— Creio que sua preparação nos últimos dias estava um pouco melhor, certo? 

 

— Mais ou menos, mestre — respondeu — Mesmo eu tendo recordado do que aprendi ainda está muito bagunçado aqui dentro — apontou para a cabeça — Muito foi exigido do meu emocional, então não consegui aplicar seus ensinamentos, apenas segui as instruções do Sorento.

 

— Acredito que precisa de um tempo para refletir sobre tudo, não é? — perguntou o libriano — Nós daremos o espaço que necessita.

 

— Sim, Shiryu, eu preciso de um tempo. Preciso avisar aos outros sobre isso — suspirou profundamente — Entrarei em um estado de meditação contínua em breve.

 

— Tem certeza que está pronto para isso? Mal se recorda como se faz e seu corpo não está acostumado mais com esse tipo de coisa — alertou o virginiano mais velho — Não posso permitir que faça algo assim.

 

— Não abusarei dos limites do meu corpo, Shaka, pode ficar tranquilo — garantiu — Primeiro subirei até Peixes e falarei com Dite e Shion, depois irei até Leão falar com meu irmão.

 

— Se quiser eu posso chamá-los aqui. 

 

— Então chame apenas o meu irmão, por favor. Eu preciso fazer uma visita à Peixes.

 

— Faça como desejar — disse o indiano — Já que todos nós estamos de saída, vamos logo!

 

 

Shun não teve problemas durante sua subida até Peixes, até a passagem por Capricórnio foi tranquila, pois seu guardião havia saído para treinar cedo. Também pode sentir uma certa tristeza no cosmo de Camus quando passou por Aquário, apesar de não tê-lo visto pessoalmente. O rapaz teve a impressão de que o aquariano talvez quisesse falar consigo, mas ainda não estava pronto, ambos não estavam prontos.

 

Em Peixes, seu anfitrião estava encostado a uma das pilastras da entrada, apenas esperando seu amor para finalmente conversar com mais privacidade. Ao contrário do dia anterior, Afrodite estava mais tranquilo com relação ao noivo, isso porque conseguia saber o que Shun sentia pelo seu cosmo.

 

— Bom dia, Dite! — disse de maneira tímida, pois ainda estava pegando o jeito com suas relações após a recuperação de suas memórias.

 

— Bom dia, Shun! Entre, por favor! — se desencostou da pilastra e estendeu sua mão com um charme para que seu noivo a pegasse.

 

— Vamos! — sorriu ao pegar a mão dele e seguiram para os aposentos privados da casa.

 

Afrodite decidiu que o melhor lugar para os dois conversarem seria o jardim interno de sua casa. Aquele lugar sempre foi relaxante e as flores ficam lindas durante todo o ano por causa do pouco cosmo que seu guardião deposita nelas. Os dois se sentaram em um dos bancos do estilo praça e voltaram a conversar.

 

— Acho que agora estou pronto para termos essa conversa — o mais jovem suspirou.

 

— Tem certeza? — perguntou um pouco preocupado — Você mal recordou sobre tudo o que aconteceu em sua vida. Não acha que precisa de um tempo?

 

— Eu realmente preciso de um tempo e é sobre isso que vim falar — segurou as mãos de seu noivo mais próximo de si — Dite, eu realmente te agradeço por tudo o que fez por mim. Nossa relação é diferente da que tenho com Ikki e com nossos amigos — tomou fôlego para continuar, pois sua voz já estava embargada de emoção — Não consigo mensurar o quanto você tem sofrido e se sacrificado por mim ultimamente…

 

— Meu anjo, eu te amo e compreendo que toda essa situação não foi culpa sua. Não tem motivo para…

 

— Por favor, me deixe terminar. O modo que eu entrei na sua vida não foi dos melhores, primeiro como adversário e depois… bem, você sabe. Ao lembrar de tudo e sobre tudo o que ouvi, eu não tenho como não me sentir mal por te causar infelicidade.

 

— Você nunca me fez infeliz, não diga bobagens, Shun!

 

— Posso estar sendo precipitado pela enésima vez e é por isso que tirarei um tempo para meditar e por a cabeça completamente em ordem — levantou-se devagar do banco — Te deixarei livre se não quiser esperar mais por mim. Tire esse tempo também para avaliar nossa relação da forma que achar melhor.  

 

— Shun… — massageava as têmporas — Não me peça por isso, por favor. Eu espero o tempo que for necessário.

 

— Se for assim, mais uma vez, eu serei muito grato — abriu um sorriso sincero — Seu amor por mim é inquebrável e eu também nunca deixei de te amar, só não sabia que era esse sentimento que inquietava meu peito quando estava com amnésia.

 

— Um amor como o nosso não pode ser facilmente esquecido — abriu um sorriso largo — Fico feliz que tenha compartilhado essa informação comigo — segurou levemente o queixo de seu amado para dar-lhe um breve beijo — Nesse tempo que nos conhecemos e estamos juntos foi o suficiente para conseguir fazer uma leitura dos seus sentimentos. Sei que recuperou muitas memórias em um espaço curto de tempo, logo antigas inseguranças puderam surgir. 

 

— Eu lembro de ter superado, mas não consigo sentir isso — confessou — Acho que é como você disse — seguraram as mãos um do outro — Por favor, me espere só mais um pouco que eu preciso arrumar essa bagunça.

 

— Leve o tempo que precisar, meu anjo!

 

O casal deu um abraço demorado e um último beijo de despedida. Em seguida, Shun conversou melhor com Shion sobre sua situação e o patriarca foi bastante compreensivo. Como Athena não estava no Santuário aquela semana, o ariano iria avisá-la mais tarde. Apesar das saudades que sentia de seus amigos que ainda não reencontrou após o retorno de suas lembranças, o virginiano protegido pela constelação de Andrômeda sabia que precisava voltar cem por cento ao seu eixo para se permitir desfrutar de novas experiências. Então antes de seguir para seu longo período de meditação em Virgem, Shun precisou falar com seu irmão sobre isso.

 

— Logo eu estarei inteiro de novo. Confie em mim — sorriu — Consigo recordar de como fazer isso.

 

— Quanto tempo acha que vai levar?

 

— Sinceramente? Eu não sei, mas será o tempo necessário — os dois caminhavam até o jardim das árvores gêmeas — Agradeço por tudo que fez por mim, meu irmão. Agora isso eu preciso fazer sozinho.

 

— Só não se empolgue muito na meditação, tampinha — ria bagunçando os cabelos do mais jovem — Até breve!

 

— Até breve, Ikki! — deu um abraço forte de despedida e logo sentou-se na posição de lótus para dar início a meditação.

 

Shaka os observava de longe e estava orgulhoso de seu pupilo. Finalmente ele havia reaprendido a usar sua razão e estava utilizando do caminho da meditação para reorganizar as inúmeras informações em sua mente. Apenas iria acompanhar de perto o processo para garantir que ele não passasse dos limites de seu próprio corpo num exercício que exigiria demais de sua mente.

Notes:

Estamos chegando ao fim dessa jornada. Sei que estava para concluir esse mês, mas não deu.
Finalmente as coisas estão se acalmando e voltando ao eixo, né?
Abraços e até a próxima!

Chapter 28: Capítulo 27 - A paz almejada

Notes:

Sei bem que eu disse há meses atrás que esse seria o capítulo final, mas não deu!
Fiquei muito tempo travada nessa história para conseguir fechar o final e recentemente me dei conta de que estava escrevendo o penúltimo capítulo. Sem mais enrolações, boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Um mês havia se passado desde o retorno de Shun ao Santuário e esse mês quase inteiro foi dedicado à meditação. Shaka estava surpreso com seu pupilo, afinal foram muitos dias seguidos que ele não fazia nada além de meditar. Shun ficou na posição de lótus meditando sem pausas para comer, dormir ou qualquer outra necessidade básica. A influência de sua constelação guardiã não respeitava os limites do corpo de seu protegido, que queria muito reorganizar a própria mente, uma vez que estava a par de todas as informações. Andrômeda estava determinado a chegar no ponto de seu maior progresso em questão de saúde mental. Ele não queria que as pessoas queridas para si sofressem por mais tempo por sua causa.

 

Foi preciso que o cavaleiro de virgem interviesse uma vez durante a última tentativa do Amamiya se equilibrar. Quando pensou em fazer pela segunda vez, foi o próprio que interrompeu ao tombar de lado por pura exaustão.

 

— A teimosia é sua marca registrada, não é mesmo, Shun?

 

— Por…favor…mestre… — sua garganta estava seca.

 

— Eu sei bem o que você quer agora, já trouxe — o indiano se ajoelhou e apoiou a cabeça do pupilo lhe oferecendo a água que estava em um copo de vidro — Beba com calma.

 

— Obrigado.

 

— Queria fazer algumas perguntas, mas precisamos ir aos cuidados básicos primeiro. Você ultrapassou completamente os seus limites físicos e mentais por duas vezes. Espero que esteja satisfeito agora.

 

— Eu estou sim, mestre… — sua voz estava cansada e suas pálpebras mal conseguiam se manter abertas — Eu finalmente consegui…

 

— Ótimo! — o mais velho sorriu — Quer que eu chame o Dite dessa vez? 

 

— Eu não estou apresentável assim.

 

— Em comparação com outras situações, esta é uma das melhores do seu currículo, mocinho — se permitiu fazer uma piada — Seu noivo quer muito te ver e cuidar de você. Não faz ideia do quanto ele encheu meus ouvidos com perguntas e lamúrias durante esse mês. Queria tirar a fala dele, mas o compreendo.

 

— Mestre… — o mais novo não conseguiu segurar o riso — Então chame-o, por favor... Estou perdendo as forças…

 

— Adormeceu — suspirou — “Afrodite, ele finalmente está pronto. Venha buscá-lo em Virgem”.

 

 

Afrodite buscou o jovem na casa de Shaka e o levou para sua casa. Ele estava com pena de ter que acordar seu amado, mas seria necessário, pois o mestre dele explicou que ele havia apenas bebido um pouco d’água. Logo, Shun precisava de outros cuidados que não conseguiria realizar sozinho devido a debilidade em seu corpo e o cansaço em sua mente.

 

O pisciano delicadamente o chamou enquanto fazia carinhos em sua face. Mesmo sentindo suas pálpebras pesadas, Shun despertou com a mesma aura tranquila que emanava durante o seu período de meditação. 

 

— Shun, acorde, meu anjo — chamava-o suavemente — Sei que precisa descansar, mas precisa se alimentar.

 

— Dite… — sua voz soava baixa e um pouco rouca ainda — Me perdoe por demorar tanto, eu precisava…

 

— Eu sei disso, meu querido. Era muita coisa para organizar dentro dessa cabecinha — continuou a fazer uns cafunés pelos cabelos desgrenhados do virginiano — Nós acompanhamos de perto parte de sua luta, logo foi compreensível esse tempo que levou para se recuperar.

 

— Obrigado, meu amor — levou sua mão até o rosto do sueco que entendeu o convite para se aproximar mais e se beijaram. Foi um beijo plácido dadas as condições do cavaleiro de Andrômeda, mas isso serviu para aquietar os corações de ambos que experimentaram de um carrossel de emoções nos últimos tempos — Agora eu consigo explicar melhor o que aconteceu.

 

— Imagino sua urgência de falar tudo de uma vez, pois ficou um mês no mais absoluto silêncio, mas creio que mais meia horinha quietinho não vai fazer com que as palavras fujam de sua mente.

 

— Você venceu — abriu um sorriso — O que vamos fazer primeiro? — o estômago dele roncou alto em seguida.

 

— Acho que seu estômago já respondeu a sua pergunta — ambos riram — Vamos comer alguma coisa, depois eu preparo um banho bem relaxante e se você não dormir depois dele, nós dois conversamos. Combinado?

 

— Entendido! — Shun se colocou de pé para seguir até a cozinha, mas logo empalideceu ficando tonto.

 

— Foram muitos dias em meditação, o seu corpo está fraco, Shun! — bronqueou — Não deve fazer esforço! — pegou o rapaz no colo que logo enganchou seus braços ao redor do pescoço do pisciano.

 

— Desculpe. Depois de interromper a meditação, as ideias vieram em turbilhão. Nem pensei direito sobre o meu estado. Devo estar péssimo!

 

— Já te disse uma vez que você precisa se esforçar para ficar péssimo — comentou — Sei que negligenciou seu corpo em prol de uma causa, mas você voltou aqui e eu vou cuidar de você.

 

— Isso não é justo! Quase sempre é você que cuida de mim — inflou as bochechas.

 

— É que eu amo muito você, cuidar de ti é um prazer! — sorriu — Uma refeição maravilhosa e saudável nos espera.

 

Eles finalmente se sentaram à mesa para comer. Apesar da fome, o virginiano estava com muito sono e comia devagar. Afrodite o colocava a par das novidades do Santuário, pois sabia das possibilidades do noivo cair de cara no prato caso não fosse distraído eram grandes.

 

— Oh! Então os preparativos do casamento do Shiryu já estão quase todos prontos?

 

—  Para quem demorou tanto para pedir a mão da noiva em casamento, o dragãozinho resolveu se apressar nessa parte — comentou rindo — Kiki arrumou uma “crush”, acho que é assim que falam hoje em dia, né?

 

— Ele está só apaixonadinho ou já tomou alguma iniciativa? — riu — É difícil pensar no Kiki sendo um adolescente. Parece que ainda me lembro daquele tempo dele criança nos ajudando muito durante as batalhas.

 

— Todos crescem. Olha só você! Se me falassem no passado que o destino nos uniria romanticamente, eu não acreditaria — antes do mais jovem protestar, ele continuou — Você era muito jovem, Shun. Estava perdendo os seus traços infantis e se tornando um homem. Seu olhar límpido me deixou intrigado quando o vi pela primeira vez.

 

— Falando assim, eu também entendo. Romance era algo que não passava sequer pela minha cabeça. Primeiro a missão de proteger Athena e o mundo, depois veio a depressão… Enfim, muitas coisas tomaram a frente do amor romântico.

 

— Não vamos nos concentrar no que foi ruim, ok?

 

— Calma, Dite. Eu estou bem e posso conversar sobre isso sem me afetar — segurou sua mão sobre a mesa — Não tenho como passar mais tempo sem falar.

 

— Está bem, meu querido. Não acha melhor terminarmos essa conversa em outro lugar?

 

— No jardim, que tal? É um lugar que me traz serenidade — levantou-se devagar da cadeira e logo foi amparado por seu noivo, por precaução.

 

— Pronto — sentaram-se no banco de pedra próximo às roseiras — Pode contar o que se passa nesse coraçãozinho ansioso.

 

— Bom, por todos esses anos de convivência, você me conhece tão bem quanto o meu irmão. Nunca tive motivos para esconder algo de você e sempre fui honesto sobre o que eu sentia.

 

— Você apenas esconde alguma coisa por não querer incomodar ninguém, uma péssima mania que foi persistente em ti mesmo com amnésia — comentou.

 

— Verdade, apesar disso não ser mal intencionado.

 

— Eu sei.

 

— Eu entrei em crise e me desequilibrei várias vezes nos últimos meses. Estava no escuro e sei que tentaram me preservar, mas as coisas pioraram bastante e quando tive posse de todas as minhas memórias, muitas coisas dolorosas emergiram — mordeu os lábios em sinal de nervosismo — Sei que havia superado tudo antes de ter ficado refém daquela mulher e de Hyoga. Então eu segui em meditação até recuperar todo o progresso que tinha feito.

 

— Shun…

 

— Eu não suportaria a ideia de todos vocês que me amam estarem sofrendo novamente. Precisava fazer isso sozinho.

 

— Não precisava, meu anjo — tocava delicadamente a face de Andrômeda — Eu compreendo que era uma necessidade sua, mas poderia contar comigo, seu irmão e nossos amigos sempre.

 

— Bom, eu não vou dizer que não preciso de ajuda, pois tenho que lidar com a ideia de que fui enganado, sequestrado e torturado por quem eu jamais esperaria — precisava ser forte para dizer tudo aquilo — Por mais que eu tenha organizado a minha mente e saiba que nada do que houve depois da missão tenha acontecido por minha culpa, ainda sim…

 

— Você precisa ter um acompanhamento médico, é o recomendável — aproximou-se mais para um meio abraço — E o que mais esse coraçãozinho não pode mais esperar por um bom descanso para falar.

— Eu te amo, te amo demais! — olhava para o sueco com um sorriso que contrastava com lágrimas de felicidade — Essa foi a maior certeza que eu tenho!

 

— Eu também o amo demais! — roubou-lhe um beijo lento e apaixonado — Tenho pensado em você todo esse tempo!

 

— Eu não desejo esperar mais tempo para oficializar a nossa união. Nosso amor já passou por tantas provações difíceis e mesmo assim ele é e sempre será inquebrável de ambas as partes.

 

— Nós já somos um só, Shun. A minha felicidade é a sua, sua dor é a minha. Todos os momentos que compartilhamos, nos colocaram aqui hoje — o brilho nos olhos de ambos irradiavam o ambiente com amor — O papel somente oficializa nossa união e a bênção dos deuses dará a nós mais sorte e força para enfrentar o que quer que seja. 

 

— Então o faremos o mais rápido possível!

 

— Antes disso precisa recuperar as suas energias — pegou-o no colo e carregou-o até o quarto novamente — Sei que eu, e principalmente o Shaka, dissemos para você que nem sempre a vontade de sua mente prevalecerá sobre seu corpo.

 

— Com certeza, ele disse isso mais vezes do que você — riu.

 

— Então vá descansar e sonhe com o nosso dia especial. Quero dar as boas notícias junto de ti.

— Ok. Combinado — deixou se levar pelo sono em meio a um sorriso bobo e o mais velho não pôde deixar de sorrir, pois seu coração finalmente estava leve.

Notes:

O fim está próximo. Até logo!

Chapter 29: Capítulo 28 - Reconciliação

Notes:

Olá pessoal! Sei que já tem bastante tempo que não atualizo por aqui e também tenho noção de que avisei no capítulo anterior que esse seria o último capítulo, mas não será.
Muitas coisas aconteceram desde a última atualização, até cheguei a explicar um pouco em outras fics que consegui atualizar mais recentemente, mas deixarei para as notas finais.
Este não é o último capítulo porque decidi dividi-lo. Vi que não fazia sentido deixar na configuração que estava e acho que parte do meu bloqueio criativo se deu por isso. Toda história quando entra em reta final precisa deixar todas (ou o máximo) de lacunas preenchidas e aqui estamos com algumas delas.
Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Passaram três dias desde que Shun finalizou sua mais longa meditação.  O jovem virginiano terminava de recuperar suas forças tendo Afrodite ao seu lado. Claro que ele não escapou de receber algumas visitas nesse meio tempo, mas boa parte de seu dia passava dormindo.

 

Quando ele se recuperou, o casal fez questão de formalizar suas intenções sobre o casório. Shiryu até cogitou a ideia deles aproveitarem e realizarem um casamento duplo, mas os noivos tinham outros planos em mente. Oficializar a união no país natal do pisciano, onde as relações homoafetivas são legalizadas. Saori permitiu que eles saíssem em viagem após o retorno de Shiryu, mas na condição que ao menos houvesse uma celebração simbólica antes da partida deles.

 

Shun sabia que haviam pendências para serem resolvidas. Passar por um novo tratamento psicológico era algo que estava fora de seus planos, quando há meses atrás tinha recebido alta médica. Lidava com um novo trauma e apesar de estar ciente de que quem praticou tamanha maldade não teria outra oportunidade para fazê-la, as sequelas estavam ali para serem tratadas.

 

Havia uma conversa que não poderia mais ser adiada. Camus de Aquário, mestre de Hyoga, queria falar consigo, mas antes não estava apto pela amnésia e em seguida por ter tentado organizar suas lembranças quando as recuperou. A dificuldade da conversa não vinha do interlocutor virginiano, mas sim do mais velho. Shun tinha uma boa relação com Camus, até mesmo na época que o antigo Cisne havia o machucado tanto. Ele se desculpou e trouxe palavras amigáveis.

 

— Entre, por favor — ouviu a voz do Santo de Aquário — Estava à sua espera.

 

— Bom dia, senhor Camus.

 

— Nós não precisamos dessa formalidade, ok? Sei que antes você não estava em condições e eu também não estava. Então, sente-se, por favor, para começarmos — apontou para o sofá de sua sala — Aceita um chá ou café?

 

— Aceito o chá — respondeu timidamente. Ambos estavam tensos — Acalma os nervos — completou. 

 

— Sei o quanto esta posição é desconfortável para nós dois — disse o anfitrião da casa — Volto logo.

 

O aquariano voltou com uma bandeja e colocou-a sobre a mesinha de centro. Em seguida, se serviram até Shun interromper o silêncio.

 

— Podemos iniciar essa conversa. O assunto é delicado e nos afeta de maneiras diferentes.

 

— Certo — suspirou — Eu me sinto mal com essa situação toda. Hyoga foi como um filho para mim. Uma responsabilidade que assumi muito jovem e creio que talvez não tivesse a maturidade necessária — depositou a xícara sobre a mesa e continuou a falar em tom sério — Sabe, Shun, eu não sei a idade que seu mestre tinha quando o treinou, mas todos do exército de Athena nessa era começamos muito jovens. Posso ter sido excelente ao ensinar as técnicas de luta, estratégias de combate, mas quanto aos valores…

 

— Eu tenho certeza que você fez o seu melhor por ele — tentava expurgar a culpa do coração de Camus — De nós cinco, Hyoga teve a sorte ou o infortúnio de ter convivido mais tempo com a própria mãe. Lembro ainda da época do orfanato, das coisas que ele contava sobre ela, das lições que ela tentava passar.

 

— Em questão de relacionamentos, todos nós ficamos mais bem resolvidos quando nos tornamos adultos. Desde quando fui revivido, tentei reconstruir os laços com ele. Conversamos sobre mais sobre a vida, os sentimentos, mas nos afastamos depois do incidente contigo há quase quatro anos atrás.

 

— Eu não queria ter sido o pivô do afastamento de vocês — disse triste — A culpa foi minha.

 

— Não, Shun. Precisamos pontuar o que foi responsabilidade do Hyoga. Eu errei em pensar que com um tempo sozinho, ele passaria a refletir sobre o que sentia e buscaria uma forma de reparar a relação de vocês. As palavras que ele te disse foram duras demais e tiveram um efeito nocivo em ti. 

 

— Pelo visto ele não soube aproveitar esse tempo… Quando nos reencontramos no Japão, eu pensava que ele tinha mudado, que queria se desculpar sinceramente e retomar nossa amizade que era boa e tão antiga…

 

— Eu pude ver tudo o que houve no reencontro de vocês dois, ouvir os pensamentos dele, as intenções e só havia perversão, podridão até o final. Quando eu e Shaka saímos da mente dele foi horrível! Eu vi que o havia perdido ali e Shaka temia em te perder, pois aquilo foi mais doloroso e perverso do que a época da última guerra santa. 

 

— Por acaso nossos amigos contaram que eu não me recordo mais do ato grotesco cometido por ele?

 

— Afrodite me contou. Foi a melhor decisão que pode tomar para o bem da sua saúde mental.

 

— Sim, mas não pude esquecer o restante das coisas que aconteceram lá — sua respiração estava pesada — Pensar que uma pessoa que considerei tanto me apunhalou dessa maneira foi doloroso demais — as lágrimas teimam por deslizar por seu rosto — Não consegui verbalizar isso com os outros. Lembrar dos outros detalhes me fazem ter dificuldade de ligar o Hyoga que conheci e foi meu amigo, com o que fez tudo aquilo. Eu o perdoei, Camus, pela nossa briga no passado que me fez tão mal. Pensava que era o único assunto pendente que eu tinha para resolver, mas se soubesse…

 

— Entendo que precisa botar todo esse sentimento para fora, mas, por favor, Shun, não se martirize mais por coisas que não possui responsabilidade — suspirou — Enquanto você estava com amnésia, eu mal conseguia olhá-lo, lembra? Pedi uma licença para Shion, pois precisava colocar a minha cabeça no lugar. E foi isso que você fez também no último mês, certo?

 

— Sim. Pelo menos eu tentei. Não queria perder todo o progresso que eu havia feito antes da confusão acontecer.

 

— Tenho certeza que nós dois queríamos que a situação fosse diferente. Eu o queria por perto e você a amizade dele de volta, mas não conseguimos. Para mim foi pior saber que não houve arrependimento pela parte dele e sequer cumpriu a pena que nossa deusa o incumbiu. Tinha esperança na regeneração dele como pessoa, pois sabia que jamais voltaria a ser um cavaleiro — voltou ao seu chá — Sei que nunca vamos esquecê-lo, mas ao mesmo tempo não desejo que meu antigo pupilo seja uma sombra em nossa relação. Da mesma forma que houve o incidente entre vocês anos atrás, sempre estive disponível para você como um amigo. Não espero que seja diferente desta vez.

 

— Claro, Camus, nada entre nós mudará. Tenho muito respeito e carinho por você — levantou-se — Posso te dar um abraço? — o aquariano deixou sua xícara sobre a mesinha e retribuiu o gesto ao estender os braços para um abraço sincero.

 

 

Em um local distante, Lana passava seus dias presa, cumprindo uma pena longa para qualquer ser humano, ínfima para uma deusa. Passaria por muitos dias de tédio, seria mais fácil se estivesse selada, adormecida, mas assim não aprenderia sua lição. Nêmesis a visitava às vezes, conversavam amenidades, falavam sobre o mundo humano.

 

— Ainda a procuram por seus crimes, mas o tempo passará e esse caso ficará no esquecimento.

 

— Mesmo sendo bastante tedioso, o tratamento que recebo aqui é um pouco melhor do que receberia lá.

 

— É uma deusa olimpiana agora e está sendo punida como uma.

 

— A deusa do falso amor. Um péssimo título.

 

— Pode não perceber, mas sua função faz sentido desde a sua concepção. Você foi fruto de um amor unilateral, a obsessão de seu pai. Suas ações foram pautadas no desamor pelo próximo. Fizeste um homem iludido acreditar que teria um amor à base da força.

 

— Eu sei tudo que fiz. Queria entender a importância desse título.

 

— Quando descobrimos que um amor não é de verdade, nós voltamos a busca por um verdadeiro — disse uma voz masculina que entrara no recinto — Eu preciso te pedir perdão, minha filha.

 

— Hefesto?

 

— Finalmente ouvi meu coração e vim te procurar, Lana — aproximou-se das grades — Você não tem culpa do que houve entre eu e sua mãe. As minhas intenções não foram as melhores. Estava cansado de ser traído e de ver os frutos dessas traições andando pelo Olimpo como se não fosse nada de mais. 

 

— E eu já confessei que provoquei a ideia péssima dele se vingar de Aphrodite— disse Nêmesis — Eu inspiro o desejo de vingança em pessoas e deuses também. Não foi apenas a humanidade que evoluiu de pensamentos, nós também nos arrependemos do que fazemos às vezes.

 

— Acho que terei bastante tempo para avaliar tudo o que fiz para me arrepender.

 

— Com certeza terá, minha filha, mas não estará só.

 

— Quem?

 

— Aphrodite? — Hefesto disse surpreso.

 

— Sei que muito tempo passou e que não recuperaremos o tempo perdido. O que Hefesto fez contra mim foi violento e imperdoável, mas você nunca teve culpa sobre isso, Lana — a bela deusa se aproximou dos demais — Eu confesso que minhas decisões erradas me levaram a lugares ruins. Deveria ter recusado me casar com Hefesto, ao invés de aceitar e traí-lo inúmeras vezes. Eu compreendo a sua raiva, mas não perdoo o que fez.

 

— Eu me arrependi do que fiz ao ver a sua dor, Aphrodite. Não conseguia te ver, Lana, pois lembrava da dor que causei a sua mãe.

 

— E eu tampouco consegui criar uma criança fruto de uma violência. Por isso a doamos para Nêmesis.

 

— Infelizmente não consegui te criar fora de todo o estigma que a cercava, menina.

 

— Olha, eu fico feliz em ter a presença de todos aqui e que estão se abrindo sobre a situação, mas por que agora? O tempo para nós é infinito, diferente dos humanos. Mesmo assim foi doloroso crescer e conviver com o fato de que sou o fruto de uma vingança. Nunca fui aceita até cometer um crime contra o subordinado de uma deusa. Tanto mal que já fiz em minha existência, o que mudou?

 

— O choque — disse a genitora — Pode ter feito várias coisas ruins para a humanidade. Acho que todos nós já fizemos em nossas juventudes, alguns ainda o fazem.

 

— Aprendemos com nossos erros. Temos mais tempo para pensar sobre isso do que os homens — disse a deusa da vingança.

 

— Isso é verdade — concordou Hefesto — Nós ainda temos a eternidade para resgatar nossos laços, Lana. Sabemos que sua pena é longa para os moldes humanos, mas sempre que eu puder virei para te ver.

 

—  Eu digo o mesmo que Hefesto. Sei que vês Nemesis como sua mãe verdadeira e talvez nunca me enxergue como mais do que sua genitora, mas pelo menos a sua amizade eu gostaria de ter.

 

— Agora você está vivendo da colheita das sementes ruins que semeou, minha filha — tocou as barras da grade — Mas, tem sorte de ter conseguido colher um pouco do trigo em meio ao mar de joio. Não gostaria que fôssemos um mero prêmio de consolação, mas conte conosco para fazer dessa pena menos solitária.

 

— Eu agradeço por isso — disse a detenta — Não será tão fácil. No entanto, acredito que possamos construir novos laços. Espero que quando essa pena merecida terminar, que nós façamos algumas coisas que já presenciei as famílias na Terra fazem e que eu sempre invejei.

 

— Terá bastante tempo para refletir sobre seus erros e fazer novos planos, minha querida — Nêmesis disse em tom amável — Hefesto, Aphrodite, nós precisamos ir agora. Acabou o tempo de visita.

 

— Até breve! 

 

— Até! — acenou para eles antes de retornar a sentar-se no banco de pedra — “Acho que o destino tem um jeito torto de fazer as coisas. Nunca imaginei em tê-los reunidos aqui por mim” — pensou — “Além do carinho que senti pela primeira vez dos meus pais, só consigo pensar que tenho um caminho de redenção a trilhar. Ficar presa aqui esperando o tempo passar não é nada produtivo. A mentalidade precisa mudar também”.

Notes:

Este capítulo teve seu foco nas relações, Shun e Camus, Lana e sua família complicada. Foram conversas importantes para o desfecho dos personagens.
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Antes de me despedir, preciso esclarecer sobre o meu sumiço nessa obra. Uma parte já adiantei nas notas iniciais que foi o bloqueio criativo. Sou uma pessoa perfeccionista e tento dar o meu melhor em tudo o que faço. Se sei que não estou me sentindo capaz no momento, eu dou um tempo.
Comentei em outra fanfic minha que eu iria fazer uma cirurgia (isso foi no início do ano). Então, eu fiz e já me recuperei. Ficava doente semana sim, semana não (ainda estou assim :/ ). O trabalho não estava me dado muita trégua e quase sempre me sinto exausta. Algumas ideias sobre as histórias até passam pela minha cabeça, mas estava difícil de me concentrar para escrever.
Também passei por desilusões dolorosas dentro desse fandom e pensei muito em desistir de tudo isso aqui, esse foi um dos motivos pelo qual tive um bloqueio criativo muito forte que durou meses, mas o incentivo de alguns leitores me motivaram a voltar aos poucos. Tenho muitos projetos para fechar, eu sei, mas levará tempo. Não desistam de mim, ok?
Agradeço muito ao apoio em todas as redes que publico minhas fanfics! Até o próximo capítulo!

Chapter 30: Capítulo 29 - União (final)

Notes:

Olá, pessoal! Tudo bem? Sei que ando sumida e parecia que eu iria desistir dessa fanfic, mas felizmente posso dizer que voltei e ela será finalizada. O capítulo pode estar curto, mas foi o melhor que pude entregar depois de tempos de bloqueio criativo e emocional.
Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Passados meses desde o casamento de Shiryu e Shunrei. No Santuário as coisas seguiam com seu curso normal. E a cooperação entre os três principais deuses regentes do planeta estava perfeita. Muitas missões eram feitas em colaboração dos três exércitos, o que auxiliava primeiramente nos problemas “ocultos” aos olhos dos civis.

 

Lana e Hyoga cumpriam com suas condenações, cada um à sua maneira. A deusa, apesar de presa, finalmente estava recebendo aquilo que sempre a fez falta, que era o carinho dos pais biológicos. Eles tinham o direito de visitá-la uma vez por mês, assim como Nêmesis, que era sua mãe de criação. E os três decidiram visitar em datas diferentes para não haver indisposição entre eles. Já a alma de Hyoga não aguentava mais todas as torturas às quais era submetido. Pedia clemência, que destruíssem de vez sua alma para que deixasse de existir. Hades, logicamente não se deixava levar pelos lamentos do aquariano. Faltava muito tempo para que pudesse se redimir de seus atos para que talvez tivesse a chance de reencarnar. Ele precisava se arrepender genuinamente pelo mal causado à Shun. Coisa que ainda não aconteceu.

 

Ikki e Pandora finalmente assumiram seu namoro em público pouco tempo depois do casório do Cavaleiro de Dragão. O que começou como uma simples rede de cooperação para o resgate do irmão dele e amigo dela geraram faíscas e o amor inegável. Provavelmente seriam os próximos a se casar, depois de Shun e Afrodite e esperavam pelas bênçãos de Athena e Hades.

 

O jovem virginiano e o pisciano finalmente marcaram a data de seu casamento na Suécia, terra natal do Cavaleiro de Ouro, pois as uniões homoafetivas apenas tinham o valor reconhecido lá, diferentemente do Japão. Ambos estavam ansiosos por esse momento, principalmente Shun por ser mais novo. Estavam se arrumando em quartos diferentes, por causa da tradição de não poderem se ver vestidos de noivos antes do casório. Um juiz de paz foi chamado para realizar a parte cível do casamento e a deusa Athena iria dar sua bênção logo em seguida.

 

O sol dourado da tarde banhava suavemente o belo jardim sueco, criando uma atmosfera calorosa e acolhedora para o casamento de Shun e Afrodite. Os aromas das flores perfumavam o ar, enquanto uma suave brisa dançava entre as árvores, trazendo consigo a promessa de um novo começo.

 

No centro do jardim, um arco decorado com flores delicadas e fitas coloridas esperava para receber o casal. As cadeiras dispostas em fileiras formavam um corredor adornado com pétalas de rosas e folhas verdes, conduzindo ao altar onde um juiz de paz aguardava, pronto para oficializar a união.

 

Afrodite foi o primeiro a caminhar em direção ao altar de braços dados com Athena, sua deusa. Já Shun, veio em seguida acompanhado de seu irmão mais velho, Ikki. Ambos utilizavam belíssimos ternos brancos. Afrodite com seus longos cabelos soltos e Shun com seu cabelo preso em um rabo de cavalo, o que valorizou ainda mais seu rosto jovial e seu olhar apaixonado.

 

Na hora de fazer os votos, Shun começou primeiro dizendo:

 

— Dite, meu amor, desde o nosso reencontro no Santuário e o que viemos construindo desde aquele momento difícil em minha vida. Você se provou inúmeras vezes que me amava. Um amor que começou com uma singela amizade e evoluiu tanto, passando por tantas provas e finalmente conseguimos estar aqui hoje. Sou muito grato e para sempre te amarei.

 

— Shun, dissestes palavras tão bonitas! — sorriu o cavaleiro dourado de peixes — Para complementar, eu preciso dizer o quanto você é único e especial em minha vida. Existiram dois Afrodites, um antes e outro após te conhecer. Você me ajudou a me tornar a melhor versão de mim mesmo. De ter forças para superar obstáculos que sequer imaginaria. Cuidarei de ti como sempre cuidei, como uma bela e rara flor de meus jardins. Até quando estava sem suas lembranças, seu coração já dera inúmeros sinais de que me amava. E também foi por isso que eu te amo ainda mais. Não importa o que vier daqui para frente. Eu sei que o nosso amor, de fato, é inquebrável.

 

Após expressarem seus votos sinceros de união. O juiz de paz declarou-os oficialmente casados e o casal selou a união com um beijo cheio de ternura e amor.

À medida que o sol se punha no horizonte, o jardim se encheu de aplausos e sorrisos, celebrando o verdadeiro amor de Shun e Afrodite, agora unidos não apenas pelo matrimônio, mas pelo poder do amor inquebrável que eles compartilhavam.

Notes:

Agradeço a todos que puderam acompanhar essa história até o fim e a todos que me incentivaram a continuar apesar de tanta coisa estar acontecendo na vida pessoal desta autora que vos fala. Obrigada e até a próxima fanfic!

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